Franz Kafka e Sófocles - "Antígona" e "A Metamorfose"

Paralelismo Biográfico

A linha tênue de divisão entre os mestres.

Franz Kafka nasceu em três de julho de 1883, em Praga, cidade que na época pertencia à monarquia austro-húngara. Ainda adolescente, declara-se socialista e ateu; participa durante a vida de movimentos anarquistas e sionistas. O escritor também fez parte, junto com outros escritores da época, da chamada Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo, uma inclinação à metafísica e uma síntese entre uma racional lucidez e um forte traço irônico. Boa parte de sua obra foi publicada postumamente.

Nascido em 496 a.C, natural de Colona, Sófocles era de família rica, foi um dramaturgo grego, um dos mais importantes escritores de tragédia, dentre aqueles cujo trabalho sobreviveu. Suas peças retratam personagens nobres e da realeza. Além das habilidades artísticas, foi um dos dez conselheiros responsáveis por organizar a recuperação de Atenas após a terrível derrota em Siracusa, na Sicília.

Tanto Franz Kafka, quanto Sófocles realizaram grandes participações político-sociais, tais como, a participação de Kafka em movimentos como o anarquismo e o sionismo; e de Sófocles no envolvimento como conselheiro organizacional da recuperação de Atenas.

Os pensamentos de realismo e realeza, o sarcasmo e a formalidade, o moderno e o épico, são implacáveis e impactantes divergências entre os autores citados.

Autocracia

“Antígona” e “A Metamorfose”

“Não há ascensão que não doa. Toda metamorfose faz doer”.

Uma forma de solucionar o dilema do poder político é consolidá-lo num homem, criando uma figura messiânica. Um autocrata é alguém que é um governante independente. Seu poder (kratos) é derivado de si mesmo (auto). Ele continua no poder por seu próprio decreto e é apoiado pelo poder militar.O absolutismo monárquico e a autocracia sempre foram sinônimos de incoerência pragmática, tanto em Tebas, quanto em qualquer Estado. Com a temática reduzida à cidade grega, pode-se incorporar na história redigida por Sófocles, ao assistir uma cena trágica de uma irmã com um único desejo: prover um fim justo ao irmão.

O ímpeto de Creonte pode ser facilmente comparado com o de outros monarcas da história, representado e mistificado por palavras que hoje viraram ditos, como por exemplo, a expressão francesa “L’état c’est moi”, que traduzida significa “O Estado sou eu”, uma famosa expressao do rei Luis XIV, o qual na época achava que o país deveria girar em torno de si.

O Rei Creonte sob o Estado e o Estado abaixo de Creonte, assim pode-se traduzir o foco, que gera a contestável consequência: a frustração e manifestação popular. Semanticamente, a palavra Rei, – iniciada em maiúscula (advento da escola formalista) – nos leva a concluir que Creonte assume superioridade sob o que já é absoluto, – nos remete poderes paralelos aos suposta e supremamente incontestáveis – e com tal poder retificar leis divinas de sua preferência.

De acordo com a visão de Kafka, cuja obra retrata a história trágica de um habitual caixeiro-viajante, trabalhador por obrigação, a fim de suportar as despesas financeiras da casa, que ao sofrer a metamorfose, regride na pirâmide familiar. Com tal fato ocorrido, Gregor sente-se magoado pela repulsa da família perante a sua modificação. Desmetaforizando essa atitude dos pais e irmã, nota-se o retrocesso dos valores do personagem, onde a integridade de um homem é denotada pela mão-de-obra e não por sua própria essência; em partes o mesmo foco serve como base na obra Sófocliana.

Em Antígona, Creonte também sofre uma espécie de metamorfose, onde passa de apenas um cidadão a rei Tebano. O fruto dessa mudança abrange em maior escala o próximo, onde as exigências sem fundamento e o descumprimento de leis divinas, são as principais diretrizes do reinado.

O Surgimento da Animalização

“Antígona” e “A Metamorfose”

“Certa manhã, ao despertar de um sonho inquieto, Gregor Samsa descobriu-se em sua cama transformado num insuportável inseto”.

A transfiguração representada por Franz Kafka em A Metamorfose, nos remete a ideia de um ser humano, que de forma inesperada, sofre modificação no seu próprio fenótipo. Essa afirmação passa a ideia que a Zoomorfização na vida de Gregor, é apenas uma “troca de fantasia”, onde toda a bagagem e experiência prossegue junto à nova imagem. Nas entrelinhas nota-se a inferência disso na vida famíliar de Gregor; onde ao presenciar à transformação do benfeitor membro, toda a família foca a preocupação no o sustento e bem estar do grupo que no ambiente vivia. A metamorfose também é vista na interação dos personagens; na ficção ou na vida real, as nossas intrínsecas ou extrínsecas mudanças trabalham na modificação e aprimoramento da essência do próximo. Gregor, ainda que recluso, apura o olhar para os acontecimentos, assistindo em pensamentos, atitudes que provam sua passada importância, contrapondo com a falta de utilidade enquanto inseto. Neste citado ponto realiza-se a contrapartida Sófocliana, onde Creonte, também metaforizado, não reage do mesmo modo.