Aprender para a liberdade

Sobre a liberdade

"Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta

que não há ninguém que explique

e ninguém que não entenda."

Cecília Meireles

Eu acho que a melhor definição de liberdade que existe é esta de Cecília Meireles. Liberdade é um conceito que foi estudado por vários filósofos como Leibniz, Descartes, Spinoza e Sartre. Existem várias explicações sobre o que é liberdade. Mas mesmo sem conhecer todas estas explicações será que existe alguém que já não a entenda? Intuitivamente todos nós sabemos o que é liberdade, o que é ser livre. Talvez nós percebemos mais a liberdade quando sentimos a sua falta ou quando nos privam dela mas, no fundo, todos nós pensamos saber o que é liberdade.

Podemos falar em tipos de liberdade. Liberdade de expressão, liberdade de ir e vir, liberdade de crença, liberdade de opinião. Podemos falar também em graus de liberdade ou a "quantidade" de liberdade que temos em cada situação. Você pode se expressar livremente mas não pode ofender outra pessoa. Você pode falar bem em português mas não em alemão se não dominar a língua. Você pode voar de avião mas não pode voar por si próprio como se fosse um pássaro. Você pode escolher livremente o que quer fazer mas sempre dentro de um conjunto de opções possíveis, afinal, você não pode simplesmente fazer tudo o que bem entender pois, como diz a sabedoria popular, a nossa liberdade termina onde a liberdade do outro começa. E existem também os limites de capacidade e os limites impostos por leis (do homem e da natureza).

Vamos pensar e nos concentrar agora em apenas um tipo de liberdade - a liberdade de escolha. A liberdade de escolha nos dá uma noção mais didática e concreta sobre a liberdade, essa palavra tão abstrata. A liberdade de escolha de certa forma abrange os outros tipos de liberdade pois "escolher" é algo genérico, podemos escolher qualquer coisa. Se temos a liberdade de escolha então também temos a liberdade de escolher o que dizer, onde ir, em que acreditar e em que pensar. Simplificadamente, então, podemos dizer que ter liberdade resume-se em poder fazer escolhas: quanto maior o nosso grau de liberdade, maior será o número de opções que temos e vice-versa. Vamos tentar deixar essa idéia mais clara.

Você tem a liberdade de ir e vir mas quando planeja um passeio para o final de semana você tem quantas opções de passeio? Você tem a liberdade para se expressar mas quando se manifesta você tem quantas opções, quantas formas de expressão? Se um jornal quer publicar a denúncia de um cidadão mas o governo censura, o cidadão deverá procurar outra formar para se expressar que não através do jornal - terá uma opção a menos, menos liberdade para se expressar. Se ao viajar você descobre que uma determinada rodovia está interditada, você terá que escolher outra rodovia que não aquela - terá uma opção a menos, menos liberdade para ir e vir. Se você precisa ler um livro em alemão mas não compreende o alemão, você terá que escolher um outro livro que não aquele - terá uma opção a menos, menos liberdade para estudar. Ou seja, quanto menor o número de opções menor será a sua liberdade e quanto maior o número de opções maior será a sua liberdade. Livre é aquele que consegue conscientemente fazer escolhas dentro de um conjunto de opções viáveis que pode ser maior ou menor dependendo do grau de liberdade conquistado.

Então de forma um tanto simplória podemos afirmar que buscar a liberdade é procurar aumentar o leque de opções que temos em todos os contextos de nossa vida, seja no profissional, pessoal, de lazer, familiar ou educacional. E vale ressaltar novamente: o limite de nossa liberdade tangencia o limite da liberdade alheia, então a busca pela liberdade deve ser sempre norteada pela ética e responsabilidade. Liberdade sem ética e responsabilidade é desastrosa e pode causar sérios prejuízos aos outros e a você mesmo.

Aprender aumenta as nossas opções

Agora que já temos uma visão sobre o que é liberdade vamos tentar entender melhor como a aprendizagem pode efetivamente aumentá-la, ou seja, aumentar as opções em nossas vidas. Mas isso já parece evidente, não é? Quando uma pessoa efetivamente aprende ela se torna capaz de fazer coisas que não conseguia fazer antes. E o universo da aprendizagem é vasto, vastíssimo! Podemos aprender a falar, ler, escrever, fazer contas. Podemos aprender a tocar piano, andar de bicicleta, dançar, cozinhar. Podemos aprender a empreender um negócio, construir casas, curar pessoas, contar estórias. Há tantas coisas para se aprender! Podemos aprender a aprender também. Você concorda comigo que quanto mais você aprende mais opções abrem-se na sua vida?

Imagine a seguinte situação: João em casa sozinho recebe uma ligação da Alemanha mas, não sabendo o que dizer, fica sem graça e acaba desligando. Certamente ele pensará consigo mesmo: "não tive escolha, não sei falar alemão". Já Maria que aprendeu a falar inglês, espanhol e alemão, ela sim, diante de uma situação dessas terá escolhas e saberá como agir. Ela inclusive terá muito mais opções de leitura e oportunidade de relacionamentos com pessoas que falam essas línguas.

Diante de um determinado problema você prefere ter quantas opções de solução? Cinco, três ou nenhuma? A pessoa mais capacitada (em outras palavras a que mais aprendeu) conseguirá pensar e encontrar várias possíveis soluções. Diante de um problema de engenharia civil por exemplo, eu não consigo pensar em absolutamente nenhuma solução - não tenho escolha já que não aprendi ou estudei engenharia civil. Em áreas em que o nosso aprendizado é muito parco ou inexistente não há muita coisa que possamos fazer diante de um problema, a nossa liberdade de ação é restrita. Já quando o nosso aprendizado é rico podemos passear dentre as diversas opções que se abrem.

Usufruindo a liberdade

A constituição federal brasileira nos garante a liberdade em suas especificidades legais, mas isso é suficiente para que possamos usufruí-la plenamente? A resposta é não, isso não é suficiente. Sem um aprendizado efetivo e contínuo a pessoa fica tolhida a uma vida pobre e vazia. De que adianta a lei garantir a liberdade se não estamos habilitados a usufruí-la? É o mesmo que libertar um animal silvestre que passou a vida inteira em cativeiro, certamente morrerá em poucos dias. A liberdade da selva o matará pois como viveu em cativeiro, não teve a oportunidade de "aprender" a sobreviver. Para usufruirmos a liberdade plenamente devemos estar preparados, e este preparo se dá através da aprendizagem efetiva e contínua, de processos educacionais.

Existem tantas opções de trabalho e lazer que não é possível enumerá-las. Uma pessoa que conquistou um alto grau de liberdade (um alto grau de aprendizado) consegue percorrer por estas muitas opções, já que estão disponíveis para ela. Às vezes pensamos que somente uma boa condição financeira é que abre portas e nos libertam. Ledo engano. Não nos esqueçamos que a boa condição financeira é conseqüência e não somente causa. O dinheiro não é a coisa mais importante nessa vida mas também não podemos negar a sua importância, afinal, temos que pagar as nossas contas. Entretanto e, de qualquer forma, como é que você consegue dinheiro? Trabalhando. E como é que você consegue escolher um bom trabalho? Desenvolvendo habilidades e competências. E como você consegue desenvolver habilidades e competências? Aprendendo, estudando. De um jeito ou de outro a liberdade se mostra favorável àquele que aprende, àquele que quer aprender. A liberdade naturalmente chega ao verdadeiro aprendiz.

Julho de 2009