Inferno e paraiso

Quando eu morrer e acordar do lado de lá, certamente olharei à minha volta ansioso por me certificar que o meu destino foi o céu.

Se não houver ninguém por perto para perguntar, desde já vou pensando que bastará olhar para os lados, para os arredores, procurando por relógio e telefone. Não os vendo, saberei que ali só se fala olhando nos olhos e não se controla o tempo. Portanto, daqui, já ensaio um sorriso para quando chegar o momento, comemorar com muita alegria, minha chegada ao paraíso. Aliás, se existe alguma coisa que Deus não deve ter é preocupação com o tempo; fosse assim, os dias de hoje seriam mais breves que os dias de Aristóteles. Tempo é uma invenção do diabo para nos torturar com a ansiedade. Telefone foi uma maléfica inspiração, porém, sem dolo, seja de Grahan Bell, ou, de Antonio Meucci, como uns bradarão me corrigindo, que buscando encurtar a distância entre as pessoas, criou essa coisa que nos tira o sossego e nos assusta toda vez que tilinta no silêncio da noite.

Se, porém, ao acordar do lado de lá, der de cara com um desses instrumentos de loucura, pouco importa que tudo o mais seja lindo como um dia de sol. Concluirei que o cenário foi feito assim, só para me enganar. Começarei a chorar porque o inferno foi o que me coube por merecimento.

Perdoa-me Senhor!

Rossan
Enviado por Rossan em 04/08/2010
Reeditado em 08/10/2011
Código do texto: T2418417