ENSAIO SOBRE A FELICIDADE (PARTE II)
Aliás, igualdade é um sentimento a ser compartilhado constantemente por nós homens de bem, já que a sensação de um mundo sem diferenças não denota apenas sensação de bem estar. Evidencia, sim, uma enorme sensação de felicidade interior, cuja descrição não pode ser resumida em palavras.
Interromper o curso das coisas significa, como dizia Voltaire: “Uma colecção de pensamentos deve ser uma farmácia moral, onde se encontram remédios para todos os males”. E nossos males são os males da alma de quem é incapaz de lidar com sua própria existência quando esta encontra-se imbricada com a existência e o futuro de seus semelhantes.
6.6 - “Jamais se prenda demais aos detalhes”.
Sabemos muito bem que a experiência traz consigo o bom senso, fazendo com que nossa visão sobre as coisas que nos cercam mude de forma radical, fazendo-nos capazes de antever desastres e, conequentemente, evitá-los, deixando de nos prender aos detalhes que, via de regra, apenas servem para desviar nossa atenção e nos distrair em relação aos verdadeiros objetivos a que nos propomos.
A vida não pode ser encarada como uma soma incalculável de detalhes cujas nuances apenas nos conduzem ao perdimento de objetivos e metas. Detalhes são apenas pequenos desvios de curso cujo objetivo essencial é exatamente este: desviar-nos de nossos objetivos, fazendo com que caminhemos meio cegos, meio perdidos em uma direção que não foi aquela originalmente proposta.
Eliminando tais detalhes, podemos caminhar de forma mais livre e mais feliz, conduzindo nossas vidas independentemente dos detalhes que podem ser, além de sórdidos, prejudiciais ao conjunto existencial por nós proposto não apenas para uma existência individual como também coletiva. Colocamos a nossa vida acima dos detalhes e deixamos que ela flua de forma suave e natural, sem nos preocuparmos com tais detalhes que – muitas das vezes – são colocados em nossos caminhos não apenas como obstáculos a serem vencidos como também elementos motivacionais para nos lembrar que o desvio de nossos objetivos significará, sempre, um prejuízo sem retorno.
Imaginemos, por um breve instante, que pessoas notórias como Ghandi, Lincoln, Kennedy e outros tivessem interrompido o curso de suas ações apenas para preocupar-se com pequenos, e até mesmo insigificantes, detalhes que contra eles se opunham, funcionando como um desvio de rota, cujas conseqüências seriam sentidas até os dias atuais.
6.7 – Evite, sempre que possível, todo o tipo de exposição gratuita”.
Quando nos expomos colocamo-nos, necessariamente, em uma condição de submissão à crítica e ao desconforto de termos nossos comportamentos julgados no tribunal social da opinião pública.
Não que isto seja de todo ruim, até mesmo porque se exercitamos constantemente nossa autocrítica, a exposição torna-se mais fácil e muito mais digerível.
Todavia, não nos esqueçamos que excesso de exposição implica na assunção de posturas e condutas que após reveladas nunca mais poderão ser mudadas, razão pela qual a discrição é a chave para a felicidade. Deixemos a exposição para aqueles que dela vivem e nutrem seus egos.
Exposição gratuita significa uma demonstração pública contínua, mesmo quando não solicitada, de nossos pensamentos e opiniões, o que, na maior parte das vezes significa que, sempre que assim ocorrer, num futuro não muito distante, seremos cobrados por tais pensamentos e opiniões, implicando na impossibilidade de revisão ou mesmo de mudança destes pensamentos e opiniões.
Trata-se de uma capacidade do indivíduo a aptidão de possuir opiniões e pensamentos sobre determinados temas, seja por conta de sua conduta de ordem pessoal, seja também pela de ordem institucional. Melhor explicando: espera-se, sempre, que um magistrado tenha opinião formada sobre determinados temas controvertidos (é da natureza do seu ofício), porém, não se pode exigir que este mesmo magistrado revise constantemente suas opiniões com vistas ao aprimoramento do direito e da ciência jurídica, até mesmo porque se assim não fosse, estaríamos ainda na idade média em meio às trevas e ao desconhecimento.
Discrição é a chave para a felicidade do indivíduo, colocando-o sempre em uma posição confortável ante os enormes dilemas e crises que surgem ao longo de sua existência em sua vida pessoal e social.
Não nos esqueçamos que crise significa “escolha”, exigindo do indivíduo discernimento e discrição para escolher o melhor para si e para seus semelhantes. Aliás, é o que se espera deum político, um governante, saber sempre qual o melhor caminho para a vida dos seus eleitores, cidadãos e indivíduos livres para viver em estado de felicidade.
6.8 - “Curve-se sempre aos seus próprios erros”.
Neste momento ensejamos transcrever um pensamento do renomado escritor brasileiro PAULO COELHO, cujo excerto segue abaixo:
Durante uma viagem, Buda encontrou um yogue apoiado numa perna só. “Queimo os erros do meu passado”, explicou o homem.
“E quantos erros já queimou?”
“Não tenho a menor ideia”.
“E quanto falta queimar?” insistiu Buda.
“Não tenho a menor ideia.”
“Então é hora de acabar com isto. Pare de pedir perdão a Deus, e vá pedir perdão a quem você feriu.”1
A importância do verbo “curvar-se” no contexto aqui abarcado por nossa exposição, possui uma crucial interpretação, posto que, como dizem os japonese, o homem que se curva jamais de dobra. Ou seja, saber curvar-se significa render-se a si próprio, às suas ineficiências, seus arroubos de paixão, fazendo com que esta postura biomecânica implique no autoconhecimento, refletindo sobre seus erros e redefinindo suas ações com vistas a corrigi-los e, conseqüêntemente, revisá-los sempre que necessário.
Curvar-se ante os próprios erros tem uma relevância ímpar quando confrontado com a simplicidade, como podemos observar do pensamento maçônico, cujo excerto a seguir é extremamente sugestivo: “Humildade o torna simples e cheio de verdade. Quanto mais humildade você tiver, maior será seu entendimento sobre a verdade. E vice-versa”.2
07 – UMA BREVE CONCLUSÃO.
Inicialmente, gostaríamos de salientar que este não é um texto de auto-ajuda, pois, muito embora, sejamos adeptos da teoria de que a auto-ajuda e a Progamação Neuro Linguística compreendem ramos de estudos científicos válidos e com comprovada eficiência, também acreditamos que a solução na busca para a felicidade está no próprio indivíduo e por ele deve ser perseguido, seja com o uso de instumentos próprios, seja lançando mão de institutos como os acima mencionados.
O arqueiro não mira no alvo apenas para vencer seu oponente em uma competição, ou mesmo para derrotar o inimigo em uma batalha. Ele mira o alvo por que acertar lhe causa uma sensação de felicidade inigualável e indescritível. As recompensas advindas do resultado são apenas a conseqüência esperada como fruto de um bom trabalho. A retidão de nossos comportamentos e os prêmios por nossa aptidão não podem ser encarados como condutas necessariamente esperadas como objeto de nossa existência.
O que devemos sempre ter em nossas mentes é que nossa conduta deve orientar-se pela humildade, posto que apenas através dela somos capazes de conquistar um estado de felicidade que contemple seu corpo, espírito e alma. A reconhecermos humildemente nossas limitações, tornamo-nos pessoas mais próximas do senso de humanidade que tem orientado a existência da raça humana desde de seus primórdios, e, assim conduzindo nossa vida, sentimo-nos também mais livres e mais felizes.
O conhecidissímo e renomado escritor carismático C. TORRES PASTORINHO,3 assim escreveu sobre a humildade em sua obra “Minutos de Sabedoria”:
Humildade como um poder é baseada numa consciência muito elevada de quem é você. Tal estado elevado de consciência o torna muito sereno, muito pacífico e muito amoroso.
Alguém com humildade é pleno nos dois, de amor e de respeito. Devido a eles serem plenos, o único desejo que têm é o de doar.
Alguém com humildade nunca é egoísta.
Humildade torna o coração aberto e generoso.
Nunca há o desejo de receber dos outros.
Humildade torna fácil ter relacionamentos de amor e respeito com todos.
Quando há humildade, você gosta de entender o coração dos outros.
Você quer entender o coração dos outros.
Humildade o deixa aceitar o que uma outra pessoa está dizendo. (Se você aceita hoje o que os outros estão dizendo, então eles aceitarão amanhã tudo o que você disser). Aquele que tem humildade constantemente permanece feliz e torna outros felizes também.
Uma pessoa com humildade sempre dirá: `seja o que eu for, o que quer que eu tenha, está bem, estou feliz, estou contente'.
Uma pessoa com humildade nunca fica com raiva.
Uma pessoa com humildade tem uma natureza fácil.
Quando você tem humildade, as pessoas se aproximam de você, com amor.
Humildade faz surgir o seu estado divino.
Sem nos prolongarmos mais que o necessário neste breve ensaio sobre um tema, ao mesmo tempo, apaixonante e controvertido, ousaríamos resumir que para sermos felizes devemos necessariamente sermos nós mesmos, livrando-nos das amarras que nos prendem ao estabelecimento social e aos ditames de uma sociedade cada vez mais consumista e depressiva.
Sejamos, pois, felizes com nós mesmos, nossos amigos parentes e entes queridos, bem como procuremos diariamente compartilhar este sentimento com nossos semelhantes, não esperando qualquer retribuição que não venha dos corações, mentes e almas destes nossos iguais também de forma espontanea e voluntária.
Fiquemos, por fim com o pensamento abaixo, que muito mais que simples palavras denotam uma atitude a ser adotada por toda a nossa existência:
"Não procures a verdade fora de ti, ela está em ti, em teu ser. Não procures o conhecimento fora de ti, ele te aguarda em tua fé interior. Não procures a paz fora de ti, ela está instalada em teu coração. Não procures a felicidade fora de ti, ela habita em ti desde a eternidade. " (Mestre Khane)
APÊNDICE: A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL.
A Inteligência Emocional está relacionada a habilidades tais como motivar a si mesmo e persistir mediante frustações; controlar impulsos, canalizando emoções para situações apropriadas; praticar gratificação prorrogada; motivar pessoas, ajudando-as a liberarem seus melhores talentos, e conseguir seu engajamento a objetivos de interesses comuns. (Gilberto Vitor)
Daniel Goleman, em seu livro, mapeia a Inteligência Emocional em cinco áreas de habilidades:
1. Auto-Conhecimento Emocional - reconhecer um sentimento enquanto ele ocorre.
2. Controle Emocional - habilidade de lidar com seus próprios sentimentos, adequando-os para a situação.
3. Auto-Motivação - dirigir emoções a serviço de um objetivo é essencial para manter-se caminhando sempre em busca.
4. Reconhecimento de emoções em outras pessoas.
5. Habilidade em relacionamentos inter-pessoais.
As três primeiras acima referem-se a Inteligência Intra-Pessoal. As duas últimas, a Inteligência Inter-Pessoal.
Inteligência Inter-Pessoal: é a habilidade de entender outras pessoas: o que as motiva, como trabalham, como trabalhar cooperativamente com elas.
1. Organização de Grupos: é a habilidade essencial da liderança, que envolve iniciativa e coordenação de esforços de um grupo, habilidade de obter do grupo o reconhecimento da liderança, a cooperação espontânea.
2. Negociação de Soluções: o papel do mediador, prevenindo e resolvendo conflitos.
3. Empatia - Sintonia Pessoal: é a capacidade de, identificando e entendendo os desejos e sentimentos das pessoas, responder (reagir) de forma apropriada de forma a canalizá-los ao interesse comum.
4. Sensibilidade Social: é a capacidade de detectar e identificar sentimentos e motivos das pessoas.
Inteligência Intra-Pessoal: é a mesma habilidade, só que voltada para si mesmo. É a capacidade de formar um modelo verdadeiro e preciso de si mesmo e usá-lo de forma efetiva e construtiva.