VERDADE, COERÊNCIA...
A realidade é uma das hipóteses que formulamos a propósito
do que nos rodeia.
Essa hipótese é prática, mas não necessária.
A verdade está submetida às ilusões de que podemos ser vítimas
pelos nossos sentidos, incompletos, imprecisos. O que importa é
a verdade interna de nossos discursos; decididamente, deveríamos
preferir empregar a palavra "coerência" e abandonar o termo "verdade",
demasiado carregado de ilusões.
O mais importante é que nosso discurso seja autêntico.
A construção das pessoas e das sociedades utiliza como material
principal as trocas que os indivíduos podem vivenciar entre si.
Se as trocas são fundamentadas na duplicidade, no desejo de
dominação, na falta de responsabilidade ou na competição, o resultado
poderá ser uma catástrofe para todos.
Será que toda a verdade deve ser dita? Sim.
Toda a verdade deve ser dita, mas em condições tais que possa ser
compreendida. Dizer a verdade a quem, pelo fato de sua ignorância
ou de seus pressupostos, não poderá comprende-la é tarefa vã.
O que dá sentido à vida são as causas que nos esforçamos por
defender, os caminhos que procuramos abrir. A exigência de rigor
faz parte das atitudes que valorizam nossa caminhada.
Contudo, uma verdade de natureza completamente diferente intervém
quando evocamos raciocínios que somos capazes de desenvolve-los,
sem a intervenção dos sentidos, por exemplo: quando adotamos
a priori regras de dedução: 2+2=4 é verdadeira se aceitarmos as
regras aritméticas.
Platão em A República (livro II), trata alegoricamente do tema e convém
interpreta-la, decifra-la...
A luz do dia (verdade) mal chega a penetrar em "nossa caverna".
Somos prisioneiros das aparências: o costume leva-nos a considerar
os reflexos enganadores (mundo material visível) como a propria
realidade.
O conhecimento é uma subida em direção ao mundo inteligível e
devemos ir colhendo seus frutos, dividindo-os, repartindo-os.
De qualquer maneira necessário se faz distinguirmos dois casos:
o de um raciocínio que se desenrola no âmbito de um conjunto fechado
em que, desde o início, existem regras, compromissos,
responsabilidades já definidas, pré-estabelecidas, legais
- é o caso da matemática, da contabilidade, etc. - e o das afirmações
relativas que fazem parte do conjunto aberto.
Ninguem deve temer a verdade e sim assumir os equívocos,
corrigi-los e evoluir.
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