Não era o momento
Não era o momento de despejar cortesias, a tarde morria nos braços da noite fria. Quem haveria de se preocupar somente com palavras se não aquecia mais que uma taça de vinho, se não envolvia tanto quanto abraços reais.
Ficou perdido entre o meio fio e o cinza do dia, cortado pelas horas caladas; o empenho das palavras, nem o colo sereno da mansa fala podia sugerir atenção, algum grito talvez pudesse ser ouvido, mas nada que pudesse tirar os olhos da realidade.
Assim ficou um rabisco sem nexo; em preto e branco, com as digitais gravadas em cada palavra, o que não passaria de mais um ensaio bobo guardado no fundo de uma gaveta. Outra gaveta abarrotada de ensaios e palavras, de verbetes especiais, esquecidos como outros tantos; só lembranças nada mais para deitar na rede em tardes de verão e reler sem pressa.
Os olhos cravados detectavam cada passo, e quase se podia auscultar a respiração, quando o desfile de linhas bêbadas feriam o papel; era um pandemônio, não se perdoava a pouca inibição, nem o desatinado desejo que sempre vinha crivado de emoções, e cada gesto havia de ser meticuloso, e quase sempre se perguntavam; qual a direção?
Ficou estreito o chão e apertada nos lábios a vontade de gritar, mas não era realmente o momento...