LIVRE ARBÍTRIO OU DETERMINISMO?
Um dos problemas mais discutidos por filósofos e religiosos (inclusive espíritas) são os princípios do livre arbítrio, do determinismo e do fatalismo.
O livre arbítrio determina decisão livre, fundamentada na vontade livre, consciente e sem vícios, ou a faculdade do indivíduo de determinar sua própria conduta.
O determinismo nega a liberdade e a responsabilidade dos atos, sendo que, tudo que acontece tem uma causa, "existe um estado anterior relacionado a ele de tal maneira que não poderia (sem violar uma lei da natureza) existir, sem que existisse o acontecimento" Blackburn (1997, p.97), não cabendo portanto, elogio ou reprovação. No determinismo moderado, "mesmo que as ações sejam causadas (...) poderíamos ter feito outra coisa se o tivéssemos escolhido, o que pode ser suficiente para que possamos ser responsabilizados ou acusados" (...) (p.228).
Já o fatalismo é a doutrina "de que a ação humana não tem influência sobre os acontecimentos, que qualquer ação sobre o fato é totalmente ineficaz" (p.144).
Correntes distintas de pensamento discorrem sobre o fato de se ter escolha ou não, e se estas escolhas são livres ou pré-determinadas. Uma destas correntes praticamente conclui que a escolha é determinada, mas por nós mesmos, ou seja, algo em mim determina a escolha. Outra corrente coloca um ponto muito interessante: um dos limitadores do livre arbítrio é a consequência da escolha, ou seja, ter de responder pelo ato praticado. Expõe também, que sendo a consequência positiva, ou seja, algo elogiável, o agente trás pra si a única e exclusiva autoria do fato, mas quando negativa, busca algo que alivie o peso carga da consequência, por conseguinte, se não tivéssemos que responder por nossos atos, faríamos qualquer coisa sem escrúpulos.
Outro ponto interessante é o fato de mesmo pertencendo à natureza, o ser humano é o único que pode se arrepender de seus atos, "o arrependimento é uma das possibilidades sempre abertas à auto-consciência do agente livre" (p.121).
Para a Doutrina dos Espíritos, o livre arbítrio é um dos cinco princípios básicos, que são: Deus; Jesus e a moral cristã; livre arbítrio; reencarnação e comunicação entre os polissistemas espiritual e material.
O livre arbítrio é a marca da hominização, ou seja, é atribuição do ser auto-consciênte ou Espírito.
É a consciência de si mesmo e a capacidade de escolha no âmbito moral, que diferencia o homem dos animais, fazendo uso da razão para determinar sua ação.
Mas o livre arbítrio não é absoluto, ele é limitado pelo próprio ser e sua história de vida; pelo exercício do livre arbítrio do outro; pelo meio cultural e pelo meio físico. É liberdade de escolha frente ao que se apresenta no momento. É a ampliação da consciência em virtude do aprendizado através das escolhas. Mas as escolhas são feitas de acordo com os valores alcançados, e estes nem sempre são morais.
A vida impulsiona todos ao conhecimento. Mesmo quem reluta, cresce e evolui à sua própria revelia. Somos impulsionados ao progresso, querendo ou não. Basta viver para progredir e o que se aprende ou apreende, não se perde.
Daí também o determinismo na Doutrina Espírita, fundamentado no princípio de ação e reação, pois o Espírito sofre todas as vicissitudes de suas existências, decorrente de suas ações e pensamentos, tanto bons quanto maus. Só se colhe o que se planta. Depois do plantio, a colheita está determinada.
Mas depende do Espírito e somente dele, fazer avaliação crítica e auto-avaliação, buscar se conhecer e perceber quais são seus valores, construindo assim novos objetivos de vida.
No livre-arbítrio temos uma ação voluntariosa de escolha entre alternativas diferentes, em que o ator é responsável pelas conseqüências do seu ato. Mas, mais do que fazer o que se quer ou o que se gosta, consiste em fazer o que se deve. Paulo de Tarso dizia: "Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém."
O livre arbítrio, mais do que fazer o que se quer, está em fazer o que se deve.
BLACKBURN, Simon. Dicionário oxford de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997.