Piedade e Crueldade

Embora sentimentos distintos, mas que de forma explícita retratam pungentemente a antonímia dessas emoções. Não raras vezes, dominam várias pessoas em atos insensatos ou quem sabe, até mesmo sublimes. Isso é claro, dependendo do "prisma" em que se observe.

Numa disputa qualquer, para que um vença é óbvio que o outro terá que perder, independente de quem quer que seja o vitorioso. Tendenciosamente torcemos pelo mais nobre dos competidores, ou pelo menos, para aquele, que mais se identifica conosco.

Quando tentamos explicar, sentimentos tão antagônicos entre si, não percebemos que a primeira vista, implicitamente, representam os dois lados de uma mesma "moeda". Embora contrapostos, o "bem" e o "mal" sempre "caminharam" juntos. Cada um na sua modalidade circunstancial.

Valores morais são peças fundamentais, na elucidação de acontecimentos, ocasionados em detrimento de momentos cruciais de relevante importância.

Quem de nós não se compraz, por um ato piedoso, externado por um rival, num momento de desprendimento emocional, ou até quem sabe, de generosidade puramente "espiritual"! Sim, porque, não há como resistir à satisfação fraternal da partilha do respeito mutuo, frente à reciprocidade do querer bem.

O que muitos não sabem, ou raramente se dão conta! É justamente da existência de fatores contrapostos, ou seja, uma espécie de "lei oculta" que regulamenta e organiza situações.

Um sistema "binário", composto de duas "faces" ou "lados", embora opostos, contrários entre si, se coadunam, intercalando-se simultaneamente.

Essa dualidade dinâmica, entre ambos, permite que se vislumbre rapidamente um sentimento do outro, ou seja, a bondade da maldade, estabelecendo uma espécie de equilíbrio natural perene.

É no mínimo intrigante poder pensar, que o bem, necessita imprescindivelmente do mal para existir. Onde termina a piedade e começa a crueldade?

Em se tratando de subjetividade, emoções virtuosas e sentimentos nobres, despertam na maioria das pessoas uma sensação de bem estar, um sentimento de júbilo, satisfazendo um anseio social natural. Uma espécie cumprimento implícito de dever moral, de um ser para com outro.

Porém, o que pode causar-nos certa estranheza, é entender o que motiva algumas pessoas a retribuírem com o mal, o bem que receberam.

Seria crueldade, impiedade ou inclemência?

Impiedade é atributo de quem é ímpio, sendo assim, daquele que despreza a religião e os sentimentos religiosos, ou seja, não respeita a crença alheia.

Seria impiedade ou insensibilidade?

Pessoas maldosas ou leigas?

Adentramos então numa seara muito delicada e polêmica, as religiões de modo geral, preconiza a magnanimidade, equanimidade, integridade moral pautada em sentimento excelso.

Os fundamentos religiosos seguem o sistema "binário", o "duelo" eterno: "luz versus trevas". Aliás, o homem vê a dualidade em tudo que se busque.

O que nos leva a pensar, que o dia é melhor que a noite? Ou que a água, seria melhor que o fogo? Com exceção da dor, que dilacera o corpo e ou flagela o espírito, as demais sensações, apenas descendem ou ascendem deste ou doutro sentimento.

É evidente que ninguém quer sofrer, mas e se, este sentimento nos é imposto para nossa evolução e depuração espiritual? São perguntas que a humanidade se faz, desde outrora!