DA LINGUAGEM ARTÍSTICA

“A arte existe porque a vida não basta.”

Ferreira Gular.

Trata-se de um tipo inusitado de linguagem, a qual, fugindo ao lugar comum, corriqueiro, aproveita-se da conotação e instaura um novo ou diversificado sentido às palavras e ao próprio conjunto verbal.

Linguagem inusual, peculiar, inaugura-se em plenitude como condão estético, originando perplexidades, propondo questionamentos individuais e/ou interrogações ao coletivo.

Alguns escritos ou exemplares dessa especificidade utilizam-se de elementos poéticos em sua construção, porém nem sempre identificam uma peça ou exemplar necessariamente denso ou pejado de Poesia, podendo consistir ou serem suscetíveis de apreciáveis laivos de poeticidade, como é o caso da arte visual ou concreta.

No território da Poética, a linguagem artística tem construção vocabular codificada, sendo que o gênero literário Poesia (em si mesmo) já é apropriadamente metafórico, ornado de figuras de linguagem que levam à imagética ou imagística, despertando no leitor peculiar sensação de estranhamento: a dúvida é a sua pedra-de-toque, nunca a certeza.

Essa estranheza advinda da Palavra obterá (ou não) respostas no intimismo, no patamar sensitivo e intelectual daquele que a abraça. Convém lembrar que cada qual vê o mundo segundo o concebe. Autor e leitor têm universos próprios e individuados.

Cada um dá o que possui em seu talento e bagagem, bem como recebe, concebe e espalha conhecimentos, proposições e percepções daí advindos.

Enquanto a Prosa diz e/ou afirma, a Poesia é arte tipicamente provocadora: propõe e/ou sugere reflexões. O âmbito da Poesia não atinge o mundo dos fatos, as desditas cavilosas e vitórias do plano da realidade.

Por óbvio que o todo nasce do exercício humano do sentir e as emoções comandam o intimismo criador da palavra em seu traje de encantamento.

É dentro dos mecanismos viscerais da sensibilidade e da emoção que a Poética lança seus efeitos para o espargimento de alguns bens maiores como a Felicidade, Paz, Harmonia...

Não é de sua natureza o combate no teatro da guerra, os gestos e/ou ações deletérias ou danosas. No entanto, o grito de alarme, o de proteção do homem gregário em sua comunidade ou fora dela, fazem parte de seu universo especialmente quando houver injustiça, negação de direitos ou inconteste opressão.

Todavia, por funcionar como anímica revelação pessoal, a arte poética não permite explicações que retirem os individuados sigilos que se entremeiam nos inúmeros véus sob e sobre-a-palavra.

Um é o significante, proposta de desafio ao pensar, o outro é o significado, a resultante re/fundação daquilo que nos é posto frente aos olhos para o consumo pessoal.

Se a apresentamos como um mero questionamento, escafede-se: foi-se o encantamento e a re/criação que deste pode emergir, surgir, suscitar. Nega-se, desta sorte, a Poética como “fazer criando”.

Cada descoberta, nos domínios da Poesia, haverá de conter, emitir ou suscitar algum alumbramento, pitada ou centelha de alumiação das vertentes do Mistério.

Que este sentir alimente o receptor e, além disso, de sua boca possamos sorver o mel do entendimento. Que o seu paladino transborde em humanidades.

MONCKS, Joaquim. CONVERSA DE HOSPÍCIO. Obra inédita em livro solo, 2010/2024. Revisado.

https://www.recantodasletras.com.br/escrivaninha/publicacoes/preview.php?idt=2330977