Classicismo Iluminismo Romantismo Naturalismo Realismo Simbolismo Neo-Pós-Modernismo
Surgiu, o Romantismo, nas últimas décadas do século XVIII na Europa. Sua mundividência contrária ao racionalismo do período neoclássico, afirmou os racionalismos que consolidariam os estados europeus. Sua visão de mundo centrou-se no indivíduo em sua dramaticidade, no caráter trágico dos ideais muitas vezes inalcansáveis, no incentivo químico da subjetividade (uso de drogas) no escapismo da condição humana reconhecidamente frágil.
Os três primeiros quartéis do século XVIII caracterizaram-se pela manifestação declarada do Racionalismo, influenciada pela objetividade sugerida pelo Iluminismo. Os princípios da história intelectual do ocidente marcados em seus fins de período pelas guerras napoleônicas.
Para o Racionalismo tudo e todas as coisas têm uma causa intelegível. A razão sempre supera a condição de análise do mundo sensível enquanto via de acesso ao conhecimento. A dedução enquanto método superior de investigação filosófica. Ela, dedução, na lógica clássica, parte de premissas gerais e chega a conclusões particulares. Na lógica contemporânea, é o raciocínio que se concluiu a partir da aplicação adequada das regras lógicas.
Os "Iluminati", presentes nos livros de Dan Brown (Anjos & Demônios e no Código Da Vince) teriam ressurgido no século XVIII, “século das luzes” (dos “filhos da luz”) remanescentes dos cultos às tradições culturais do passado remoto da história primitiva do Homo sapiens/demens sapiens. Cultos esses, surgidos em suas primitivas manifestações desde há 20.000 (?) anos no paleolítico superior (final do Plistoceno: os mais antigos fósseis humanos) de onde teriam emergido as primeiras ideias artísticas e religiosas.
Do megalitismo atlântico peninsular no neolítico (nascimento da agricultura, domesticação dos animais, megalíticos da Galiza) nas primeiras sociedades camponesas européias (às formas primitivas de judaísmo, aos cultos das culturas mediterraneas, Creta, Grécia, e outras) as grandes pirâmides foram sendo substituídas por construções mais adequadas aos tempos atualizados dos templos e catedrais do medievo.
Os construtores de pirâmides atualizavam o culto à deusa da fertilidade na intenção de obter os conhecimentos de magia da construção de obras de engenharia que seriam, futuramente, admiradas por sua pompa e suntuosidade. E por seus mistérios.
A cultura e a civilização foram criando modos de modernizar os cultos à deusa da fertilidade. Sempre buscando atualizar as formas de cultuá-la nos rituais de êxtase sexual (hieros gamos) enquanto formas de devoção. Seriam os atuais filmes pornôs uma maneira de atualizar os ritos pagãos na atualidade? Não. Mesmo.
Dan Brown no Código Da Vince afirma a sexualidade religiosa associada a rituais pagãos da fertilidade (hieros gamos), quando o pai de criação da principal personagem feminina, descendente dos reis Merovíngios, que preservaram a descendência de Jesus Cristo com Maria Madalena, faz sexo com uma parceira e é observado pela então menina Sophie Neveu ("Nova Sabedoria") que não compreende o evento e foge pensando talvez que o ato sexual por ela visualizado fosse uma manifestação de vulgarização da sexualidade.
Estamos falando de Iluminismo, dos "Iluminati" presentes nos best-sellers de Dan Brown. Da teoria conspiratória da história. Dos Templários associados ao conhecimento secreto das relíquias do Templo de Salomão resgatadas no movimento supostamente religioso das Cruzadas. A “primeira corporação multinacional mundial” da história sapiens/demens.
Na história não faltaram representantes míticos a preservarem o culto à deusa (originalmente camponesa) da fertilidade. Dionysos na Grécia, divindade cultuada na Ática em ritos iniciáticos dos Mistérios, com muitas configurações através da antiguidade, a exemplo dos mistérios de Deméter em Elêusis, conhecido enquanto filho sagrado do qual Cristo, “O Ungido”, é uma forma sincrética.
As sociedades secretas abrindo caminho após a derrota e o massacre dos Templários: alquimistas, rosacruzes, "Iluminati", maçons, tentando preservar e transmitir (assim como exercer poder sobre) as novas gerações. De modo que estas saibam, por sua vez, preservar os conhecimentos das antigas tradições. E resistir à competição entre forças dogmáticas da Igreja no mundo globalizado da corrupção religiosa.
Vinte mil anos de história emergiram na ocasião do evento cultural Iluminismo no século XVIII. As revoluções Americana e Francesa seriam mostras dessas atualizações ao culto ancestral da “deusa da fertilidade”. Agora mais democrática, a cultura da deusa abriu as pernas e os grandes lábios ávidos pelas novidades republicanas, por uma vitória definitiva sobre a dominação social perversa do feudalismo, onde reis e príncipes deitavam e rolavam, tirando proveito da fragilidade social dos camponeses à mercê de suas taras de dominação ancestral.
A dialética da contradição presente em todos os movimentos culturais, os literários, inclusive, também não faltou nele, Iluminismo, enquanto precursor do Romantismo nas letras. Os iluministas eram românticos precoces. Acreditavam que os seres humanos estavam em condições de tornar o mundo melhor via introspecção. Ou seja: pela observação pessoal dos próprios pensamentos e processos mentais.
Ora, se os seres humanos estivessem preparados para se autotutelarem psicologicamente, todos seriam mentalmente livres uma vez dispensada a tutela dos pensamentos direcionados por terceiros. Uma vez senhores de sua própria razão, os seres humanos não mais seriam dirigidos (nem digeridos) pelos interesses de outros.
Kant, luminar iluminista, acreditava que cada indivíduo é culpado da própria tutelagem “quando esta resulta não de uma deficiência do entendimento, mas da falta de determinação e coragem para se fazer uso do entendimento independentemente da direção de outrem. Sapere aude" !!! Ter coragem para fazer uso de sua própria razão: Este, o lema do iluminismo.
"Sapere aude" significa ouse saber. Atreva-se a saber! Tenha a coragem de usar seus próprios recursos mentais, intelectuais. Os iluministas, tal como podemos compreender, eram uns românticos. Ou melhor: precursores do Romantismo. Trabalhadores antecipados do movimento estético de tendência idealista. Esse movimento motivou escritores e poetas que necessitavam urgentemente de um sentido e de um sentimento objetivo para suas vidas. A sociedade necessitava sair do vazio imposto pela racionalidade pura e simples. Precisava significar-se em criatividade subjetiva. Libertar-se das correntes de uma razão que lhe prendia a alma. Trancava-lhe as ideias. Restringia-lhe os ideais.
O escritor romântico precisava traduzir, criar e exprimir um mundo menos fechado nas exigências da compreensão apenas racional dos fenômenos. Investia num mundo onde o sublime fosse possível. E a sutileza das considerações metafísicas. A Metafísica ainda não havia se transformado em metalfísica. O Romantismo permitia-lhe respirar sem a sensação de estar sendo sufocado por explicações do mundo apenas racionais.
No Romantismo os escritores, no princípio do século XIX, abandonaram as regras de composição e estilo dos autores clássicos, pelo individualismo, pelo lirismo, o egocentrismo centrado no predomínio da sensibilidade e da imaginação sobre a razão.
O Romantismo por sua vez abriu caminho para os simbolistas. Influenciados pelas relações bancárias, desportivas, intelectuais e comerciais da Europa, uma geração começava a colher os frutos da industrialização, principalmente na França de 1881, que proporcionava a seus aventureiros e viajores influenciarem-se pelo misticismo, o pensamento e as ásanas das religiões orientais: os simbolistas conseguiam ser ainda mais individualistas que os românticos.
O Simbolismo enquanto movimento estético buscava um mergulho ainda mais profundo no inconsciente freudiano que ainda estava (ah! Contradição dialética) para ser descoberto. Cientificamente. Os simbolistas buscavam o “eu” dos sonhos. Mesmo antes de “tio” Freud.
O Simbolismo é antes de tudo, segundo Massaud Moisés, antipositivista, antinaturalista e anticientificista. A atitude estética simbolista efetuava o retorno à atitude psicológica e intelectual dos românticos. Opunha-se ao culto do não eu, reforçava a volta ao egocentrismo no Simbolismo, mais intenso que no Romantismo. Neste, a introspecção estimulava apenas as primeiras camadas da vida mental do escritor, onde se localizam os conflitos e as vivências de ordem sentimental e emocional.
Já os simbolistas garimpavam as zonas mais interiores do ser, aonde a sondagem chega às camadas sedimentares mais internas na exploração subjetiva da mente inconsciente.
A afirmação do autor simbolista é pertinente ao estudo de uma estética do inusitado. Nela, é necessária a criação de meios de expressão apropriados à manifestação de uma gramática psicológica eficaz no expressar esse inusitado das descobertas via manifestações de interioridade. Em seus textos.
O escritor romântico tende a se identificar com suas personagens, com o altruísmo, o desprendimento, a abnegação, a filantropia, a beleza, a força, a sensatez, as qualidades quase sempre utópicas, ao ideal platônico de uma existência que exalta os instintos enquanto manifestação de uma natureza harmoniosa dos sentimentos, da imaginação e da fantasia valorizadas pelo transporte místico, pela idealização contumaz de objetivos superiores, plásticos, justos, éticos.
O escritor (o poeta) simbolista vai além desses limites. Românticos.
A fronteira do horizonte subjetivo romântico está na expressão realizada de sentimentos e estados de alma idealizados. Já o mundo da fantasia e do imaginário simbolista se permite “contaminar” pelo Inusitado, pelo Flutuante, pelas Oscilações subjetivas, pelo Vago, o Oculto, o Mistério, a Ilusão, a Solidão metafísica. De forma mais radical.
O escritor e o poeta simbolistas são mais ricos em imagens e vivências históricas e inconscientes. Eles ingressavam no mundo do símbolo e do misticismo, por vezes para trazer a significação mais real, a simbologia mais atualizada, para traduzir imagens oníricas e inconsistentes, proporcionando-lhes uma interpretação mais adequada de seus conteúdos, até então existentes apenas no mundo da névoa intraduzível dos significados inconscientes. Os simbolistas foram (são) garimpeiros.
Os simbolistas eram (são) astronautas na exploração de luas, planetas, tempestades solares, chuvas de meteoros e cometas, anãs brancas, gigantes vermelhas, morenas jambo, supernovas, estrelas de nêutrons, mulatas, esferas de elétrons, núcleos e outras fusões entre prótons e partículas alfas, buracos negros e outros fenômenos da interioridade nas galáxias da libido e do psiquismo:
“Na messe que enlouquece, estremece a quermesse...” “O sol, celeste girassol, esmorece...” Não são apenas jogos de palavras. São sensações vívidas. A conversão de almas pode enlouquecer aquele que participa de suas inquietudes, de seu estremecer nas diversões com fins beneficentes, sociais e religiosos.
“Fogem fluidas, fluindo à fina flor das feras...” Nesta segunda estrofe há a presença da aliteração, sinestesia, emprego de sensações, uso de termos ligados ao mundo significativo das fantasias: “As estrelas em seus olhos brilham com brilhos sinistros...” “Cornamusas e crótalos”.
No texto (simbolista) há uma forte presença da sinestesia e da aliteração na primeira estrofe. A presença do sugestivo, do abstrato: Essas imagens sugerem gaitas de fole em plena atividade musical fazendo dançar cascavéis. Eu diria, não sei ao certo se com exagero, que os simbolistas foram precursores dos surrealistas. No ato mesmo da subjetividade. “Crótalos” significa também antigo instrumento musical, semelhante a castanholas, usado nos "Mistérios de Cibele". Mãe dos deuses, simbolizava a fertilidade da natureza. Também associada à deusa mãe minóica (Potnia Theron, nome grego) cultuada desde o neolítico como “Senhora dos animais”.
Na última estrofe a sugestividade de imagens vagas, não visualizadas: “Soam vesperais ao cair as Vésperas... Uns com brilho de alabastros, Outros louros como nêsperas, No céu pardo ardem os astros...”
No texto a seguir (ultra-romântico) "Este inferno de amar...", da primeira estrofe, descreve o amor como um sofrimento, ao mesmo tempo como algo que dá prazer.
“Este inferno de amar, como eu amo!
Quem me pôs aqui na alma...
Quem foi ?”
Existem dois momentos na poesia: “O passado, a outra vida que vivi...” No segundo momento, quando encontra a amada:
“Em que paz tão serena a dormi!
Oh! Que doce era aquele sonhar...”
Direciona o amor à imagem idealizada da mulher a sonhar:
“Só me lembra que um dia formoso
Eu passei... dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pousei.
Que fez ela? Não, não sei;
Mas essa hora, a viver comecei!”
Este próximo texto II (realista) é um poema racional, onde o amor não é direcionado a apenas uma pessoa, plural, se estende a outras categorias, mescladas com problemas gerais da vida:
“Os que amei, onde estão? Idos,
Dispersos,
Arrastados nos giros dos tufões,
Levados, como em sonhos,
Entre visões,
Na fuga no ruir dos universos.”
Nesta 2ª estrofe nota-se a presença de um saudosismo mórbido, uma espiritualidade surgida de uma suposta conversa com alguém que morreu, e também uma volta ao passado (saudosismo?):
“Eu mesmo com os pés também
Imersos
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
Só vejo espuma lívida, em cachões,
E entre ela, aqui e ali, vultos
submersos...
Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os ao meu lado.”
Na 3ª estrofe o amor é visto como sagrado, eterno, idealizado:
“De novo, esses que amei vivem comigo,
Vejo-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhão ideal do eterno Bem !”
O Realismo preocupava-se apenas e suficientemente com o presente, com o contemporâneo.
No texto II (realista) o amor outra vez aparece como indirecionado. A pluralidade enquanto característica do realismo: o personalismo cede espaço ao universalismo. A volta ao passado é o enfoque objetivo da idealização.
No texto III (simbolista), há a busca de uma essência ao invés da realidade. O cultivo do Vago, do Oculto. O Mistério permitindo sondar o que há além da realidade tangível. A linguagem simbolista sugere imagens, há a presença da sinestesia. As palavras evocam, não descrevem. Há, desta forma, uma aproximação simbólica com as “realidades” ou “ausências” inefáveis.
Massaud Moisés afirma em texto sobre o Simbolismo: “As origens remotas do Simbolismo devem ser buscadas no Romantismo: o primeiro é uma espécie de continuação do segundo, com características próprias. Quando mais na frente se examinaram as doutrinas aceitas, as idéias definidas que foram defendidas pelos simbolistas, o nexo entre as duas estéticas patenteou-se claramente.”
A geração de 1870 estava à altura dos “Vencidos da Vida” (1887). Em pauta uma visão menos radical, menos cientificista da realidade. Atenuaram-se os ímpetos revolucionários. Houve um reencontro com os valores éticos e estéticos repudiados.
As novas gerações sob as influências das novas estéticas e das ideologias francesa e alemã, afirmavam o entusiasmo reformador a partir de duas revistas acadêmicas, em Coimbra:
"Os Insubmissos" e a "Boêmia Nova" (1889). Colaboradores: Eugênio de Castro, Alberto Osório de Castro, Alberto de Oliveira, Antônio Nobre, Agostinho de Campos e outros. Os grandes nomes das letras francesas dos movimentos simbolista e/ou decadentista foram divulgados. Os posicionamentos do Realismo, a partir de 1890, coincidem com os postulados simbolistas. Houve uma simbiose entre esses movimentos literários.
As origens mais memoráveis do Simbolismo, estão no Romantismo, na França, em Baudelaire, As Flores do Mal (1857). Elas, as Flores (a teoria das correspondências, surgida de um de seus sonetos) inauguram a revolução poética da qual brotou o Simbolismo, assim como outros “ismos”: o Impressionismo, o Cubismo, o Surrealismo, o Dadaísmo, o Expressionismo, o Fauvismo, e outros.
O Decadentismo surgiu de um artigo de Paul Bourget, editado em "La Nouvelle Revue", n° 13 de 1881. Nele o escritor chamava a atenção para a idéia da evidente decadência na poesia de Baudelaire, de um soneto de Verlaine, "Langueur", que evocava imagens do declínio do império romano. A aversão pela ação, a convicção de que a vida não vale a pena ser vivenciada. Alusão à decadência das estéticas vigentes.
Ora, o Realismo literário surgiu nas últimas décadas do século XIX na Europa (principalmente na França) enquanto reação ao Romantismo. Por extensão, ao Positivismo (Comte), ao Determinismo (Taine), ao Darwinismo (Darwin). E à poética parnasiana.
O Simbolismo surgiu na França, no final do século XIX, como oposição ao Realismo, ao Naturalismo e ao Positivismo da época. Talvez não seja exagero de alguns teóricos literários quando demonstram como sendo evidente uma certa coincidência das intenções realistas do Simbolismo.
Os decadentistas preconizavam a anarquia, as perversões, o satanismo, o pessimismo, a morbidez, a histeria, o rompimento do comportamento ditado pela realidade trivial. Comportamento sugerido para substituir as sequências de rotinas da cultura estabelecida que investia na quimera de significação abscôndita, adamantina, flavescente, lactescente, hiernal, marcescente, radiante, lourejante. Quanta afetação !!!
Eles, os decadentistas, aproximavam-se dos realistas e naturalistas que também combatiam a sociedade em evidente decomposição de costumes. O Decadentismo, algum tempo depois, se estabeleceu enquanto Simbolismo.
Em Portugal o Simbolismo inicia com a publicação de "Oaristos", de Eugênio de Castro, em 1890. No Brasil, "Missal" e "Broquéis", dois livros de Cruz e Souza, em 1893, iniciam o movimento simbolista. É oportuno lembrar que o Simbolismo surgiu também do repúdio coletivo à estética parnasiana da arte pela arte. Estética essa que representava o espírito positivista contemporâneo às escolas literárias do Realismo-Naturalismo.
Ciência e Razão, no período iluminista, foram as palavras mágicas, a partir das quais a realidade deveria ser observada, esmiuçada, explicada, compreendida. Um pouco depois, no final do século XIX, essas explicações da realidade não mais eram suficientes para satisfazer a curiosidade e promover as respostas pertinentes aos questionamentos de uma nova mundividência que se queria criar, forjar, nascer. Raiar. Desencanar.
18/09/1886: Jean Moréas edita no Figaro Littéraire, “Un Manifeste Littéraire”. Ele, Simbolismo, passou a ser definido enquanto uma sensibilidade inimiga da falsa sutileza, do ensinamento acadêmico, da declamação afetada, da descrição objetiva de significados. Uma nova sensibilidade estava em voga. Proclamada da França para o resto do mundo.
Fica claro que o movimento simbolista não é uma degeneração produzida pela atrofia do Romantismo. É uma segunda onda da mesma maré. Mais que isso: é uma outra maré, de um mar de sensações nunca dantes navegado. O Romantismo superava os ideais do Classicismo enquanto inquietação com o futuro da sociedade representada pelo ideal antropocêntrico. O homem enquanto fenômeno mais significativo do universo. Tal como na poesia de Drummond.
Essas preocupações do Classicismo eram realmente pertinentes. Desde que vivemos hoje numa sociedade estruturada politica, social, econômica e ideologicamente pela valorização, não do homem, mas das mercadorias. E do homem enquanto mercadoria. O sentimento universal de que o ser humano deve sempre está no centro das preocupações progressistas da sociedade não encontra afirmação pertinente na sociedade globalizada pelos interesses do senhor Mercado.
Drummond ousou ser lírico ao mesmo tempo que poetizava sobre um mundo de pessoas mecanizadas. Globalizadas pelos interesses do senhor Mercado. Romantismo, Realismo e Modernismo nele se mesclam numa síntese de lirismo poético irresistível. Simbolista.
O Classicismo, no domínio da política e da moral, era uma inquietação com os rumos da sociedade, ao mesmo tempo que uma valorização da cultura grego-romana. Classicismo e Racionalismo valorizavam as interpretações baseadas nas explicações científicas. Todos sabemos o que significa, hoje, essa valorização:
A ciência sempre esteve e estará a serviço do capital dos poderosos. E a acumulação do capital social por esses detentores do poder econômico e político não tem nenhum compromisso com o bem-estar da sociedade. O compromisso deles é com a acumulação de maiores quantidades de capital. Com investimentos que propulsionem e propiciem esse devastador armazenamento de mais e mais dinheiro. Em investimentos que visam a multiplicação de seus interesses particulares. Não os da sociedade. Nunca os da sociedade.
O escritor do Classicismo não se identificava com seus personagens, ele se posicionava fora dos ideais dos mesmos. Ele não se responsabilizava pela possíveis soluções sugeridas pelas ideias e pela ação de suas personagens. No Romantismo o escritor é o herói da narrativa, se identifica com a personalidade, as ideias e as emoções dos e das personagens que são de seu interesse de identidade pessoal. Por vezes narcísica. Veja-se as personagens heróicas do romanceiro indianista de José de Alencar.
Os românticos sugeriam que as pessoas se interessassem por eles, porque eles defendiam os direitos manifestos dos indivíduos (dessas pessoas) contra os grupos de interesses mesquinhos e localizados, grupos de "chás das cinco" de burgueses que se autodenominavam “elite”.
Ora, a humanidade nunca teve, enquanto classe social, uma “elite” (exceto, talvez, na Grécia Antiga), mas um grupo de pessoas vorazes: políticos, imperadores, faraós, reis, principados, investidores no mercado e de banqueiros filhinhos de papai, enriquecidos pela demanda da produção e a ampliação dos mercados consumidores de produtos: "O Reich Dos Mil Banqueiros".
A propósito, leia o romance HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSICity) e saiba melhor o que esse Reich significa.
Esses produtores de bugigangas, dominaram, após a Revolução Francesa, as demais classes sociais, pelo usufruto das conquista da tecnologia e pela acumulação de ativos financeiros provenientes da comercialização de produtos industrializados e em investimentos de capital.
Dona de fábricas de mercadorias e de estabelecimentos bancários, a burguesia nunca foi uma “elite” pensante. O burguês só pensa em lucro. Está fixado no objetivo de ficar rico. Conquistas de natureza intelectual só interessam à burguesia quando ela, burguesia, pode tirar proveito financeiro, político, jurídico e econômico delas. A rápido prazo. A curto prazo. A médio prazo. A longo prazo.
O romântico era (é) um rebelde em defesa do direito individual, contra as pretensões, por vezes infames, de um grupo que se diz detentor dos interesses da sociedade, quando é representante apenas dos lucros de seus negócios, grande parte das vezes, escusos. O romântico era o rebelde que não aceitava a exploração da classe burguesa (de seus políticos) insensível aos direitos e à cidadania da maioria das pessoas, transformadas, pelo burguês, em estatísticas do senhor Mercado.
Whitehead no livro "Science and the Modern World", diz que o movimento romântico reagiu contra a prevalência das ideias científicas. Insurgiu-se contra a consciência mecanicista do mundo. Até então os poetas e romancistas, a exemplo dos astrônomos e dos matemáticos, encaravam o universo como uma máquina obediente às leis da Lógica formal, sempre suscetível de explicação racional.
O Criador não teria sido mais do que um fabricante de relógios. Desses que servem para marcar o tempo de detonação de bombas usadas pelos fundamentalistas paparicados por presidentes analfabetos. Da condição humana.
Segundo Luís XIV, assim como os políticos que redigiram a Constituição Norte-Americana, as mesmas leis do automatismo involuntário que regia os mecanismo das máquinas, serviam para estruturar o sistema planetário, ou regular o funcionamento de uma máquina de produção de bens de consumo. Examinavam e definiam a natureza humana com o mesmo propósito de mecanizá-la. Para que ela coubesse em suas simplificações supostamente racionais.
O poeta romântico não aceitava essas simplificações supostamente científicas. Insubordinava-se contra esse mecanicismo cientificista. Afirmava a verdade superior de suas projeções e criações visionárias comparativamente às explicações do universo mecânico da ciência.
Quando o criador romântico aceitava os princípios desse mecanicismo, mostrava que o mesmo era externo, impassível, indiferente ao Homem: à essência íntima, inquieta, estimulante, instigante da alma insubordinada do poeta romântico.
A sensibilidade e a vontade individual é mais importante para o poeta romântico do que as leis que regem a física newtoniana. Quem melhor exprime o conflito, o mistério, as complexidades e os paradoxos da natureza humana é a poesia, a criação literária. Em última análise, a ciência só confirma essa estética. Veja-se as mais recentes descobertas do comportamento instável das partículas subatômicas. Leia-se: as descobertas da Física Quântica.
O universo concebido enquanto máquina, a sociedade vista como uma organização de conceitos e números, é insuficiente para explicar a inquietação da alma individual, as interrogações e as concepções criativas do escritor, do poeta, do intelectual. Do homem de letras.
Não confundir o homem de letras com o burocrata passivo da academia. Das instituições burocráticas ditas literárias. O sujeito responsável pelas indagações e a criação de alternativas e respostas burocráticas para essas indagações e inquietações. Com a bunda pregada no sofá e os pés cruzados sobre o tapetão. Das mordomias.
A Física e a Matemática modernas vinham de encontro às idéias mecanicistas. Essas ideias não mais contavam com o reforço da teoria da Evolução, na Biologia. Elas (ideias mecanicistas) reduziam o homem da estatura heróica dos românticos à condição de animal indefeso, perplexo, condescendente com a forças que o cercava.
Mas, rememoremos: desde Kant, desde o Iluminismo, há a defesa do homem enquanto ser que evoca a independência de não apenas dançar conforme a música. Ele reivindica a criação de seus pensamentos. Suas palavras. Sua obra. Investir em alternativas. Derrubar os muros invisíveis das limitações culturais de uma época. Emergir de seu obscurantismo para a luminosidade de um saber que seja favorável à preservação das espécies. Não apenas à sua deterioração. Mecanicista.
A humanidade toda era produto acidental das forças que a cercavam, da hereditariedade e do meio ambiente. O velho Darwin, seu darwinismo social, causava euforia, entre as mentalidadezinhas acadêmicas, em busca desesperada de alguma argumentação que pudesse justificar as ideias “racionais” entre os afetados racionalistas de coquetel, de mentalidade tacanha da academia curvada definitivamente ante a argumentação supostamente incontestável de “The Origin of Species”.
Os naturalistas da literatura acreditavam ser idênticas a composição semântica de um romance e a realização de um experimento laboratorial. Forneciam às personagens um meio ambiente, uma hereditariedade específica... E pronto !!! A “alquimia” estava feita.
Restava agora acompanhar o borbulhar da efervescência dos elementos químicos nas ampulhetas, a assimilação da química dos produtos borbulhando nos tubos de ensaio, a medição dos líquidos, o recolhimento dos gases, as anotações de ensaio e as provetas resolviam tudo. O mistério do universo estava solucionado. Que simplórios !!! FDPs !!! Alguns, geniais. Mostravam em suas criações literarias uma sociedade explorada pelo mecanismo dito evolucionário.
No século XIX os escritores realistas começavam a estudar o homem em relação ao meio ambiente e à época específica. O método era classificado enquanto científico, tendia a conduzir o leitor à conclusões mecanicistas. Madame Bovary de Flaubert é uma apreciação literária, estética, objetiva, de uma personalidade romântica. O horizonte da literatura não era mesmo a avaliação clássica e científica, mas a afirmação romântico-poética. Essa afirmação denominava-se, em França, Simbolismo.
O Simbolismo é antipositivista, antinaturalista e anticientificista. A estética simbolista sugere o retorno à atitude psicológica e intelectual dos românticos que se resumia no egocentrismo. Os textos de Poe são considerados os primeiros escritos do Movimento Simbolista. Ele formulou o novo programa literário que saía dos limites da tibieza romântica sem visar os efeitos naturalistas, atingia os objetivos ultra-românticos. Superando-os.
Poe escreveu que a indefinição é um elemento da legítima e inefável música, da expressão mais intensamente musical e poética. O efeito espiritual dessa indefinição deveria ser um dos principais objetivos do Simbolismo. Objetivo produzido também pela ulterior controvérsia entre as percepções dos diversos sentidos. A miscelânea de imagens, as metáforas deliberadamente mescladas pela paixão prosaica (ou solene) que celebra a exaltação e a intensidade dos sentidos. "Nem os franceses estavam habituados a um glossário tão diversificado e fértil".
Segundo MM o Movimento Simbolista violou as regras da versificação que, após os românticos franceses haviam permanecido intactas. A clareza e a lógica da tradição clássica, que os românticos tinham por parâmetro, não era mais pertinente. Não havia fronteira delimitada para o horizonte globalizado das influências simbolistas. O alexandrino clássico, base da poesia francesa, foi a pique como o Titanic, atingido pelo iceberg dos “vers libres”.
Mallarmé estava empenhado, no dizer de Albert Thibaudet, num “experimento desinteressado nos confins da poesia, limite onde outros pulmões achariam a atmosfera irrespirável”. Assim como os críticos e literatos da atualidade acham a atmosfera experimental do romance neo-pós-moderno, indigesta. Falta-lhes tônus intelectual para alcançá-la.
A respiração deles (críticos literários?) fica ofegante. Mas o narcisismo de suas barrigas cheias das mordomias gordurosas ingeridas sobre as escrivaninhas, salas e tapetões burocráticos nas academias de letras, nos jornais e editoras, não lhes permite acreditar numa saída estética para a literatura. E aplaudem, conformados, os escritos dos coelhos.
No momento em que a música romântica (Wagner) mais se havia aproximado da literatura, esta era atraída pela música. A poesia se afirmava através de sensações e emoções do indivíduo, mais que no Romantismo. O poeta simbolista criou a poesia mais íntima e privativa a ponto dela se tornar incomunicável ao leitor mais convencional. O Simbolismo da Divina Comédia é lógico e preciso, cerimonioso e formal. Ao contrário da representação literária dos poetas e escritores simbolistas do século XIX. E posteriores.
Simbolismo é o encantamento da imaginação através da intermediação de uma linguagem especial que não pode ser expressa pela linguagem convencional da literatura comum. Antepassada. Essa linguagem utiliza não uma expressão literal dos signos, mas a sugestão do significado mutante dos mesmos. Não à expressão trivial, mas metáforas desencadeadas por uma complexa suscitação de ideias, por uma miscelânea de percepções inusitadas, únicas, pessoais. Que transcendem às abordagens avaliativas superficiais.
A história literária dos tempos modernos, pós, e neo-pós-modernos, é a história do desenvolvimento da cultura literária inusitada do Simbolismo, da fusão e controvérsias semânticas com as escolas do Realismo, do Naturalismo, do Modernismo. Eu leio o romance neo-pós-moderno HOLOCAUSTO NUNCA MAIS (PSICity) enquanto uma forma limite da literatura simbolista. Ou seja, um romance neo-pós-moderno. Pioneiro de um novo estilo literário. Fora do alcance das mentalidadezinhas provincianas provenientes dos cursos de literatura. E jornalismo.
Ezra Pound que influenciou, entre inúmeros outros escritores, James Joyce, Wyndham Lewis, W. B. Yeats e T. S. Eliot, Ford Madox Ford, é autor de uma advertência que tem sido ignorada pela cultura literária desses tempos modernos: "Uma nação que negligencia as percepções de seus escritores, entra em declínio. Depois de um certo tempo ela cessa de criar e agir, e apenas sobrevive." Sobrevive de uma cultura de "talk-shows" tipo "big-brother".
Sobrevive na busca desesperada por mais oferta de quinquilharias. Por mais propaganda de eletrodomésticos. Por uma cultura da quantidade. Pela escravização da mentalidade coletiva aos bate-papos tatibitates do facebook. Sobrevive da construção de uma cultura neolítica em ruínas. Sem uma resposta adequada às agitações políticas e ideológicas. À perplexidade das pessoas que buscam uma comunicação interpessoal sem que tenham o que dizer.
A frase de Ezra Pound parece que foi escrita para os intelectuais do país do presidente Analfabeto. Aquele, partidário fundamentalista de uma educação à Bolsa-Bufa. Esse Chacrinha da polítika tiririca. De uma democracia que se diz sinônimo de capitalismo. De um capitalismo que se oferta como sendo ideologicamente democrático.
Ninguém parece saber que tudo mudou e se diluiu. E a cultura para se definir civilização precisa urgente, necessita, se quiser sobreviver, de novos paradigmas político, econômico, jurídico, sem os quais que futuro poderá advir de um sistema de ideias remanescentes de sítios arqueológicos do neolítico?
Quem não sabe que a intencionalidade da cultura que conduziu os astronautas aos pulinhos na Lua, e envia artefatos tecnológicos para além do sistema solar, é a mesma dos homens das cavernas?