Uma experiência "Única" no Peru, mais específicamente em "Lares"

Estava em Cusco/Peru, e me dirigia ao Vale Sagrado, quando resolvi conhecer um Povoado no caminho..Povoado de Lares e suas fontes termais.

O Peru é todo profundamente 'místico".Respiramos à cada segundo ,histórias dos nossos Ancestrais e escutamos a Terra(La Pachamama)Madre Tierra!

Eu havia viajado só, mas contava com ajuda de um irmão, um sacerdote Quéchua que precisava tanto como eu, de banhos nas àguas termais de Lares, pois já vínhamos caminhando há algum tempo, cansados, com muitos desconfortos no corpo, mas espírito sempre feliz por estarmos cercados de toda magia e força impressa nas Montanhas, (Apus) e demais trilhas que vinhamos percorrendo desde Machu Pichu(cidade dos Inkas).

Minha mochila pesava, e creio que a dele também, pois carregava uma barraca para que pudéssemos ficar em Lares.

Nesta Trilha,íamos parando e contemplando..e à cada novo passo, um gole de mate de Coca( Planta Medicinal típica dos Ancestrais Inkas, tanto no Peru como Bolívia) que com toda sua propriedade medicinal, nos mantinha firmes para prosseguir em direção as termas.

O Parente Indígena, sacerdote Quéchua, chamado Inti(SOL), não falava muito, apenas prosseguia em frente e muito determinado a chegar logo!

Havia me explicado que precisava ver uns terrenos com um amigo que morava no topo das Montanhas e que ali ele gostaria de morar para sempre.

Não o contestava, pois estava desfrutando com gratidão pelo fato dele estar me dirigindo a Lares e tudo que eu fosse vivenciar , ali, naquela Morada tão Sagrada, com certeza, era mais que uma benção!

Seguimos por horas, parando, cochilando entre estradinhas, sempre cercados de Montanhas , da brisa, do Sol que estava a nos aquecer o tempo todo, dos vôos dos Condors que nos mostravam o caminho e também outros sinais que se apresentavam de diversas formas, para quem está aberto à sentir..

Fui revendo aspectos de muitas idas e vindas àquelas terras distantes, e do por que eu estava ali.

Enfim, estávamos em Lares..As piscinas termais eram enormes, as àguas vulcâncias ali, eram mais quentes que no Povoado de Aguas Calientes, em Machu Pichu, onde também havíamos estado.

Ao chegar, logo montamos a barraca. A minha era pequenina, a dele maior, mas pouco precisáva de espaço, pois ali o espaço era estar contemplando !

As barracas ficavam no alto e as piscinas termais abaixo, onde tínhamos que descer .Organizamos nossas bagagens (poucas), fechamos tudo e descemos sem hora para retornar..Era já entardecer ,e o frio nos Andes, é sempre muito forte, mas contemporiza-se por estas horas,onde ficamos ali, mergulhados em um calor supremo dentro destas águas tão sagradas ,com propriedades medicinais.

Muitos não ficam mais de 30 minutos nas piscinas, por que "dizem" que isto prejudica, mas nós, ficamos horas...Comecei a me sentir tão, mas tão relaxada ao ver as estrelas surgindo, a Lua cheia que se apresentava e os contornos das Montanhas que mostravam os espíritos ali presentes, que não saberia aqui, descrever em palavras, tamanha beleza!

Meu amigo, irmão, Inti, não falava..seus olhos estavam fechados e ele se colocava eu um cantinho ..quieto..

Fiz o mesmo. Perdi a noção do tempo, espaço, e sobrevoei os Céus naquela noite, sem limites, dancei nas estrelas com muitos irmãos!

Creio que devemos ter ficado umas 3hs ou mais, ali, em imerssão.

Na manhã seguinte, subiríamos a Montanha de Lares, para encontrar Q'enko, outro irmão, outro sacerdote, para tratar das terras que Inti queria escolher para construir sua casa.

Não imaginei que a trilha seria tão difícil, e demorada, mas lá é assim, subimos muitos Apus (Montanhas) e caminha-se o tempo todo, quase.

As 6:00 nos levantamos, vendo o amanhecer de Lares e o colorido do Céu Andino, explêndido! Guardamos nossas bagagens, fechamos bem nossas barracas e iniciamos, mais uma jornada, em silêncio.

Por volta já de uma hora de caminhada subindo a Montanha, encontramos uma senhora (Cholita- Mulheres Andinas) que chorava demais e carregava um trouxinha de pano com comida. Sentamos ao seu lado para saber se conhecia Q'enko e ela nos revelou ser sua mãe. Ficamos felizes em encontrá-la, mas preocupados com suas lágrimas. Ela chorava demais e pedia que comêssemos sua comida.Sentamos para comer, agradecidos, por que estávamo em jejum. Ela falava com dificuldade o español, misturando com Quéchua, mas entendemos que seu filho Q'enko, não queria comer a comida e que ela, sua mae, havi ficado desgostosa com isto, mas enfim, comemos e mais uma vez, agradecemos.Seguimos atrás de Q'enko.

MaIs uma meia hora de caminhada, cansados, avistamos um Homem no topo da Montanha em uma casinha toda de Pedra, linda!

Lá, a riqueza é bem outra.Q'enko e sua familia, são proprietários de algumas Terras, mas vivem de forma muito simples, sem luxos, apenas com o essencial que é estar nas Montanhas.

Q'enko estava igualmente choroso quando o avistamos. Chorava demais!! Sentamos e perguntamos, afinal, por que ele e sua mãe choravam tanto??

Neste momento ele olhou e disse: "Lo que pasa hermanos, és que MI MADRE, tento me envenenar con su comida, hace poco tiempo", ahora mismo!

Nesta fração de tempo, eu e meu irmão, amigo INTI, nos olhamos assustados, sem entender direito o que acontecia, mas era fato! Estávamos diante da Dúvida CRUEL E TRÁGICA! Teriamos "Nós" ingerido veneno, naquela comida que a mãe de Q'enko nos ofertou quando subíamos a montanha?

Estaríamos entendendo bem? Sim, Q'enko reforçava que havíamos comido comida envenenada..E eu, então, neste momento comecei a ter sensações de morte, aceleração cardíaca, dor, enjôo, tudo!!!

Me dirigi a beira da Montanha, olhei os Condors e entreguei meu espírito!Dzendo: Aqui estou..me levem então! me despedi de todos , enviei sinais telepáticos e tudo que eu achava ter que fazer!

Mas, perguntava ao irmão INTI, por que ele estava calmo? Ele ria, me dizendo que era uma Broma(piada) ,mas eu via Q'enko chorando e via que era verdade o que falava! Pensei: Estou com dois loucos! Sou mais louca que eles?? Insisti perguntando e sacudindo INTI! Ele seguia rindo e dizendo: NÃO VAIS MORRER!ACALMA-TE!

Mas, eu, já estava certa que sim e conformava-me com os sintomas.

Q'enko ainda reforçava dizendo que o coração ia explodir por causa do veneno e eu ali, esperando , entre VIDA..MORTE..que interessante estado eu me encontrava, longe de casa, e sem comunicação alguma, sem nada!Bem, isto durou uma eternidade! fui percebendo que fosse o que fosse, eu não teria o que fazer senão esperar e rezar.

REZEI E MUITO!!

INTI, sorria, me fazia gestos para que eu me acalmasse, e que ainda íamos retornar as termas. Eu nem o escutava mais! Estava em outro mundo! Lhes digo, Não morri! Não de morte física, mas morri pelo fato de estar entre a Vida e a Morte, sem saber se estava ou não envenenada a comida que havia ingerido.

INTI despediu-se de Q'enko , eu também, ainda sob efeitos de choque, e em suspensão, mas fomos descendo a Montanha, e minhas pernas tremiam..pois tudo que possam imaginar, EU SENTI!

Então, retornamos em silêncio e INTI me olhou dizendo: "Vistes hermana! No morristes! (Vou irmã, Não morrestes). Sensibilizada e agradecida, pensei..."Pois é..Não morri, mas vivi uma Morte e Renasci", então este Ensinamento carrego para sempre! ESTAR VIVO É UMA BENÇÃO! Podemos Não estar, em uma fraça de segundos, portanto, VIVAMOS!!Façamos nosso melhor dentro disto!

Depois disto, desfrutamos mais das águas e retornamos à Cusco.

Ainda quero retornar a Lares, apesar da experiência de MORTE E VIDA. Aliás..Não existe MORTE, como um encerramento, isto sempre carreguei comigo, mas que senti um arrepio na Alma, ah..senti!

Liana Utinguassú

Killa
Enviado por Killa em 12/06/2010
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