(Para as saudosas irmãs do Zeeon)

CÓDIGO 22

03/08/06
10:13


O soar do sino das seis me diz que mais uma vez estou atrasada, mas não me importo mais. Não desta vez.
Todos os atrasos da felicidade merecem nossa ausência diante dos meros mortais, diante de lugares tolos. 
Hoje dei adeus aos compromissos patéticos que arrumo ao longo de minha jornada; por hoje não entulhei conhecimentos fúteis e palavras vazias em minha louca caixa de memória.
Eu decidi que não queria chegar... eu não devia me fazer presente. A vida hoje me deu uma escolha e certa estou que devo atendê-la. Ésta eu pude fazer e nem precisei carregar minha bagagem tão certa estou que somente quando a grande mãe me chamar devo levá-la.
Eu sorri para mim mesma, desejei que esperassem para sempre ou até enlouquecerem pensando onde andava eu se não em suas direções.
E eu não cheguei jamais.
Hoje o meu destino me levou a outra presença...
Ela abre seus braços firmes, me enlaça, me protege; uma bela escolha para um dia perdido. 
Chego na hora certa (como sempre), mas hoje poderia morrer ali de tão em comunhão que meu corpo estava com a terra, com o ar, com a vida. 
Dei-me conta que jamais marcamos horário, mas sempre somos pontuais. O momento sempre oportuno certo e nunca trocamos uma palavra. Você me espera, me alcança, me conecta... eu vivo mais uma vez.

Ajoelho-me, peço permissão para ficar o tempo que merecer e entro em sua morada, em minha pópria alma; agradeço pelo momento, pela existência, pela paz concedida. Conto os segredos que você já sabe, faço promessas que não vou cumprir, mas você mesmo assim houve em silêncio. Peço conselhos e uma névoa de sabedoria entra em meu corpo e penetra até meus ossos. Lágrimas de carinho e ternura brotam em meus olhos, mas você quer mais, eu sei... ah doce mãe... "já tem minha vida grande deusa, que mais posso te dar?"
Levanto meu olhar, enxugo meu rosto e parto em silêncio. Aos que ainda me esperam, digo adeus. A você que véla por mim, dou até logo. Saio em busca de algo sólido para tocar e menos alucinógeno; serenidade e respostas me acompanham para o fim, e a vida - que já anda ao meu lado novamente - diz para ser mais feliz com o que eu tenho e deixar de lado aquilo que já não me pertence. Diz-me para ter aquilo que me é dado e não roubar o que não foi feito pra mim.
Diz para jogar fora o velho relógio e dar menos importância ao tempo que governa as coisas ao nosso redor.
Diz ainda para me esquecer das coisas que por algum motivo nos faz perder a vontade de viver e que achamos necessárias a nossa imagem e sobrevivência.
O mundo pode explodir (e vai explodir), mas você decide se quer queimar junto dele!
As vezes a escolha faz toda a diferença.
As vezes devemos esquecer o código.




Nota da autora: silenciosas mulheres apenas observem o falar dos seres que nada podem dizer. Eles apenas vegetam alheios a tudo que há. 

 Nota especial: o passar dos anos nos uniu e nos revelou. Nós não somos especiais, nós fomos escolhidas. Essa é a nossa dádiva. 
Carmen Locatelli
Enviado por Carmen Locatelli em 04/07/2010
Reeditado em 19/02/2015
Código do texto: T2357341
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