A figura acima demonstrada é a pirâmide Tetractis, representação pitagórica do universo. Ela é fundamentada na teoria do número. Como se sabe, Pitágoras ( 570 – 461 a.C), imaginava um universo regido por números. Dessa forma, toda a filosofia estudada em sua Academia visava descobrir as propriedades dos números, pois para ele número era sinônimo de harmonia. Assim, os números pares e ímpares e suas somas expressavam as relações do universo que se encontram em permanente processo de mutação , por isso o número era considerado como a essência das coisas, o símbolo mais representativo do processo criativo do universo.
Para os adeptos do pitagórismo, o cosmo é regido por relações matemáticas. Esse pressuposto lhes foi sugerido a partir da observação dos astros. Dessa observação eles tiveram a intuição de que há uma ordem na estrutura do universo e que ela seria demonstrável em termos matemáticos e geométricos. A alternância entre dia e noite, as estações do ano e o movimento circular e perfeito das estrelas eram uma clara evidência desse pressuposto. Com isso eles cunharam o termo cosmos, para mostrar o universo regido por essa ordem númerica/geométrica. Cosmos, portanto, é um termo pitagórico que integra as idéias de ordem, harmonia e beleza.Uma das conclusões extraídas dessas especulações foi que a matéria universal era granular, e, em consequência, a sua forma seria esférica. Dessa forma, todos os corpos celestes também seriam esféricos.
Nessa cosmovisão também concluíram que a Terra também era esférica e que ela girava ao redor de um centro. Alguns pitagóricos chegaram até a intuir a rotação da Terra em volta de um eixo, mas o caráter esotérico que se atribuia ao pitagorismo impediu que suas idéias a respeito da astrologia fossem levadas a sério pelos codificadores da doutrina cristã, e assim, o pensamento pitagórico foi relagado à vala comum das heresias e codificado como pernicioso ao espírito humano.
Com a abertura proporciona pelo Renascimento, porém, o pitagorismo, junto com outros sistemas filosóficos censurados pela Igreja, ressurgiu. Os intelectuais renascentistas redescobriram-no e perceberam quem nem tudo, como afirmavam os teólogos da Igreja, eram heresias ou supertições inspiradas por pensadores influenciados pelo demônio. A maior influência da escola pitagórica deu-se no domínio da geometria foi aplicada no estudo da astrologia e da astronomia, sendo também muito útil na arquitetura e nas ciências matemáticas. Uma das mais importantes descobertas dos pitagóricos se refere às relações entre os lados do triângulo retângulo. Essas descobertas, até hoje estudadas na maioria dos curriculos escolares, foi enunciada no famoso teorema de Pitágoras.
Pitágoras afirmava que o número é o princípio fundamental que demonstra a essência do universo. Ele não distingue forma, lei e substância nos elementos. Considera ser o número o elo que liga todos elementos.
Para os pitagóricos existiam quatro elementos na natureza: terra, água, ar e fogo, todos com suas correspondências numéricas.
O símbolo da escola pitagórica era o pentagrama. Essa figura geométrica era um algorítimo importante na geometria porque ele possuia algumas propriedades fundamentais que se projetavam em outras formas. Um pentagrama é obtido traçando-se as diagonais de um pentágono regular; usando as intersecções dos segmentos dessas diagonais, é obtido um novo pentágono regular, que é proporcional ao original pela aplicação da chamada razão áurea, que se expressa pela equação a+ b= a = √5.
Essa equação mostra a relação entre o número e a forma. Diziam os pitagóricos que o pentagrama áureo tinha como principal propriedade o poder de decompor-se infinitamente em uma sucessão de quadrados e retângulos sucessivos, todos apresentando características singulares de individualidade, e ao mesmo tempo conservando as propriedades do todo em que foram recortados.Por isso ele era representativo do universo em todas as suas formas.
Como já dissemos, apesar da exatidão com que os pitagóricos trataram a matemática e a geometria, sua filosofia sempre foi classificada como esotérica. Isso provocou a rejeição da Igreja e prejudicou sua aceitação nos circulos científicos. A concepção pitagórica de que todas as coisas são números, e que o processo de libertação da alma seria resultante de um esforço feito basicamente pelo indivíduo nunca agradou aos teólogos do cristianismo. Os pitagóricos afirmavam também que a purificação da alma era resultado de um trabalho intelectual, que se dava através do estudo da estrutura numérica das coisas. Esse conhecimento faria da alma uma unidade harmônica com os demais padrões energéticos do universo, porque punha a descoberto os verdadeiros valores que se deve cultivar para a obtenção da chamada iluminação. Isso colocava o processo de salvação da alma nas mãos do próprio homem, excluindo a Igreja como intermediária. Essa foi a principal razão do pitagorismo acabar sendo colocado no rol das heresias, embora Aristóteles, o filósofo mais respeitado pela Igreja, tivesse incorporado em suas teses muitas ínfluências pitagóricas.
Os pitagóricos gostavam de demonstrar as várias propriedades dos números em figuras geométricas. Um dos números mais importante na cosmogonia pitagórica era o 10, que eles consideravam triangular. Esse número era chamado por eles de Tetraktys, ou, em português, a tétrada. A Tetractys era uma espécie de pirâmide, ou triângulo onde se inscrevia os primeiros numerais, base de toda numeração ordinal, dando como resultado um número místico, representativo dos quatro elementos-base da natureza: fogo, água, ar e terra: ou numericamente : 10=1 + 2 + 3 + 4, série que servia de representação para a totalidade do universo. Assim, a série 1,2,3,4, representaria individualmente a mônada, a dualidade, a trindade e o sólido, que equivalem, de per si, ás quatro fases de manifestações de Deus no mundo da Cabala.
α
α α
α α α
α α α α
Assim, a tétrada, que sempre era desenhada com um alfa em cima, dois alfas abaixo deste, depois três alfas e por fim quatro alfas na base da piramide, era o principal símbolo do conhecimento, segundo a filosofia pitagórica.
A Tetractys é também uma representação do sistema solar.Pitágoras deduziu conhecimentos astrológicos extremamente exatos, só comprovados pela astronomia moderna, embora no seu tempo apenas sete corpos celestes fossem conhecidos: saturno, júpiter, marte,sol, vênus, mercúrio e lua.
A TETRACTYS E A CABALA
Para Pitágoras, todos o números tinham propriedades e identidades próprias que se relacionavam, não só à forças da natureza, mas principalmente a valores morais. Assim, numa escala de 1 a 12, que seria a escala própria do universo, partindo do princípio de que haveria 12 regiões cósmicas ( os 12 signos do zodíaco), os pitagóricos chegaram a interessantes concepções, muito semelhantes àquelas deduzidas pelos cultores da Cabala numérica. Assim temos que:
A Tetractys simboliza os quatro elementos — terra, ar, fogo e água. A seqüência 1,2,3,4 simbolizam a harmonia das esferas cóssmicas. A soma dos números perfaz 10, que é o número perfeito da mais alta ordem. Dez é também o número das Séfiras que estruturam a Árvore da Vida.
A Tetractys também é uma representação do espaço cósmico, onde a primeira linha do primeiro ponto é a dimensão zero. Na Cabala essa é dimensão da Existência Negativa, ou seja , o plano da divindade ainda não manifestada. Numericamente ela é representada pelo zero. Na Árvore da Vida é Kether, a coroa.
A segunda linha, com dois pontos, representa a primeira dimensão. Na Árvore Sefirótica ela representa Chokmah, a manifestação positiva da divindade. Numericamente ela é o 1 e geometricamente aparece como dois pontos, ligados por uma linha paralela.
A Terceira linha, com três pontos, representa a segunda dimensão, que numericamente é o 2, a Séfira Binah, um plano definido por um triângulo de três pontos. A quarta linha representa a Terceira dimensão. Numericamente ela é o três e geometricamente um tetraedro, ou um cubo.
Para os pitagóricos a Tetractys era um símbolo divino. Tanto que os iniciados tinham até uma oração que costumavam fazer em frente a ela. Essa oração dizia o seguinte:.
"Abençoa-nos, divino número, tu que dás geração aos homens e aos deuses! Ó divina, divina Tectractys,tu que conténs as raízes da vida e mantém a criação fluindo eternamente! Tu começas com a profunda e pura unidade e chegas ao sagrado quaternário. Então tu te tornas a mãe de tudo, o que comporta, que engrandece, o primeiro nascido, o que nunca desaparece, o fundamental e sagrado número dez, que tudo integra."
As escolas pitagóricas eram uma espécie de sociedade secreta. Assim, os iniciados deviam fazer um juramento à Tetractys. Depois disso serviam como aprendizes, em silêncio, durante três anos.
Os pitagóricos sustentavam que existiam 2 quaternários de números, sendo o primeiro obtido por adição e o segundo por multiplicação. Esses quaternários integrariam a música, a geometria e a aritmética, disciplinas segundo as quais a harmonia do universo estava estabelecida. O primeiro quaternário era formado pela seqüência 1,2,3,4. No total o universo comportaria 11 quaternários. E o mundo que deles resultava era geométrica e harmoniosamente estruturado.
O símbolo acima foi criado por Jacob Boehme, filósofo místico do século XVI. Ele representa a Tetractys com as iniciais do Tetragramaton, as quatro letras do nome de Deus. É uma perfeita interação simbólica entre o pitagorismo e a Cabala.
Há muita influência do pitagorismo na tradição da Cabala. A Árvore Sefirótica da Cabala, embora não tenha forma triangular, não obstante, é semelhante à Tetractys em sua conformação filosófica. Da mesma forma que as dez séfiras da Árvore da Vida da Cabala, os dez números da Tetractys também se referem às fases de emanação da essência divina no mundo real, e cada fase do quaternário corresponde a cada um dos mundos de emanação da Cabala.
A TETRACTYS, A CABALA E O TARÔ.
A Tradição do Tarô tem muita influência da Cabala e da Tetractys. Na leitura do Tarô, as várias combinações feitas com as cartas correpondem às diversas combinações dos números da Tectratys, as quais são representações de futuros eventos relacionados com a pessoa que as consulta.
A primeira posição, marcada por um ponto, representa a capacidade de leitura das cartas, que dão a habilidade de entender as outras cartas.A segunda posição, marcada por dois pontos, representa o cosmo e o individuo, e suas interrelações. A terceira fila, marcada por três pontos, representa três tipos de decisão que um indivíduo deve tomar. A quarta fila, marcada por quatro pontos, representa os quatro elementos. Eles estão conectados às forçes dinâmicas da criação e suas combinações estão relacionadas aos pensamentos, objetivos, emoções, oportunidades, e todas as realidades físicas e psicológicas do indivíduo que as consulta.
A Maçonaria incorpora em seus ensinamentos um boa dose de pitagorismo. Grande parte da simbologia ligada à geometria, trabalhada nos rituais maçônicos são de origem pitagórica. Ela está ligada não só a visão cosmológica da Maçonaria acerca das propriedades do universo, como também em relação às consequências morais que estão embutidas nessas relações geométricas e matemáticas, já que essas relações, são, ao mesmo tempo, materiais e espirituais.
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