A Razão da existência
O Objetivo da Vida
João Carlos Holland de Barcellos (Jocax) ( Março / 2004 )
Este texto procura mostrar que o “Objetivo da Vida” também utilizado aqui como “Sentido da Vida” não é outro senão àquele que nós mesmos damos às nossas vidas, e cuja escolha deve definir nossa felicidade.
Objetivo ( dic. Michaellis)
adj. 1. Que diz respeito ao objeto.
2. Que se refere ao mundo exterior.
3. Filos. Diz-se da idéia ou de tudo o que se refere aos objetos exteriores ao espírito; que proveio do objeto; que provém das sensações (opõe-se a subjetivo).
4. Que expõe, investiga ou critica as coisas sem procurar relacioná-las com os seus sentimentos pessoais.
S. m. Meta ou alvo que se quer atingir.
Finalidade
s. f. 1. Fim em vista; intuito, objetivo.
2. Filos. Causa final.
Utilizarei neste texto as palavras ‘objetivo' e ‘finalidade' como sinônimos e, quando se fizer necessário, as distinguirei.
Muitos acreditam que a vida deve ser vivida para seguir algum desígnio divino como servir a Deus ou seguir algum outro plano místico ou metafísico. O genismo, como uma doutrina materialista e ateísta nega Deus e expurga de suas bases todo tipo de crença que não passe pela “Navalha de Ocam”. Isto significa que devemos entender a vida do ponto de vista científico.
Assim sendo, sabemos que a vida em si mesma não tem nenhum objetivo. Cientificamente falando, a vida não surgiu no planeta para satisfazer algum desígnio superior ou foi criada com a finalidade de que alguma meta fosse atingida. Nada disso. A vida surgiu de reações químicas ao acaso e se desenvolveu e evoluiu porque se mostrou um subsistema físico replicante estável.
A partir do primeiro replicante, que podemos chamar de 'gene primordial', houve condições físicas necessárias para que ocorresse a evolução:
- Replicabilidade: Capacidade de se reproduzir, criar cópias de si próprio.
- Hereditariedade: Capacidade de transferir suas características na reprodução
- Variabilidade: Capacidade de alterar algumas características por mutações aleatórias
Daí em diante, a evolução da vida deslanchou. Tudo mecanicamente, sem nenhum Deus ou alguma meta superior a controla-la, sem nenhum desígnio a ser cumprido. Entretanto, se formos estudar o processo evolutivo atentamente, acharemos algumas peculiaridades interessantes. Durante bilhões de anos de evolução o que, na verdade, foi filtrado foram os genes. Eles são as entidades microscópicas que são transferidas de corpos para corpos durante o processo evolutivo. E não os indivíduos. O organismo individual sempre pereceu rapidamente. Já os genes não. Alguns ainda sobrevivem, hoje, como eram a milhões de anos atrás. Como o que está sendo "filtrado" durante estes bilhões de anos foram os genes, devemos esperar que eles se especializaram, como disse Dawkins, na arte de sobreviver e de construírem 'máquinas de sobrevivência' (corpos) cada vez mais eficazes na sua capacidade de sobreviver e passa-los (os genes) às gerações futuras.
Tudo se passa exatamente *COMO SE* os genes tivessem a intenção, o objetivo, a finalidade expressa de se perpetuarem. Mas, até prova em contrário, não o tem. Porém, eles construíram máquinas que, de fato, tem vontades, sentimentos e desejos que os fazem perpetua-los! Os genes construíram corpos com cérebros que tem fome, sentem dor, tem libido, amam etc. "para" perpetua-los. O "para" vai entre aspas porque os genes, em princípio, não têm objetivos. Os corpos, os cérebros que criaram sim. Estes podem ter. Os genes que construíram corpos que fracassaram em perpetua-los pereceram. Os que tiveram sucesso sobreviveram.
A natureza apresenta muitas estratégias mostrando que o que está em jogo não é a sobrevivência do indivíduo e sim dos genes que portam. Por exemplo, pensava-se, no passado, que o crocodilo fêmeo devorava seus filhotes quando saiam de seus ninhos na areia, mas foi verificado, posteriormente, que ela os colocava na boca, e não os engolia, mas levava-os em segurança para o rio, onde ficavam sob sua proteção. Existe, inclusive, uma espécie de peixe que, para proteger seus filhotes, guarda-os dentro de sua boca e os solta quando percebe que o ambiente está seguro. Como estes existe uma infinidade de exemplos mostrando a supremacia da perpetuação genética em relação à sobrevivência física. O livro "O Gene Egoísta", de Dawkins, esta recheado de exemplos e explicações que mostra o paradigma gene-perpetuativo da vida. Isso é fato e é a base da "Psicologia-Evolutiva" e do próprio genismo.
Agora, quando falamos de objetivo como intenção consciente, a coisa complica. Podem existir tantos objetivos quantos são as pessoas que os cultivam. Alguns, por exemplo, tem o objetivo de servir a deus e assim tornam-se celibatários e passam a vida a rezar e cultuar deus. Podem chegar até mesmo a se enclausurarem (como as carmelitas) para terem mais eficácia em seus objetivos. Neste caso, eles tomam um ruma na vida que vai contra seu imperativo biológico, contra seus genes, provocando sofrimento e podando uma vida mais feliz. Claro, não se precisa ser tão radical, mas em geral, quanto mais se autua contra o imperativo biológico mais conflitos internos se tem e menos feliz se é. É que chamamos de conflitos meme-gene.
Outro exemplo: Alguns podem ter o objetivo de ganhar dinheiro e serem ricos. Acho melhor, em termos de felicidade, que o exemplo anterior, o das carmelitas. A riqueza tem como conseqüência, mesmo que involuntária, o aumento da capacidade gene-perpetuativa, pois faz com que a capacidade de sobrevivência aumente: dificilmente alguém rico terá filhos passando fome; E a capacidade de conquista também aumenta. Entretanto, filhos dão despesa e consomem tempo então, para um objetivo simplesmente de riqueza, eles seriam um estorvo. Ou seja, mesmo tendo um objetivo aparentemente muito bom, como neste exemplo, se não tivermos os genes 'na mira', ainda assim corremos o risco de termos uma "vida vazia", pois traindo os genes por dinheiro, como neste exemplo, poderemos até obter riqueza, mas ficará faltando "algo" para uma vida plena e feliz. O mesmo se pode dizer a respeito dos que tem por objetivo o conhecimento, ou chegar a um posto político ou social de alto status etc... Assim, fixar o objetivo de vida apenas em um único fator gene-perpetuativo pode também levar à infelicidade.
O objetivo do genismo é a maximização da felicidade e, para isso, é necessário a conscientização de que fomos feito "para" perpetuarmos nossos genes e isso envolve, em nossa sociedade, muitos fatores como obter conhecimento, ter um trabalho, prestígio social, dinheiro, poder etc inclusive até mesmo estar num posto de “macho alfa”. Mas, sem ter em mente o que realmente somos, podemos facilmente, MESMO SEM QUERER, trair nossos genes, pois o que pode parecer óbvio para uns não pode não ser tão óbvio para outros, e assim perdermos a chance de sermos realmente felizes.
O genismo é também a conscientização de que devemos agir em prol de nossos genes e nunca contra eles. Esse é o verdadeiro segredo da felicidade. É essa conscientização que o genismo propõe.