Que significa ser educador hoje?

A pertinente pergunta “o que significa ser educador hoje?” traz em si mesma a afirmação de que, outrora, ser educador teve outro significado. Ou, pelo menos, foi concebido com um sentido diferente daquilo que entendemos que deva ser o seu significado atual. Vou ignorar a afirmação que é parte da pergunta para me deter unicamente a filosofar sobre o que significa ser educador hoje. Na verdade, ser educador nos tempos de hoje é viver o paradoxo de sonhar com aquilo que se deseja ser, mas, ao mesmo tempo, ter de ser aquilo que é possível e permitido ser, agora, por mais que o mundo pareça ter parado de girar.

Ao viver o extremo de sonhar com aquilo que se deseja ser, sonhamos com pessoas livres, transformadoras, abertas ao diálogo, capazes de assinar a autoria do enredo de suas próprias vidas. Sonhamos com pessoas íntegras, honestas, preocupadas com a vida e empenhadas em fazer acontecer aquilo que é para o bem da humanidade. Sonhamos com uma educação que traga mudanças significativas na realidade de nossos alunos, não somente em nível cognitivo, mas que através dessa dimensão a luz do conhecimento possa ser irradiada para as demais dimensões humanas, a fim de que o educando chegue a se tornar, de forma integral, aquilo para o qual ele é chamado a ser: um ser iluminado pela luz do conhecimento.

Escondida atrás desses sonhos aparece a figura do educador de hoje que, acredito eu, tem de ser e não pode ser outra coisa que um ser essencialmente de esperança. Perguntar o que significa ser educador hoje é perguntar o porquê, sobre o quê e em quê acredita aquele que assume ser um deles. Vivemos na realidade oposta ao paradoxo que sonhamos alcançar e cada vez mais parece que nos distanciamos dele. Nossa sociedade, o sistema político, o sistema econômico e, infelizmente muitas vezes, até mesmo o sistema educacional, abortam qualquer sinal de vida quando testemunham e afirmam serem corretos os escândalos que a mídia nos faz, literalmente, engolir como ícones e ídolos de uma sociedade totalmente estéril de esperança no amanhã. E então, eu mesma me pergunto: que significa ser educador hoje?

Há que se considerar que as pessoas que ainda são capazes de reagir criticamente, sem se resignar diante da realidade, mesmo que esta seja cruel, embora não carreguem um diploma de licenciatura embaixo do braço, trazem dentro de si o espírito e a virtude cuja essência move o verdadeiro educador. O educador de hoje, para mim, não é simplesmente aquele que cursa uma faculdade e põe-se diante de uma classe como alguém que é melhor e sabe mais que os próprios alunos e colegas de profissão. Hoje, aqueles que se chamam educadores, mas que não conseguem sê-lo por excelência, talvez estejam em crise de identidade por não terem conseguido “sair da caverna”, como diz Sócrates, ou talvez uma boa parte deles ainda esteja “mergulhada na menoridade”, como escreve Kant. O certo é que, ser educador hoje significa muito mais que carregar títulos e acumular diplomas e certificados, é preciso ser alguém que caminha com as próprias pernas e, além de saber, acredita no lugar para aonde vai.

Ser educador hoje é ser alguém que transforma o mundo em que vive através do exemplo e se converte em instrumento para ajudar o educando a ser aquilo para o qual ele é chamado a ser: um ser iluminado pela luz do conhecimento, alguém que sabe quem é e busca atualizar essa resposta constantemente frente aos desafios da vida. Sobre isso, Kant escreve:

Pois sempre se hão de encontrar alguns indivíduos capazes de pensamento próprio, até entre os tutores estabelecidos da grande massa, que, após terem sacudido de si mesmos o jugo da menoridade, espalharão à sua volta o espírito de uma avaliação racional do próprio valor e da vocação de cada homem em pensar por conta própria (Kant, 1783, p. 561 1)

Portanto, é preciso cultivar um espírito de ousadia e de aventura, um espírito que não se satisfaça com o mero senso comum e com frases prontas como aquela que diz “sempre foi assim”. O autêntico educador de hoje é movido essencialmente pela esperança e não se cansa de re-significar a sua própria visão de mundo, porque acredita na mudança.

Deisi Daniana Naibo
Enviado por Deisi Daniana Naibo em 18/09/2010
Reeditado em 18/09/2010
Código do texto: T2506387