Perfil: Devanir de Lima- Professor do Instituto Louis Braille

O rosto traduz simpatia. Em que o tempo não fez questão de deixar as suas marcas. Pele morena e um sorriso largo que se conjuga entre a vontade de voar e ao mesmo tempo ter os pés no chão.

Um jeito sossegado daquele sotaque em que cada palavra precisa ser pronunciada minuciosamente.

Ser independente é o seu lema. E a cada cinco frases produzidas por ele quatro exclama liberdade.

O Paranaense de Arapongas Devanir de Lima de 38 anos que perdeu a visão aos 11,devido a complicações decorrentes de uma uveíte mostra que não tem medo de nada, enfrenta tudo, mas claro, tudo com certa cautela.

Ele morou em Curitiba. Foi para lá aos 12 anos de idade encarar a vida de frente.

Sempre fez tudo sozinho. E nunca se permitiu encostar-se à barra da saia da mãe ou do pai, já falecidos.

Desde então, praticou atletismo, futebol, e alguns esportes radicais como rafting.

Cursou faculdade de letras, mas não terminou. Decidiu então fazer pedagogia e viu que se identificava muito em ensinar outras pessoas.

O Instituto Louis Braille-

Assim, começa uma história em que o cenário não difere do Jardim Proença na cidade de Campinas no endereço Av. Antonio Carlos Salles Jr., 600 mais precisamente no Instituto Louis Braille.

Lugar calmo, arejado, grande, eu diria diferente. Sempre fui muito bem recebida lá. Parecia até que eu estava na minha casa.

E é lá que Devanir dá aulas a doze anos de locomoção, Braille, soroban, informática e o que vier. Desde que veio para Campinas tentar a vida.

Ele mora sozinho e adora namorar, mas não pretende casar. Embora tenha uma namorada de Santa Catarina chamada Débora.

Ao decorrer da nossa conversa pergunto a ele como é o relacionamento dele com as mulheres e com outras pessoas.

Para minha surpresa, Devanir é do tipo de quem gosta de namorar sério.

Namorou dois anos Eliana de Souza quatro anos mais velha. E abre mão de um simples beijo na boca sem sentimento. ”Para mim isto tudo é muito superficial, não vivo só de noites ou momentos.”

Bem-humorado, porém, não está para brincadeira, mesmo.

Gosta de viajar, jogar futebol, tomar uma boa “ loira gelada” e sem dúvida um papo em uma mesa de bar com os amigos.

Mas em contrapartida tem os seus momentos de “relax” em casa, ouvindo CDs, navegando na internet, pensando em sua namorada.

Ou até lidando com afazeres domésticos, que não é muito a sua praia, mas que ele garante que sabe se virar muito bem.

Ele pode até parecer desconfiado, meio tímido como ele se denominou, mas ao longo de algumas horas de conversa pode-se dizer que é difícil acreditar que ele seja introvertido.

“Sou comunicativo, tenho muitos amigos. Mas se você me deixar em uma festa sozinho vai demorar para eu me enturmar.”

Desde quando começamos a entrevista Devanir falou bastante, e prestou muita atenção nas minhas perguntas. Pelo que percebi ele adora conversar, o que era para ser um simples diálogo se tornou um papo de horas.

E além de tudo isto, Devanir é multifacetas como ele mesmo se descreveu ele topa qualquer parada.

Chega em casa e já escuta uma música,é eclético.Gosta de Rock and Roll,Axé,Jazz e o que tocar ele gosta.Só não sabe dançar,mas não se recusa a aprender quando sai para baladas.

Em vários momentos Devanir disse que se sofre preconceito ele não sente e não vê então se houver algum problema é da pessoa preconceituosa e não dele, tendo em vista que para ele é indiferente. Se ele não enxerga então nada aconteceu. Ele utiliza tudo a seu favor, sempre.

Sem frescuras, me explicou que tanto deficiente visual quanto cego, são termos semelhantes e que nenhum está errado, um questionamento que eu acredito ser fundamental na nossa sociedade cheia de termos e expressões complexas para se conceituar alguma deficiência.

Ao desenrolar da conversa se criou uma afinidade, em que o tempo e espaço não pareciam estar presentes.

A gente até esquece um limite que a outra pessoa tem, se é que isto se pode considerar uma limitação no caso dele.

Talvez, os caminhos traçados e o destino que Deus concedeu a ele só sejam diferentes do meu, ou do seu.

Mas sem dúvida a trilha que ele está percorrendo para que os degraus só tendam a diminuir, é certa...

Valquíria Rego
Enviado por Valquíria Rego em 04/07/2010
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