POESIA: UM RECORTE TEMPORAL - Comentários ao livro da poetisa Valéria Victorino Valle
A poetisa Valéria Victorino Valle presenteia-nos com alguns exemplares do seu belo livro POESIA: UM RECORTE TEMPORAL – que teve o patrocínio da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Goiânia, com a impressão da Editora Kelps.
Particularmente, tenho um vínculo lítero-afetivo com Anápolis – GO, terra natal da nossa querida professora-escritora. Nos idos de 1980, recebi o título de Membro da Academia Anapolina de Filosofia, Ciências e Letras. E esta aproximação valeu-me a idéia de fundar aqui em Vitória da Conquista a ACL – Academia Conquistense de Letras, cujos estatutos adaptei, inspirado nos estatutos da academia Anapolina.
Voltando ao livro de Valéria Victorino Valle, desde a capa até os detalhes de impressão e estética, o livro está impecável. O conteúdo é um primor do que melhor se faz neste país por uma plêiade de grandes escritores, em todas as vertentes literárias. E na Poesia (A Arte das Musas), pontifica o trabalho da poeta Valéria Victorino Valle.
Em Amor de Perdição, a autora revela: “Perdi-me na transitória poesia/Perdi-me na sombra imprevisível do verbo/Perdi-me no eco do desejo/Perdi-me calada, desnuda, vazia...” Em Herança Insana, ela assevera: ” Vivemos a mentira da justiça social” – e já no final, sentencia: “Deu certo o erro/Persistente companheiro dos poderosos/Escravidão insana...” No poema Tempo de Vida, Valéria canta loas à vida: “Quero viver um amanhã sem pressa/Pulsar a vida/Adormecer paixões/Curar feridas e angústias/Ensandecer a lucidez.” Em Morte: Flor do Tempo, a autora reflete sobre a morte: “Muitas flores são colhidas cedo demais/ Num piscar de olhos” e já na penúltima estrofe, destaca: “É a morte – anjo dos desconsolados -/Herança implacável da humanidade”. Em Adolescência, Valéria confessa: Vejo derretida a adolescência/Vivida sob inspeção/Sempre a sofrer um não/No meu picadeiro de confusão”... Em Hora da Fome, ela ataca a ferida social que sabota os brasileiros: Fome de que?/De justiça/De respeito/Fome de ética”... Em tempo de Amar, a autora afirma: “Não há dor intensa no amor ou no desamor/Há um pouco de fel e mel”... No poema O Caderno, nos versos de cada estrofe ela descreve Mundico, o seu caderno: “Meu nome é Mundico/Escrevem em Mim/ Rabiscam em mim/Erram e me apagam/Tenho ,linhas que sustentam a poesia” - e, ao final, sentencia: – “E muitos poetas moram em mim.” Em Silêncio, ela segreda: “Há tempos que o silêncio/Completa-me as medidas,/Amargamente.” No poema Solidariedade ela pensa a humanidade: “Há um vazio no peito humano/.... É o recado da frustração e do desgaste interior/Da sociedade embriagada e trôpega/Que reside, resiste e persiste/Na cidade das trevas e da cirrose coletiva.” Em Seca, a poetisa desculpa-se, humildemente: “Desculpe-me se,/Balbuciei e escancarei o meu discurso.” – para em Ardência de Poeta, alfinetar: “Quem se mete a poeta é louco, eu sei.../Mas que fazer quando não se tem rosto nem memória?” Na última estrofe, nos versos finais deste belo livro, a autora lança algumas perguntas que não querem calar: “Como ferir o ouvido de quem tem sabor de saber?/ Como ser caminho, caminhante errante e ridículo/E não marchar com os ventos da ética?”
A poetisa Valéria Victorino Valle é professora de língua portuguesa, natural de Anápolis - GO e é nossa confreira da Apolo - Academia Poçoense de Letras e Artes - www.apoloacademiadeletras.com.br
Tem vários livros publicados e escreve em vários sites de literatura.