Sobre a Paixão
Paixão? O que é a paixão? Arrebatamento do corpo ou do espírito? Cegueira temporária ou uma visão que ultrapassa qualquer horizonte?
A maioria das pessoas a quem perguntei o que era Paixão não hesitou em responder que era o domínio dos sentidos. Mas, se é o domínio dos sentidos, por que quem se diz apaixonado pensa o tempo todo no objeto de sua paixão? Seria, então, a paixão o domínio da mente? Ou o domínio do objeto afetado pela paixão sobre a mente?
Na mais simples das conceituações a palavra se liga ao relacionamento amoroso entre duas pessoas. É um relacionamento tão forte que a mente de cada um dos apaixonados é completamente dominada pelo outro – só se pensa nele, só se vive em função dele além de se exigir reciprocidade total. Algo assim como eu só vivo porque você existe então você também tem que viver só porque eu existo. Um para o outro. Mas não exatamente para dar felicidade ao outro e sim para exigir que o outro lhe dê felicidade. A presença ou a ausência do objeto por que se é apaixonado faz com sejamos levados a ação, temos sempre que fazer alguma coisa para ir em direção ao outro. O eu apaixonado depende completamente do objeto de sua paixão e suas reações de (in)felicidade estão completamente ligadas ao comportamento desse objeto. As grandes paixões se não são recíprocas se transformam em obsessão. E, quando não acabam completamente indo cada um para o seu lado, se transformam em amor, amizade, respeito. Ou ódio, desprezo, mágoa. O cotidiano acaba com esse tipo de paixão. Na maioria das vezes a paixão amorosa depende menos do que o outro é, do que daquilo que quero ou imagino que o outro seja. E aí vai mais uma comprovação de que a paixão está intimamente ligada a mente.
Mas não se pode espremer a paixão dentro de um conceito tão pequeno, pois a paixão vai muito além desse sentimento de posse que existe entre pessoas. Ela vai muito mais além. Eu tanto posso apaixonar-me por outro ser humano como por uma idéia, uma causa e em razão dessa paixão sou levada a agir na maioria das vezes de uma forma completamente descontrolada. O apaixonado não é, realmente um ser muito bem educado, muito menos equilibrado.
O que não se pode negar é que são as paixões que movem o mundo porque os apaixonados, em qualquer circunstância, são ousados. Não sentem medo ou, se o sentem, camuflam muito bem. Escondem até de si mesmo. Quando partem para a conquista de um ideal, todos os seus sentimentos são exacerbados e justificados. Ele está certo e considera sem nenhuma sombra de dúvida que os fins justificam os meios.
Existem pessoas que não conseguem viver sem estarem dominadas pelo fogo da paixão.Se uma acaba é preciso logo encontrar outra. Substituem um tipo de paixão por outro tipo.. Quando as brasas da fogueira se apagam tentam reacendê-la. Se não conseguem, armam outra. Estão insatisfeitos se precisam conviver com a brasa dormida. Querem sempre estar agindo e provocando ações. A paradeza de sentimentos os deixa completamente infelizes.
Já tive paixões em minha vida. Mais por idéias do que por pessoas. Não, eu nunca seria santa,nem mártir religiosa. Talvez pudesse morrer por uma causa. Mas as causas de hoje não me fascinam. Pela desilusão que as causas de ontem causaram eu me transformei em um indivíduo sem causas. Dei adeus a rebeldia, mas esse mundo está muito chato. Talvez seja isso a única razão que a maturidade me apavora – não ter mais com o que se rebelar, não porque não existam motivos pelos quais trabalhar, mas simplesmente pelo cansaço que a ausência de paixões nos traz. Ah, como eu preciso me apaixonar de novo por alguma coisa!!!14/09/2010