A FAMÍLIA DE HOJE
A família de antigamente, classificada como tradicional, herdada da família europeia, tinha como figura central o pai que era detentor do poder financeiro, disciplinador e autoritário, deixando para segundo plano a mulher e os filhos.
Estamos ainda num período de transição entre a família tradicional e a família contemporânea, onde as famílias sofrem transformações por um lado positivas que é a divisão de responsabilidades, a participação cooperativa das partes, a igualdade de direitos, a valorização da mulher como ser pensante e capaz. Por outro lado, muitos pais se encontram perdidos com relação aos limites e ao que cobrar de seus filhos, as mulheres saem para trabalhar fora e se tornam independentes, podendo agora escolher se querem ou não continuar casadas, podendo alterar a estrutura familiar. Essa dupla jornada resulta em falta de tempo para si e para a família, a atenção agora não pode ser total e consequentemente, não conseguem mais acompanhar como antes os passos de seus filhos. Essa é uma fase de adaptação e aquele modelo tradicional de família cada vez mais fica para trás.
Os pais que trabalham, de modo geral, acabam de uma forma ou de outra abandonando seus filhos com os avós, em uma escola, ou nas mãos de empregados estranhos. Sentem-se culpados por serem obrigados a trabalhar para prover o sustento e conforto da família e se distanciam de seus filhos, deixando de participar da vida escolar e do próprio desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança, esquecendo-se até da orientação de princípios essenciais para a formação da personalidade dela. Acabam assim, quando têm tempo, fazendo tudo o que os filhos querem, a ordem é não contrariar, para compensar o distanciamento imposto pela situação.
Esses pais tendem a confundir os limites que devem impor a seus filhos, acabam legando essa função a terceiros, o que deixa a criança confusa, sem saber a quem obedecer, desnorteada com relação ao que é certo ou errado, acaba criando suas próprias regras de conduta, baseada em interesses próprios e até em exemplos que considera interessante. Alguns pais acham que a escola além de formadora deve também educar seus filhos para a vida, não sabem o que fazer quando chamados para ajudar os professores nesse processo de formação. Alegam que não sabem mais o que fazer, que não conseguem controlar seus próprios filhos, que fazem o que querem, na hora que querem e como querem. Percebo que quem manda são os filhos e não os pais.
O que devemos perceber é que podemos conciliar a agitada vida moderna com as obrigações de pais responsáveis, podemos organizar nossa vida de forma a separar um tempo por dia para dedicarmos à família, nem que seja um diálogo durante o jantar; precisamos diferenciar o que é essencial do que é supérfluo. A relação familiar e o interesse pelo que acontece com o próximo nunca pode ser deixados de lado e o vínculo afetivo nunca pode ser substituído por vínculos materiais, devemos deixar claro para nossos filhos o que se espera deles, distribuindo deveres e responsabilidades, mostrando o que é certo e o que é errado, principalmente através de bons exemplos.
Eu, como educadora, acredito que os laços familiares são muito fortes e sempre serão, porque o amor fortalece qualquer relação e o bem querer torna indispensável a interação positiva desses pais na vida escolar e afetiva de seus filhos, de uma forma ou de outra.
Paulo Freire dizia que os pais ensinam seus filhos a “ler o mundo”, antes mesmo de a escola ensiná-lo a ler; e é essa parceria que resulta em cidadãos críticos, responsáveis, capazes de tomar decisões, independentes, que serão os pais de amanhã, provedores também de conhecimentos e de sentimentos.
Precisamos criar um modelo equilibrado de família contemporânea, levando em consideração o que deu errado no passado, para que não seja repetido e aproveitando as boas experiências, tendo como base o amor e utilizando o bom senso como referência de equilíbrio e sustentação.