As duas faces (Mergulho no grande silêncio)

É no mínimo inquietante para não dizer dramática, a conclusão a que chegamos depois do encontro com a nossa face mais escondida. É como se a experiência ancestral transparecesse em certos símbolos que a alma projeta em sentimentos retorcidos, alterando a visão que temos do mundo e das pessoas. Quando mudamos de dentro para fora, nossa imagem feita por outrem também se altera. É quando dizem que não somos bem assim e que só agora finalmente nos enxergam segundo os seus flags internos, que alertas às nossas atitudes recomendam que façam. Essas mesmas pessoas que haverão de um dia também se revelar.

O silêncio da mente é um dos veículos que proporciona esse encontro. Os outros meios, que pela falta de conhecimento não me convém descrevê-los, posso apenas elencá-los entre muitos que me fogem à lembrança e até mesmo à consciência: o ocultismo, a hipnose, drogas ou chás alucinógenos, cultos religiosos, sessões psicoterapêuticas, terapias de grupo, psicodrama, Yoga, técnicas de relaxamento, etc.. Quando a quietude é um estado mais que uma qualidade e perdura insistentemente, termina por abrir a porta que nos impede de ver o bicho, ansioso por libertar-se das amarras que o encerram na velha prisão. Isso mesmo; um ser dentro do sujeito lógico que mais parece um animal. Um suposto análogo com aquilo que não arrazoa.

Dizem por ai nas filas da carne, nos centros cívicos, atrás das janelas; que este ser só está dentro do ser que é manifesto à sociedade, quando esta por sua vez só concede o privilégio àquele que lhe é conveniente, portanto inexato. Esse argumento é o mesmo que sustenta que a vida em sociedade é um baile de máscaras e, que o homem por natureza, obedece ao espírito gregário. Ciclo vicioso.

Se, de antemão, crê-se que existe outra pessoa dentro da maioria dos homens e que esta pessoa corresponde à versão original do indivíduo; são provavelmente verdadeiras duas afirmações: a de que cada um se molda conforme o seu talento, segundo o seu entendimento ou visão do interesse do bando; e a de que a grei é seletiva; concede o prestígio a cada unidade na proporção do grau em que se aproxima do interesse do grupo social, o seu “eu” transformado. Assim, explica-se a contaminação do individuo, não obstante à individualização do ser.