Talvez... (os seus olhos sejam rios)
Talvez ela esteja chorando enquanto colhe cerejas, escreve versos, olha para as núvens, nunca se sabe, só ela sabe o que se passa naquelas mãos firmes e delicadas, naquela mente ágil e inquieta, na dor sempre presente, dor que vem de um amor maior que o mar, maior que tudo. Tudo mar, tudo amor, tudo dor, tudo presente, tudo inquieto, tudo ágil, delicado e firme. As suas mãos passam em núvens, versos escreve, cerejas colhe e os olhos, ah, os olhos! os olhos choram...
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Não, os seus olhos não choram. Ninguém sabe, mas os olhos dela são rios que passam, nas lezírias das manhãs. Passam e colhem flores, deixando, em troca, lágrimas que são chuva miudinha, a semear gratidão...
Os olhos dela são rios com a certeza da foz. E quando passam, deixam marcas de fertilidade plantada por suas mãos, na esperança que os barqueiros encontrem jardins suspensos nos reflexos breves das águas.
E cerejas para beijar, e versos para cantar.
As nuvens, essas, seguem-lhe de perto o curso, com anjos às cavalitas.
(a jusante dos seus olhos mora o mar, mora o amor...)