VIVER É MELHOR QUE SONHAR... (Belchior está certo!)

Passei boa parte da minha vida tentando enquadrar meus clientes de Psicoterapias nas Escolas de Psicanálise. Usava fragmentos de Freud, Adler, Lacan, até do Jung e vi a vida passando sem me sentir satisfeito com os pensamentos estruturados, pulando mais que em Kung Fu, para achar um enquadramento explicativo de um “mestre das artes terapêuticas”.

Em 1972 conheci num curso o Dr. Eduardo Kalina, Psicoterapeuta Argentino, responsável pelo atendimento de menores drogados ou infratores de pequena criminalidade em Buenos Aires, que não tinha muito tempo para abordar e orientar aqueles menores.

Seu gênio criativo levou-o a buscar na Psicoterapia Breve que elaborou e viu que não precisava ditar normas àqueles pequenos, bastava leva-los a entender o seu caminho e suas consequências, sem apontar nada. Bastava fazer as perguntas necessárias a cada caso e a percepção dos jovens os encaminhava muitas vezes para um caminho de melhores proveitos e felicidade.

Fiquei maravilhado e iniciei a usar a técnica. Bastava eu aceitar tudo que me diziam e com a curiosidade expressa, eu queria saber dos resultados, dos caminhos percorridos, da percepção do comportamento, que automaticamente, por ser abordado de forma franca, sem censura, sem “mas”, ou “meio mas”, gerava observações importantes para o próprio narrador.

Kalina talvez não percebesse, mas foi o iniciador de uma análise comportamental, que criava cognição.

Aí surgiu Beck e seus Colaboradores. Sua complementação ao meu “santo ofício”, me fez dar gargalhadas de alegria. Eu sei que muita água há de rolar e teremos percepção de meios complementares, mas aprendi algo de muito proveito.

A partir do conhecimento da aplicação da Terapia Cognitivo-Comportamental, iniciei uma nova sessão de questionamentos para minha necessidade de “inventar moda”, como dizia minha Santa Mãe. Assim pensei: “Por que não aplicar a técnica na realização da consulta psiquiátrica?”.

Para tanto, uma vez coletadas a(s) queixa(s) principal(ais) com detalhes relatados pelos clientes, iniciamos a consulta pela História Pregressa, abordando a gravidez, o parto, os primeiros desenvolvimentos, o desenvolvimento infantil, a adolescência e a vida adulta, tentando perceber, como já sabido por todo Médico consciente, que as causas de determinada eclosão do Transtorno Psiquiátrico pode ser precedido de eventuais, para não dizer frequentes, predisposições ocorridas ou hereditárias.

Para reforçar este objetivo partimos para a História Familiar e em seguida pelo estudo minucioso da História da(s) Moléstia(s) Atual(ais). Isto porque as comorbidades não devem ser esquecidas de uma análise holística do transtorno queixado.

Daí o reforço da necessidade de um conhecimento no mínimo de médio a bom, da clínica geral.

Rejeitamos uma abordagem imediatista dos sintomas visíveis (principais) e um tratamento relâmpago, pois sabemos das conseqüências de uma trovoada.

Uma vez percebidos os fatores psíquicos e suas possíveis causas predisponentes, iniciamos um diálogo não direcionado, não intimidatório, mas buscando ver o pensamento do cliente. Nossas indagações, quando centradas nas respostas de fuga, sem provocar dúvidas que possam sugerir direcionamento ou crítica, são colocadas como se quiséssemos ir fundo nesta nova “descoberta”, o que de fato acontece sem medo da abertura.

Ao sentirmos a sua incapacidade de solver a explicação, dirigimos nosso inquérito para os porquês do seu comportamento, quais as suas conseqüências, justificando sempre uma necessidade de aprendizado do comportamento do Cliente dentro de sua realidade chegando a ser confessado, sem medo, quando não é encontrada a explicação.

As possibilidades de explicação dos comportamentos costumam ser ponderadas com uma interrogação, precedida quase sempre das expressões: “Qual se aproxima mais do ideal?”, “Que resultados podem surgir?”, “Que outra(s) solução(ões) podem ser tentadas?”, “Como reagir?”, “Como reagirá(ão) o(s) envolvido(s) na solução do problema exposto?” e assim por diante.

Uma vez encontrada uma resposta que pareça adequada ao Cliente, resta-nos demonstrar uma estratégia lógica, para suprimirmos o medo de errar. Mostramos ao Cliente que o errar é perfeitamente válido, quando buscamos o acerto e este será muito valorizado, reafirmando: “quem diz não errar, só quer fingir ser perfeito” e à consequência, uma empatia é criada.

Neste ponto muitas revelações mantidas, por medo de se expor, aparecem, tornando mais rica a colocação de questões e a criação de um comportamento autoconscientizável e predisposto ao acerto.

Esta prática tem nos rendido um enorme ciclo de amizades e a divulgação da forma como tratamos.Surge uma recompensa psíquica e financeira bastante satisfatória e a sensação de que buscamos a ajudar a entender a vida de alguns Clientes.

Aos poucos o médico de família sai do anonimato, com solicitações de palestras, cursos, Consultorias de Relações Humanas em Empresas e entrevistas na mídia escrita, falada e televisada.

Cria condições, este gesto simples, para o uso da escrita de trabalhos de importância social e científica.

Mas como tudo que é bom exige a percepção do como usufruí-lo.

Temos que desligar o cronômetro; o exagero da autopromoção; sermos capaz de gostar do que fazemos; alertar aos nossos Clientes para que venham para as consultas sem uma rigidez de horário, que poderá ser prolongado, bem como poderá exigir que os seus atendimentos sejam atrasados um pouco, como quando atrasamos os de outros, quando eles foram atendidos.

O custo de todo este trabalho, será compreendido pelos usuários, que não raro se despedem com saudades e declarações de elogios.

Um conhecido, ao saber que é nosso costume divulgar estas idéias, nos questionou: “Porque dar o peixe para outros? Isto não diluirá a Clientela?”

Nossa resposta a estas questões: “Cremos ter vindo ao mundo para fazermos o que gostamos, nos encantarmos com as resoluções, inda que trabalhosas ou demoradas, mas com a certeza de que antes de procurar agradar a outrem, estaremos agradando a nós mesmos!”

Esta é uma das maiores conclusões que nossos pais e mestres nos transmitiram e seremos felizes se percebemos ter aprendido a lição.

Prefiro agir não usando pensamento do compositor Belchior na sua reflexão que ditava: “Que ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais...”, para outro, feito por ele em melhor momento: “Quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo... Viver é melhor que sonhar...”

Experimente!...

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