Nietzsche / uma resenha, um resumo

( Nitzsche x Sócrates/ (Dioniso e Nietzsche)

Nietzsche inicia sua crítica à razão ocidental já em sua primeira obra,

O nascimento da tragédia.

Nela expõe como a civilização grega, pré-socrática, foi o ápice da cultura grega: ao estar ainda sob o domínio do pensamento trágico de Dioniso, que propõe uma afirmação incondicional da vida, mesmo na dor e no sofrimento.

Mas para N. essa atitude trágica diante da existência predominou até o triunfo da razão socrática: a partir do qual a consciência e a razão passam a julgar e dominar a vida e os instintos.

Com Sócrates, a razão, o discernimento da verdade e do conhecimento, passou a ter um caráter prioritário e universal, colocando-se como a instancia a partir da qual a vida e os instintos seriam julgados, controlados e justificados.

Nietzsche chega mesmo a afirmar que a verdadeira oposição não se situa entre os dois princípios estéticos Dioniso e Apolo, mas entre Dioniso e Sócrates.

Para Ntz Sócrates é o iniciador do processo de subordinação da vida à razão. Daí para frente não é mais o ser que se manifesta no dizer e no pensar do homem, mas é a lógica e a gramática que determinam o que é o ser e o não ser. A vida passa a ser redimida e justificada em função de um outro mundo. Sócrates constitui-se assim numa referencia fundamental para se compreender como morre a tragédia e nasce o homem ovelha que acredita no lema socrático: “Tudo deve ser inteligível para ser belo”.

Daí também toda crítica de Sócrates aqueles que se deixam guiar apenas pelos instintos, transformando-se em joguetes das circunstâncias e escravos de seus próprios vícios e hábitos.

Nietzsche contempla e observa em tudo e todos o engodo, a mentira, a falsidade, o erro e a ignorância, Sócrates tomou para si a tarefa de corrigir a existência, segundo uma crença otimista de que através do pensar e da razão pode-de alcançar e dizer algo da essência das coisas e até mesmo corrigir a existência, vendo nela algo de errado que deve ser redimido.

Nietzsche insiste em denunciar que a consciência é falsa, ou uma ilusão que de forma alguma esgota as possibilidades da realidade e do pensamento. Diz ele: a consciência é fonte de ilusões. A Verdade, o Bem e o Belo não passam de ilusões inventadas pelos homens.

Segundo Nietzsche devermos alcançar a condição sobre-humano, do vitorioso e do forte. E para que a terra seja um dia do além-homem, é necessário que o homem gregário e de natureza bovina sucumba.

Filosofia de Nietzsche onde Zaratustra busca pescar homens, e seduzi-los, para que se contaminem com seu pensamento, violentá-los com suas idéias inquietadoras e experimentar com eles a superação de todos os limites e de si mesmos:

"Torna-te quem és! ... Fisga para mim, com a tua luz, os mais lindos peixes humanos! E o que em todos os mares me pertence, o que em todas as coisas é o meu em mim e por mim – pesca isso para mim, traze-me isso cá para cima: por ele estou à espera, eu, o mais maldoso de todos os pescadores ( Za/ZA IV O sacrifício do mel).

Filosofia que se completa neste outro pensamento: “A falsidade de um juízo não chega a constituir, para nós, uma objeção contra ele; é talvez nesse ponto que a nossa nova linguagem soa mais estranho. A questão é em que medida ele promove ou conserva a vida, conserva ou até mesmo cultiva a espécie”. (Além do Bem e do Mal).

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Nesse contexto a verdade consiste na estreita relação do pensamento com os objetivos práticos do homem. Portanto, não existem fatos ou verdades, mas, interpretações ou perspectivas. A questão do valor é algo a ser julgado de acordo com a medida e exigência de quem o veste.

Considerando que Sócrates foi o iniciador do processo de subordinação da vida à razão, então Nietzsche formulou uma filosofia de conflitos. Onde ideais e virtudes não passariam de sintomas de decadência a serviço dos fracos. Uma decadência que teria começado lá na Grécia, com Sócrates.

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Relendo Nietzsche

Olavo de Carvalho

O Globo, 15 de fevereiro de 2003

Um caso particularmente desesperador é Friedrich Nietzsche, a quem tantos neste país veneram, talvez porque nele encontrem algo como um monumento à sua própria alienação.

Outro dia, conversando com uma amiga antropóloga, ela me lembrou que em certa época recente, na USP, ninguém no seu departamento era aceito como gente grande se não soubesse classificar na ponta da língua os fenômenos culturais em apolíneos e dionisíacos -- uma distinção nietzscheana a que o livro de Ruth Benedict, “Padrões de Cultura”, dera foros de critério científico.

Vamos ver quanto vale essa distinção?

Em “A Origem da Tragédia”, Apolo, deus da luz e da ordem cósmica, é o senhor das aparências, do universo visível. Dionísio, caos e turvação, é causa e origem, é a realidade tenebrosa e fecunda por baixo do véu apolíneo. Assim diz Nietzsche, mas no mundo real as coisas às vezes são assim, às vezes não. Às vezes, é a aparência caótica dos fenômenos que oculta uma ordem profunda, a qual escapa ao comum dos mortais mas se revela aos olhos claros daqueles que Schiller denominava “filhos de Júpiter”.

De fato, o contraste Apolo-Dionísio expressa, no mito grego, a tensão dinâmica entre os polos do caos e da ordem, da aparência e da realidade, em contínua rotação e intercâmbio no quadro do mundo. A compreensão de todo simbolismo mitológico ou religioso depende de um certo senso das inversões. Um símbolo, por definição, não tem sentido unívoco, podendo sempre transfigurar-se em seu contrário, conforme a esfera de ser a que se aplique num contexto dado.

Ao identificar de maneira estática a ordem com superfície, o caos com profundidade, Nietzsche eliminou artificialmente a tensão, congelando os opostos em papéis imutáveis. Degradou o símbolo em estereótipo. Transmutou o ouro em chumbo. O pior é que ele cai nessa justamente no momento em que está protestando contra o racionalismo e clamando pela volta dos mitos como força renovadora da civilização.

O melhor em Nietzche são as notas de psicologia pejorativa, que ele extrai da observação de si mesmo mas em seguida projeta, com autoconfiança adolescente, em Sócrates, em Jesus Cristo, na humanidade inteira. O ressentimento do doente contra as pessoas saudáveis é uma delas. Mas por que esse diagnóstico deveria aplicar-se antes a Sócrates, velho soldado robusto, do que ao próprio Nietzsche, paciente crônico que mal se levantava da cama?

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O Super-último-homem

Olavo de Carvalho

Zero Hora, 6 de fevereiro de 2005

Nietzsche dizia que no futuro só haveria dois tipos de seres humanos: O “Super-Homem” e o “último homem”. O primeiro era o herói cultural – do qual ele mesmo se imaginava o protótipo – que, reconhecendo a radical historicidade e portanto inocuidade dos valores, se colocava acima de todos eles e inventava livremente seus próprios valores, como o pequeno deus de um microcosmo autônomo, altivamente pisoteando a “verdade”, o “bem”, a “humanidade” ou o que quer que tivesse o desplante de atravessar o seu caminho de glórias autolátricas.

O “último homem”, ao contrário, era o idiota multitudinário incapaz de um pensamento próprio, reduzido à obediência rotineira e ao “espírito de rebanho”.

O que o filósofo jamais chegou a suspeitar é que os dois tipos eram exatamente a mesma pessoa, que em poucas décadas a completa identidade do Super-Homem e do último homem se manifestaria da maneira mais patente, mostrando que a distinção entre eles não passara de uma ilusão de ótica.

Os gaúchos tiveram recentemente a oportunidade de observar, nas ruas de Porto Alegre, sob o título de “Fórum Social Mundial”, a pululação ruidosa de exemplares vivos do “Super-último-homem”, a síntese indissolúvel dos dois personagens nietzscheanos, que sem dúvida constitui, desde já, o tipo dominante nas sociedades avançadas do século XXI.

O Super-último-homem não admite nenhum valor ou lei acima de si, julga e condena sem pestanejar civilizações e religiões milenares e, “filosofando com um martelo”, como o próprio Nietzsche, sai por aí derrubando tudo. Por via das dúvidas, no entanto, olha em torno para ver se seus colegas de militância estão fazendo o mesmo, e sente um profundo reconforto ao ver que não está sozinho, que está em perfeita sintonia com o espírito do rebanho.

Sentir latejar no peito, ao mesmo tempo, a altivez soberana do herói solitário e a aconchegante proteção das organizações de massa – eis o privilégio inaudito que a sociedade atual confere a cada estudante enragé , a cada apóstolo da “paz”, a cada militante feminista, gay ou pró-terrorista deste mundo. Nenhum deles aceita nenhuma autoridade acima de si, nenhum é capaz de apreender uma só idéia que já não venha com a chancela da autoridade coletiva.

Mas, como toda síntese, o tipinho não se reduz a uma justaposição mecânica de seus elementos. No ato de fundi-los, supera-os. O Super-último-homem é mais arrogante que o Super-homem e mais subserviente do que o último homem. O Super-homem contentava-se com a independência individual, proclamada quixotescamente contra o restante da espécie humana: o novo tipo quer subjugar a espécie humana, remoldá-la à sua imagem e semelhança. O último homem limitava-se a seguir a moral e os bons costumes, sem imaginação para contestá-los ou força para infringi-los: o Super-último-homem, à voz de comando da multidão, está pronto para descer ainda mais baixo, para violar a própria consciência e abdicar do último resquício de dignidade, prostituindo-se e aviltando-se até o ponto de exibir-se masoquisticamente como vítima de perseguição no instante mesmo em que desfruta, como ninguém, do patrocínio milionário do establishment paternal.

Não sei como Nietzche reagiria à visão dessa criatura que, em parte, ele próprio gerou. Provavelmente, de vergonha, estouraria os miolos.

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A RESENHA ABAIXO foi feita com base na obra do filósofo Richard Beardswhort, biógrafo e analista da obra de Nietzsche, em livro editado pela Estação Liberdade:

Diz o autor: " A analise de instintos, em termos de cultura e natureza, e também de raça dominante e escravizada, permite uma política racista da vida, portanto a apropriação nazista da obra de Nietzshe "

Apropriaram-se da obra de Nietzsche ou sua filosofia alimentava idéias nazistas e racistas?

Sua irmã era nazista e por tabela tal fama respingou nele, disseram os que o consideravam acima do bem e do mal, embora Ntz tenha dito que a Europa deveria manter a hegemonia continental graças a uma nova casta que manteria o domínio por milênios ( "Além do Bem e do Mal " , pg 113 114, Cia das Letras ).

A genealogia e a filologia foram assim usadas pelo filósofo para construir um emaranhado de valores, ora dispensando a história, ora evocando-a, e também a biologia: no meio disso pensamentos da influência evolucionista que influíram na formação de certas idéias racistas e eugênicas.

Filosofia anticristã de Nietzsche, que procura atacar a índole do cristãos consistente na atitude de impedir que o forte subjugue o fraco.

Mas onde em Nietzsche está a declaração de uma raça superior às demais?

Legalmente o racismo é a discriminação que se faz entre pessoas ou grupos, de diferentes raças ou etnias, onde um deseja incutir no outro sentimento de inferioridade por sua raça ou etnia, alegando a própria superioridade, biológica ou cultural, em relação a raça ou cultura do outro.

Em " Genealogia da Moral " Nietzsche diz :

" (... ) O cristão não dá expansão ao seu instinto, como faz o forte, e ainda quer domesticá-lo para que não exerça sua superioridade contra o fraco. (... ) Padres e e rabinos por isso integrariam o grupo dos fracos, e seriam eles os responsáveis por impedirem o forte de exercer todo o seu poder. (... ) O padre cristão e o líder judeu, assim, não vivem o presente - submissos que são a vontade soberana de um Deus (... ) e por isso, graças à interiorização espiritual que fazem - na verdade são movidos por sentimento de vingança e ressentimento contra o forte (... ) os não religiosos passaram a ter sua superioridade inibida em razão da proteção moral que o cristianismo dá ao fraco. "(... )

A moral cristã para ele assim nivelaria-se artificialmente fortes e fracos. Teoria onde o altruísmo e o conceito de bem, e de quem seja o bom, é justamente o inverso: cristãos na verdade seriam maus porque fazem o bem por interesse egoísta - no sentido de aliviar culpas (em cuja origem está o pecado original ) e ter direito a ganhar o céu, quando deveriam evitar o mal por amor a Deus.

Para Nietzsche o instinto predador do nobre é que seria o verdadeiro bem, porque corresponderia ao instinto natural no homem, livre de hipocrisias, pois antes deste estágio de cultura cristã o ser humano sempre exerceu livremente sua superioridade subjugando o forte ao mais fraco.

Estabelecia uma comparação biológica ao relacionar a força dos nobres ao instinto predador da águia. Dizia que o exercício da força vem livre de culpas ou preocupação - com o caráter bom ou mau da ação - já que este caráter não existe na lei natural, inversamente ao que faz a moral cristã: querendo domesticar a águia como se fosse ovelha.

O judeu para Ntz era um povo que tinha a supremacia mundial, mas isso porque exerciam esse sentimento de vingança, coletivamente, presos a um mentalidade - de escravos de um Deus que coletivamente diz a todos os que devem ou não fazer. Por isso o filósofo afirmava que era preciso romper com todo este passado, indo-se até a época anterior, onde o instinto predador do homem, seu poder de criação e destruição, era então exercidos livremente.

Uma expansão dos instintos primitivos que conduziria à destruição, crimes e mortes - esta a "Besta Loira" de que fala Nietzsche na Genealogia da Moral : " Na raiz das raças nobres é difícil não reconhecer a ave de rapina, magnífica besta loura ".

Texto onde pouco antes falaria da beleza da ida aos instintos mais primitivos, livres de toda coerção social, onde os fortes deixariam "uma sucessão horrenda de assassínios incêndios, violações e torturas, como se não passasse de brincadeira de estudantes. "

Influência de Nietzsche que depois chegaria aos nazistas, pois na mochila de cada soldado que ia à frente de batalha Hitler ofereceu de presente um exemplar de " Assim Falava Zaratustra ": obra que incorporava a teoria do poder, destruição e inversão do bem e do mal; esta toda barbárie praticada pelos nazistas contra minorias diversas, principalmente os judeus.

Existem citações de Nietzsche dizendo-se manifestamente contra o anti-semitismo, mas o pensamento dele a esse respeito é defendido em Genealogia da Moral de forma bastante estruturada:

Segundo ele a solução para se ter uma sociedade que não tivesse esta mentalidade de escravo ( submissão a Deus ) seria a de considerar Deus morto, condenada toda forma de vida que cultive a interiorização com base na volta ao passado religioso.

Por isso indispensável viver o presente com toda intensidade, responsabilizando-se o sujeito pelo que a vida reserva e indo de encontro a ela, destemidamente, ao exercer a vontade firme de um forte.

Filosofia contraria ao platonismo, que ele considerava uma filosofia dos fracos, onde bem ou mal são apenas sofismas de uma moral dominante inferior. Nietzsche desprezava a democracia e a ideia de igualdade; a própria escravatura não lhe repugnava.

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1. parte: O pensamento de Nietzsche

Em defesa da cultura | O culto ao gênio | O programa do super-homem | As melhores biografias de Nietzsche

2. parte: Especial Nietzsche

TRAÇOS BIOGRÁFICOS - AS INFLUÊNCIAS DE NIETZSCHE - EM BUSCA DO SUPER-HOMEM - NIETZSCHE: ESCULPINDO O INDIVÍDUO -

NIETZSCHE E A DECADÊNCIA - A MORTE DE DEUS - O PENSAMENTO DE NIETZSCHE - NIETZSCHE FILÓSOFO -

autor: Voltaire Schilling

Idéias destacadas dos capítulos acima:

No cristianismo está a origem da debilitação da elite européia, ao se retirar dela, antiga casta nobre, a capacidade de retaliação, indispensável para afirmá-la como poder. Elite que se enfraqueceria - com a pregação cristã da tolerância, exercício da piedade, compaixão e perdão - e se tornaria senil. O cristianismo seria assim uma religião de escravos que louvava a pobreza, a humildade (dos pobres é o Reino dos Céus) e a covardia (dar a outra face), opondo-se à ética dos fortes, dos senhores romanos. "

O ódio paulino ao sexo um disfarce do ódio que o cristianismo devota à vida, devido ao sentimento de inferioridade intrínseca daqueles que se ressentiam contra os seus dominadores. A influência dos evangelistas teria envenenado Roma, contribuindo para a sua decadência, ao fazer com que o senhores do império perdessem o elã e a crueldade, que era preciso para manter coeso o seu domínio do mundo.

Os conceitos de bem e do mal assim estavam superados porque Deus morreu, logo era preciso encarar a realidade e concentrar a atenção na elaboração de uma outra ética, que se baseasse apenas na força do caráter e da personalidade do indivíduo. O super-homem executaria a transmutação dos valores, fazendo com que "Bom" e "Justo" voltassem a ser associado a "Nobre" e "Digno", e não mais a "Pobre" ou "Humilde", como ocorria na moral cristã.

Nietzsche admirava homens titânicos que povoaram a época renascentistas: audazes, egoístas, incorrendo no crime e na mentira, artistas do embuste e do engano, vivendo perigosamente entre a vida e a morte. O darwinismo - difundido largamente após a publicação em 1859 da "Origem das Espécies" - ensinaria-lhe que a Natureza é amoral: pois a sobrevivência dos seres existentes não é determinada por critério éticos, nem pelas regras do Bem e do Mal.

A seleção dos mais aptos assim não se faria obedecendo aos princípios morais, mas sim pelo desenvolvimento da capacidade de sobrevivência e de adaptação. Surge daí a eugenia de Francis Galton: somente os mais capazes têm direito à vida; aos fracos cabe um destino inglório: a morte ou a submissão!

O Super Homem um egocêntrico que vai se opor às multidões, às massas. Ele que se identificará com a força e com a soberba e não com o desvalimento e a tibiez. Ele é corpóreo, é sensual, ama a vida e fascina-se pelo domínio, de si e o que exerce sobre os outros.

As novas tábuas do super-homem:

Despreza a religião cristã, com seu Deus morto, cuja ética ele considerou uma espiritualização da antiga casta dos sacerdotes, que se juntou à fraqueza, da pobreza e da covardia da gente comum. O Cristianismo é para ele uma teologia de ressentidos, uma fé de enfermos e de desgraçados.

Liberto das cangas pesadas e inibidoras da moralidade cristã e burguesa, em que foi educado e formado, o super-homem irá forjar "com companheiros que saibam afiar a sua foice" uma nova moralidade.

Habitará "a casa da montanha" ou a floresta, incessantemente superando a si mesmo, altivo como a águia, e astuto como a serpente: seus colaboradores serão chamados de "destruidores e desprezadores do bem e do mal". Inscreverá "valores novos ou tábuas novas" depois de destruir as velhas.

O super-homem é o legislador de si mesmo e o autor das suas próprias e exclusivas regras

Quais são seus inimigos :

Os sacerdotes, os pregadores da morte, seres vingativos que detestam a vida e veneram o além, mais o cristianismo com sua moral de escravos, de gente impotente e ressentida com a vida.

O que ele detesta:

O populacho, porque envenena tudo o que toca: seu sentimentalismo mela tudo, tem bocarra grotesca e sede insaciável. O SH chega a duvidar que a vida tenha a necessidade deles, pois ele não tem consolo para o corcunda, para o doente, para o fraco e covarde. Quer que eles desapareçam, que sumam.

O que mais odeia:

A idéia de igualdade defendida pelos democratas e pelos socialistas. O injusto é tentar fazer iguais os desiguais.

Zaratustra detesta "os pregadores da igualdade" que, segundo ele, não passam de " tarântulas e bem ocultas almas vingativas". Conclui não querer "ser confundido com esse pregadores da igualdade, porque os homens não são iguais".

Como sintoma da decomposição dos valores superiores, que fizeram a glória da cultura ocidental, ele apontou o verdadeiro culto, que na moderna sociedade - envenenada pelo cristianismo e pelo liberalismo dos medíocres - presta aos fracos, aos fracassados e aos insanos.

A compaixão para com o que é débil e enfermo pareceu-lhe o sinal mais agudo da decomposição de uma cultura que outrora fora superior.

Nietzsche encontra ainda uma outra razão nesta preponderância pelo fraco e pelo deserdado. Ocorre, diz ele, que as raças fortes se dizimam mutuamente.

As guerras, os desejos de poder, a aventura, as paixões fortes, arrebatadoras, tudo contribui para que elas acabem por se engalfinhar, exterminando-se. O tempo da existência delas é custoso e breve. A valentia doida de um Aquiles tem vida curta. O desaparecimento delas é sucedido por um período de profundo abatimento e corrupção generalizada.

As raças fortes, se por um lado impõem medo e respeito, não inspiram confiança, pois sempre estão prontas a pôr tudo a perder ao atenderem as exigências e aos impulsos da coragem. Desta forma, só resta a elas desaparecer ou impor-se. Uma raça dominadora, assegurou ele, "somente pode ter origens terríveis e violentas."

A volta às energias aristocráticas

Portanto, os nossos conceitos de bem e de mal eram estratagemas dos derrotados, que fizeram a façanha de substituir os valores superiores da nobreza. Dessa forma retiraram dela, enternecendo-a com rogos de piedade, a seiva necessária para aplicar uma política de mão firme.

Como conseqüência, os homens deveriam buscar valores que transcendessem a moral convencional divulgada pelo cristianismo; um retorno "à ordem de castas, à ordem hierárquica [...] para a conservação da sociedade, para que sejam possíveis tipos mais elevados, tipos superiores - a desigualdade dos direitos é a condição necessária para que haja direitos".

O mais forte faz suas próprias regras, estabelece para si qual é a melhor conduta e não espera de forma nenhuma que os outros o sigam (é o "façam o que eu digo e não o que eu faço" de Napoleão).

Ele não deve estranhar se o consideram duro e insensível, quiçá até desumano, pois estes são os atributos do super-homem, que trafega soberbo no seu Olimpo particular e só tem gestos generosos para com os demais na medida em que isto o enaltece ou satisfaz.

A obra de Nietzsche, sob o estrito ponto de vista político e ideológico, foi a mais profunda e radical manifestação intelectual contra as grandes cartas e documentos que se posicionaram pela e igualdade e liberdade que vieram à luz na cultura ocidental, desde a Declaração dos direitos do homem e do cidadão da Revolução Francesa, passando pelo Manifesto comunista de Marx e Engels, até as leis sociais da sua época. "

Se há indecisão entre Apolo e Dionísio, entre a razão e a emoção, ele recomenda seguir o deus das bacantes. Não que a razão seja dispensada mas sim que ela apenas deverá servir como um instrumento da ação e não para atravancá-la.

Não obedecendo ao desígnio divino mas sim as suas pulsões e instintos de sobrevivência, de uma natureza humana que ama lutar, o homem faz a si próprio. Ele é também um perpétuo superador de si mesmo. A conquista seja lá do que for tem um preço e um sabor incomparável. A decisão de enfrentar as coisas porém não é uníssona e nem traz resultados iguais. Alguns se decidem e vencem, os fortes; outros não, os fracos, os covardes. Merecem eles viver? Cabe à árvore da vida suportar em seus galhos esses frutos inúteis, bichados, estragados, sem esperar que nenhum vento salutar os abale e os derrube?

O sacerdote para Nietzsche é algo ainda pior. É um inimigo da vida, ele persegue com denodo toda e qualquer forma de expressão de autenticidade, de criatividade, de sensualidade, denunciando-a como fruto do orgulho e da arrogância, tratando-as como uma perigosa manifestação do pecado. É, pois, toda uma cultura religiosa milenar, herdada dos mandamentos judaicos e do clericalismo romano, estruturada nos mandamentos do "Não!"( "Não invocarás ..não roubarás...não matarás, etc...), que deve ser denunciada em favor de uma doutrina da afirmação, que enfatize um altissonante "Sim!"

Ele, o sacerdote, a pretexto de salvar a alma, é o responsável pela doença do homem. Aconselhar, ainda assim a todos, a mansidão, a humildade, a tolerância e a caridade, só avilta ainda mais as gentes, além de envergonhar os homens de força e talento. Desconsiderando serem eles os portadores de uma exuberância animal, inibem ou mutilam a mais autêntica potencialidade criativa que possuem.

Conclama assim que Jesus Cristo, martirizado na cruz, ícone da dor e do sofrimento, seja sucedido por Dionísio, o deus pagão da alegria, do delírio místico, que vem para celebrar e regozijar-se com a vida.

Seja a coroa de espinhos que apresilhava a testa sangrada do galileu, substituída fosse pelos jocosos chifres do deus-bode dos velhos pagãos. Que, enfim, o inspirador da castidade, da abstinência e do jejum, desse lugar ao estimulador do frenesi, da sensualidade e do exagero. Em termos freudianos trata-se da libertação do id e do ego das imposições do superego.

Os cinco termos capitais de Nietzsche

Termo Significado

Niilismo (Nihilismus) Expressão polivalente. Movimento intelectual e político do século XIX, e também expressão usada por Turgueniev para definir a descrença nas tradições religiosas e institucionais até então vigentes. Os crentes do Nada (do latim nihil) talvez fosse apropriado dizer, apesar de paradoxal ou contraditório.

Assim classificaram-se os militantes do ateísmo, os anarquistas, os populistas russos, e todos aqueles que se empenhavam em desafiar as normas de comportamento e a duvidar ostensivamente da religião e da existência de Deus. Uma das marcas da modernidade.

Transvaloração (Umvertung aller Werte) Exigência da filosofia nietzschiana na recuperação dos valores nobres perdidos, fazer do "mau" voltar a ser "bom", elogiar o orgulho, a vaidade, a soberba e a arrogância humana, e até o desejo de vingança, desprezar o que é vil, o que é fraco, o que é humilde, o que recende à ralé. Inverter totalmente os valores éticos do cristianismo, reabilitando os antigos valores esgotados da cultura. De certa forma é a restauração do ethos pagão que girava ao redor do herói e do guerreiro intrépido.

Super-homem (Übermensch) Teoricamente aquele que irá superar (Über) o homem. Um novo ser que, trazendo as novas tábuas, assumirá na totalidade a responsabilidade de viver num mundo ausente de Deus. Caracteriza-se por sua determinação absoluta, pela confiança em sua intuição, pelo seu caráter inquebrantável, por uma solidão ativa, corajosa, e sem concessões no tocante a sua meta (Werke). Ele é um criador, um duro, que não se deixa tomar pela compaixão, dele é o devir.

Vontade de potência (Wille zur Macht) Trata-se da pulsão permanente pela vida e pelo domínio. Requer a mobilização completa das energias, físicas e mentais, para incessantemente conduzir as coisas às últimas conseqüências. Wille zur Macht é o domínio e a superação de si, das debilidades, e, também domínio sobre os outros e sobre a natureza. A vontade liberta porque é criadora.

Eterno retorno (ewige Widerkunft) Repto nietzscheano à idéia do progresso dos evolucionistas; à divisão em três etapas da história dos positivistas; à crença do cristianismo na salvação da alma, nascida em pecado e redimida pela graça. É uma retomada da concepção cíclica (ciklós) dos pitagóricos e dos estóicos que viam um eterno perecer e renascer da natureza e da história. Tudo que houve exaurido o Grande Ano, voltará a ocorrer, intermediado pelo fogo e pela destruição periódica. "

(... )

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Estas são algumas das defesas costumeiramente apresentadas, pelos seguidores do filósofo, quando apontadas suas mazelas e contradições:

"Deve-se apenas refletir para alcançar as projeções do seu pensamento".

"Não caia na ilusão do entendimento do que “ele disse”, mas sim no que ele pensou em determinado momento, dessa forma, não vá criticá-lo quando perceber que Nit disse algo que posteriormente entra em contradição. Porque assim somos, por estarmos em constante mutação, o que não significa que você é desonrado, já que o mundo real não passa de uma representação fadada ao erro. "

E quanto ao fato dele ser contraditório o manual ensina o caminho para isentá-lo de suas contradições:

" Suas críticas são antes de tudo um grito de dor, do que uma verdade. Pois Nit escrevia o que sentia e conseqüentemente não era imune à contradições, porque nossos sentimentos são falhos e com freqüência nos levam a falar e se comportar de forma que não desejamos. O pensamento de Nit por isso é antes uma reflexão em busca da libertação, do que um conformismo de como as coisas são. Adorava poesia, e além dos seus aforismos poéticos, sua obra é recheada de metáforas, e como todas metáforas não são por si só idéias prontas e acabadas, mas nos trazem um colorido de interpretação, então ler Nit é dar vôo à imaginação e aos pensamentos, porque sua obra reflete seus traços psicológicos intensos, de caráter e espírito, que tem muito a acrescentar ao nosso modo de ver e interagir com o mundo."

Nietzsche que assim não é para ser levado a sério, mas se você quiser pode levá-lo. Por que ? Dirá o manualzinho:

" Porque sua obra é um arco-íris metafórico e suas palavras nos permitem uma reinvenção da vida e do pensamento"; um filósofo para o qual é preciso aplicar uma “interpretação individual e única” aos seus escritos… e a partir daí ter-se uma epifania reflexiva sobre o que se leu…"

" Nazismo? Isso é insustentável, uma vez que o Nazismo pressupõe seguir um líder absoluto, e Nitz disse que o homem superior era isento de regras senão as próprias. O Nazismo não existe se as pessoas não seguirem as regras pregadas pelo líder. Por favor, não tente trazer a filosofia para justificar os erros da humanidade. E mais: quando você pega seu oráculo para profeciar que a eugenia nasceu da imagem e semelhança do “homem superior” você joga tudo no lixo. Mas tudo bem, o meu significado do Nitz é totalmente diferente para cada um, ainda bem! ruim seria se fosse como a bíblia que profecia os dogmas, pois o próprio nit falou que quem o lesse não deveria interpretá-lo à maneira dele; o sentido não estão nas palavras, estão nas pessoas. Acredito que mais critica quem menos entende, deste modo as criticas feitas a ele posso perceber que provêm de fato de pessoas que não conhecem este filósofo fascinante . Acho que o importante também é não fazer de Nietzsche um novo deus e muito menos de Zaratustra, uma bíblia. Embora seria um dos melhores comparado com os exemplos de deuses que temos por aí. Leio Zaratustra separado da autoria. Leio como narrativa de ficção com um personagem muitíssimo importante para análises de vários campos: filosofia, teologia, sociologia, história etc. Não consigo imaginar esta obra como “pregação” de uma verdade. Seria o fim de toda a obra do autor. Na pluralidade dessas interpretações, foi que Nitz teve apenas a sua própria interpretação, porque princípios e valores são muletas do ser humano. "

Nietzsche que é revolucionário principalmente quando mexe com a cabeça de quem se entrega a ele:

"Ah, ia esquecendo : esse grande filósofo revelou minha ignorância, e essa martelada foi profunda, quando soube que os ignorantes é que tem preguiça de ler, e por isso não estão preparados para ler as obras desse grande filósofo; de qualquer jeito muito me surpreende a resistência infundada e impertinente de muitos contra Nietzsche… quando já na antiguidade haviam mentes mais esclarecidas e libertas.

Lenha que não falta nessa pendenga entre nitzs e os anti nitzs; esta aqui de boa qualidade:

" Sinceramente Nietzsche é um cara muito confuso. Aquela porcaria de doença atrapalhou. Ele ficava dormindo e morrendo de dores de cabeça e de vez em quando acordava e tinha uma sacada genial e também escrevia muitas bobagens e grandes incoerências. É justamente o caráter confuso, incoerente e revoltoso da obra de Nietzsche que atrai olhares de crianças, que também são incoerentes, a grosso modo. Nietzsche hoje é sinônimo de modismo nos altos escalões da filosofia. A sua popularidade entre os mais jovens revela a imaturidade de suas palavras que não hesitam em crucificar Jesus novamente sob um ponto de vista imoral e anti ético. Nietzsche, assim como tantos outros "filósofos", é mais um dos traidores do Ocidente ".

Cine Astor
Enviado por Cine Astor em 20/08/2010
Reeditado em 18/05/2015
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