TECENDO A VIDA
Os antigos já bem diziam que a pressa é inimiga da perfeição
Mas como não ser apressado
nesse mundo globalizado
em que os segundos são preenchidos
com avalanches de informações???
Eis o desafio...
Mas retornando ao ensinamento do povo simples
que usava da teoria da aprendizagem cotidiana
que cada coisa tem seu tempo,
e que o melhor é fazer cada coisa de uma vez
podemos nos remeter a várias consequências que vivenciamos hoje em virtude da pressa,
e o quanto perdemos de preciosidade
na simplicidade do ordinário cotidiano
Cada objeto que rondava a vida do ser humano
tinha um significado importante
a roupa que foi tecida pela costureira,
que era amiga de uma amiga,
ou pela mãe,
com o pano que era ganhado ou escolhido
para fazer aquela roupa no modelo exclusivo
A comida que era feita lentamente,
sendo ornamentada de sabores e cheiros
aromas de um momento marcante
em que a mesa era vista como um altar,
em que o alimento era degustado como algo sagrado,
que alimentava os olhos, o corpo, a alma,
momento recheado de sorrisos e saciação
Reflexos de um passado não tão distante
mas esquecido por muitos, e hoje vivido por poucos
Em uma sociedade imediatista, em que engolimos tudo
e não temos tempo de mastigar
de degustar os alimentos
as palavras
a presença do outro ao nosso lado
em que as coisas valem mais que as pessoas...
Precisamos aprender...
Aprender com o povo simples da roça
a ter tempo de apreciar e preparar
os alimentos com carinho
com ternura de quem prepara um banquete para alguém especial
que vê o outro
no seu singular,
Aprender a aquecer a vida com a presença dos amigos
e daqueles que amamos
nas rodas de conversa à taipa do fogão a lenha
Aprender com as rendeiras e bordadeiras
a tecer a vida de uma nova forma...
Ana Lú Portes, Juiz de Fora, 29 de Junho, 2010