VIDROS
Cada qual de seu lado
se protege entre os vidros frágeis ou densos
que permitem ver do outro lado sem porém tocar
Se vislumbra ou se espanta
com o que ocorre do outro lado da porta ou janela de vidro
isentando-se da necessidade
de acolher
socorrer
se horrorizar
ou comover
Eu vejo o outro sem o outro me ver
vejo sua imagem talvez nítida
mas não por completo
Existe e existirá sempre uma distorção do que eu vejo
seja por meio dos vidros comuns
ou sofisticados,
cristais ou espelhos
A imagem por mais nítida que seja, nunca será completamente real
haverá sempre interferência de um objeto
interpolando com o que se vê
Por meio dos espelhos se vê de forma invertida
Os cristais elaborados por meio de fenômenos da natureza
com seu requinte e nobreza também servem de barreira e obstaculo
e embora finos e suaves, são cortantes e incompletos
Só o olhar
nu
desvelado de artíficos
simplesmente com seu aparato natural
sem vidros
pode ver nitidamente
Sem barreiras de ferros
muros
muralhas
portões
e vidraças
poderemos ver o que
ocorre do outro lado
da subjetividade e objetividade
de cada amanhecer
entardecer
e anoitecer
dos dias
e da vida.
Ana Lu Portes, Juiz de Fora, 15 de Setembro, 2010