A POESIA MARGINAL

Chega pelo Orkut, remetido pelo autor – com um abraço saudoso e o pedido de análise – o texto de um jovem poeta residente em Torres, cidade turística situada no Litoral Norte, a 200 km de Porto Alegre, capital do RS, onde atualmente me encontro preparando novo livro. De pronto, vamos à obra:

“SEM PERGUNTAS

Igor Stefano

Nem afirmações...

Elas oferecem

não pedem como as putas que dão...

Assim talvez seja bem melhor

pra que não haja dores nem rancores no caso

Apenas um prato, ou meros reais na mesa,

uma comida ou cachaça já basta.

Serviço completo bem feito tem clientela...

Até carinhos ela faz e sem perguntar já fez toda cidadela.

Camisinha pra isso, guri sem compromisso...

Putas são moças puras, sinceras e incorruptas.

Dão até bunda e boca

pra uma carteira louca na fissura.”

– pelo Orkut, em 22Set2010.

"SEM PERGUNTAS" é um poema interessante: “underground”, marginal, como vários exemplares da poesia de Igor que conheço. Lembra Gregory Corso, Jack Kerouac e Allen Guinsberg, da geração beat americana da década de 60, séc. XX.

Transpira algo que se alia ao pensamento dos malditos como Arthur Rimbaud e Charles Boudelaire, entre os franceses.

Trata-se de uma peça bem estruturada dentro destes cânones inusuais, poucos encontráveis na contemporaneidade poética brasileira. Os vocábulos escusos (para os conservadores) estão coloquialmente utilizados e não realçam falta de consideração para com o leitor casto, avesso ao pejorativo.

Gosto do ritmo do poema, o qual tem a sua estrutura rítmica assentada na consonantal "esse".

A última estrofe trata com realismo e humor um assunto em que poucos se aventuraram, ao menos por aqui, salientando-se a arte poética de Celso Gutfreind em “Hotelzinho da Sertório”, 1991, e o herdeiro do poeta francês Mallarmé no RS, o poeta Luiz Sperb Lemos, com “as gurias da pensão da Lélia”, no livro “Com Firma Reconhecida”, publicado no final da década de 70.

Todos os autores citados se aventuram fora da rota convencional, comportadinha, construindo uma Poesia à margem do lirismo amoroso ou social, mergulhando no rio das contemplações fora do costumeiro, à margem do lugar comum da vida, sendas da Poesia Marginal.

– Do livro DICAS SOBRE POESIA, 2009/10.

http://www.recantodasletras.com.br/ensaios/2517560