EDUCAÇÃO E CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CIDADÃO
O ano de 2005 já estava voando, quando envolvido com livros didáticos, pude confirmar de modo bem real in loco, o que Pereira¹ chama de “medo de falar”, ao visitar diversas instituições de ensino, tanto públicas (escolas estaduais) como privadas (escolas particulares), com o objetivo de falar com alunos que estavam em sua grande maioria terminando o ensino médio, e preparando-se para o vestibular, pude diagnosticar algo interessante, como segue.
Nestes meandros escolares, foi-me concedido diversas oportunidades de falar em sala de aula, diante de turmas, perguntei-lhes sobre assuntos básicos, ou de curiosidade, para testar como reagiriam diante dos demais, para minha surpresa, ninguém, ninguém mesmo respondeu pergunta nenhuma! Uma das perguntas que ninguém respondeu foi: Geograficamente, onde é o meio do mundo?
Daí podemos concluir, que a sociedade está sendo por muito tempo conduzida a não falar, a não reclamar seus direitos, ou pior, estão totalmente anestesiadas quanto aos direitos e deveres que abarcam a urbanidade, o convívio social está longe de muita gente, e uma educação medíocre, que joga os alunos para anos posteriores, sem que estes saibam sequer segurar um lápis, é no mínimo ilário, para não ser descortês.
Quando a saudosa Elis Regina Carvalho Costa² (1945-1982), argue que “É o povo quem faz a vida maior”, destacou apenas um lado da moeda social, o povo pode sim fazer muita coisa, porém, o mesmo povo, é cerceado, constantemente por uma propaganda enganosa, maliciosa, e até mentirosa, no sentido de que, as coisas estão melhorando.
O discurso é assim: As coisas estão mudando, agora o pobre poderá ter sua casa própria!, agora poderá adquirir seu celular! Os grandes bancos, e as grandes empresas de telefonia agradecem esta propaganda gratuita num devir louco por meter a mão no bolso do infeliz, usam ou criam uma ilusão, de que realmente é possível, ter os bens materiais que os ricos possuem.
Talvez até seja mesmo, mas terão que sacrificar sua comida, e de sua prole moribunda descalça e desdentada, para satisfazer os engôdos a que foram enlaçados. Semelhantemente ao que disse Pereira Já citado, sobre “as crises sociais” O professor Boaventura Santos³, falou com muita propriedade, quando disse que os extratos superiores, usam o poder a seu favor, e neste jogo de interesses conflitantes,
e utilizou as disciplinas segregadas, para separar o trigo do joio, e você - caro leitor colega de ofício - com certeza já sabe quem neste jogo foi classificado como joio! Os extratos inferiores! Basta ver que nas Universidades públicas estão estudando os de 'sangue azul4 , Por terem mais tempo ao preparar-se para vestibulares.
Ao postular a educação como ferramenta essencial para uma transformação, que realmente muda, concordo que ajudar os adultos é fator fundamental, Pereira, foi muito feliz em problematizar que esta “reeducação de adultos”, deve ser prioridade na atual conjuntura social,porém acrescento que os professores também deverão se convencer disso.
Hoje há o adulto analfabeto, e também o analfabeto virtual, fica a mercê, de outros indivíduos que, o devorarão, mais cedo ou mais tarde! Por mais que os governos se mobilizem em providenciar centros de acesso a internet, o que realmente, é necessário é apoio educacional direto para que o aluno, seja senhor de suas ações, sem ficar na dependência de alguém.
A ciência deve levar parte da culpa de toda essa barbárie dicotômica educacional.....“A Revolução Científica e o Iluminismo levam a uma visão materialista”, segundo Pereira, digo francamente, que a bajulada teoria da evolução, tão aceita nos meandros científicos, também é culpada por boa parte da confusão que se instalou na sociedade, do pós guerra. A própria escola por muito tempo ensinou, ou melhor deixou-se levar pela ideologia dominante, por meio de textos didáticos preconceituosos ditados pela elite dominante, cita Nosella.5
Daquele tempo em diante, (de Darwin 1800-1900) as pessoas, pensavam muito em si mesmas, o capitalismo ensinou-lhes que era totalmente correto explorar o próximo, não importando a condição em que estivesse, cada um teria que aproveitar ao máximo, para ganhar, assim, a atitude de levar vantagem sobre os demais, ganhou um força descomunal.
Passou a ser correto e justo subjugar os demais, quer pelo poder econômico, quer pelo poder bélico mesmo, quer pelo charlatanismo made in Tio San. Como diz Pereira novamente: “com esta visão materialista desenvolve se a mentalidade capitalista moderna”, onde o capital passa a ter maior valor que o próprio ser humano, ou pior, o homem passa a ser considerado, mero objeto.
As grandes empresas, as fabricas, passa a valorizar, o produto, e isso deslocou totalmente, o homem, sua honra, paulatinamente, foi desintegrando-se moral e sentimentalmente, e por ser estimulado com propagandas sutis, tornar-se-ia, ele mesmo o alimentador, deste ciclo de produção-consumo, gananciosos e desigual, que perdura até hoje!
Como disse Werthein6, “o aprofundamento do hiato entre pobres e ricos” e o autor já citado Pereira, acrescenta que: “o individualismo se tornou dominante na cultura ocidental” e geraram cercas mentais”, estas cercas foi e ainda é usada na apropriação da língua, ou no domínio desta, e do conhecimento maior, que será facilitado para 'alguns' e terrivelmente dificultado para 'outros', e se você estará lá ou cá, vai depender de diversos fatores.
Quando o autor Pereira, diz: “cada um a buscar ter poder sobre o outro”, podemos imaginar poder da cultura, poder da letra, da fala, da língua segundo Gerald7 imposta a outos povos do discurso mais convincente, poder de pagar mais caro para os advogados, não do Diabo, mas quase! Principalmente,'Doutores' que gostam de ser chamados de doutores, gente inescrupulosa que beiram a 'traficantes da justiça', ao usarem de manobras 'abeas corpus' para defender bandidos ricos!
O termo 'doutor' ainda que por convenção seja aplicado indiscriminadamente, só é legitimo para os que merecidamente terminaram o doutorado, e por incrível que pareça, quando estes homens e mulheres, chegam lá, e no pós-doutorado, em geral, não ficam jactando-se de seus feitos a cada minuto, longe disso, reconhecem, em muitos casos, que estão em dívida para com a sociedade, que bancou seus estudos em muitos casos de bolsistas do Cnpq8!
É neste ponto que cabe um pensamento, será que educaremos nossos pupilos para uma educação que leva em conta os outros, ou continuaremos neste discurso míope, segregador, egoísta, e mesquinho, onde o mais apto engole o mais fraco? Será que vamos continuar no discurso repulsivo de que somos oriundos duma evolução cega, por acaso? Ou que nossa mãe não passa de uma símia?
Desculpe-me leitor mais símia é a de Darwin ou seja de quem for, a minha mãe não! Brincadeira....mas, que pode muito bem servir de aporte para nos colocar diante de algo muito sério em nossa regência em sala, - se não somos oriundos de um Criador, logo não temos que prestar contas a ninguém, e neste caso, a rebeldia, e anarquia o desrespeito pelo 'outro' florescerá!
Já passou da hora de alertarmos nossos pupilos a que aprendam a questionar estas teorias que são empurradas 'guela-abaixo' como se fosse fato consumado, é neste caminho que poderemos começar a provocar uma quebra de paradigmas transformacional. Para terminar este discurso cito uma história para sua reflexão – colega leitor,- e se desejar, talvez poderá ajudar seus alunos a meditar nisso também! Isto foi escrito nos idos de 1957.
Que todas as coisas necessitou que alguém que as fizesse foi demonstrado por (Sir Isaac Newton 1643-1727) cientista britânico. Certa fez ele fez que um mecânico perito lhe produzisse uma réplica em miniatura de nosso sistema solar, com esferas representando os planetas, conjugada por engrenagens e correias para se moverem harmonicamente quando se acionava uma manivela.
Mais tarde, Newton foi visitado por um amigo cientista que não cria em Deus. Sua palestra foi relatada no Minnesota Technolog9:
“Certo dia, quando Newton estava sentado no seu estúdio, lendo, com seu mecanismo perto de si, numa grande mesa, entrou seu amigo incréu. Como cientista, reconheceu imediatamente o que tinha diante de si. Chegando-se perto, moveu vagarosamente a manivela e observou com indisfarçada admiração os corpos celestes movendo-se todos na sua velocidade relativa nas suas órbitas. Afastando-se alguns pés, exclamou: 'Oh! Que coisa primorosa! Quem fez isso? Newton , sem levantar os olhos de seu livro, respondeu: 'Ninguém!'
Voltando-se rapidamente para Newton, o incréu disse: 'Evidentemente não entendeu a minha pergunta. Perguntei quem fez isso? Levantando então os olhos, Newton assegurou solenemente que ninguém o fizera, mas que o conjunto de materiais, tão admirado, assumira por acaso a forma que tinha. Mas o incréu assombrado replicou um pouco acaloradamente: 'Deve pensar que sou tolo! Naturalmente foi feito por alguém e este é um gênio, e eu gostaria de saber quem é'.
Pondo de lado o livro, Newton levantou-se e deitou a mão no ombro de seu amigo. 'Esta coisa é somente uma imitação insignificante de um sistema muito mais grandioso, cujas leis conhece, e eu não o posso convencer de que este mero brinquedo foi projetado nem feito por alguém; no entando, você professa crer que o grandioso original, de que se copiou o desenho, veio a existir sem ter sido projetado e feito por alguém! Ora, por meio de que espécie de raciocínio chegou a tal conclusão incongruente?”.
Cristino Mendonça.
Referências :
1)PEREIRA, Paulo Roberto Neves, “Um mundo exclusivo um mundo quadrado e o mundo redondo”, UNIS/SABE.
2)COSTA, Elis Regina Carvalho Costa (1945-1982)
3)SANTOS, Boaventura de Sousa, “A crítica da razão indolente - contra o desperdício da eficiência, Editora Cortez, Rio de Janeiro, RJ, 2000.
4)JONES, Rita Lee música 'João pé de chinelo'
5)NOSELLA, Maria de Lourdes Chagas Deiró.“As belas mentiras - A ideologia subjacente aos textos didáticos” 1ª ed. Ed. Cortez & Moraes São Paulo, 1978.
6)WERTHEIN, Jorge “A Educação e a Construção do Futuro - O Negócio é Conjugar Capitais Certos” UNIS/SABE é Doutor em Educação pela Universidade de Stanford, EUA, e Representante da UNESCO no Brasil em (2003)
7)GERALD, João Wanderley Org. “ O texto na sala de aula” São Paulo, Ática 1997
8)CNPQ, Conselho de Desenvolvimento científico e Tecnológico do Ministerio da Ciência e Tecnologia.
9)MINNESOTA, The Thecnolog, outubro de 1957. “Did Man Get Here by Evolution or Creation? 1968 Watchtower Bile and Tract Society of New York, Inc. p.39.