Pirronismo (Ceticismo), Ensaio Filosófico
PIRRONISMO (CETICISMO) – doutrina fundada pelo filosofo Pirro de Élida (365/275 a.C. Élida, Grécia) considerado o verdadeiro fundador do “Ceticismo”. Seu ideário é totalmente voltado para o lado prático, material, cotidiano da vida e pode ser resumido da seguinte maneira:
1.não se deve ter, nem emitir, qualquer julgamento (ou juízo) sobre Coisa alguma. Nada se deve afirmar ou negar sobre quaisquer fatos, Seres, ou objetos, pois o Intelecto Humano é limitado e incapaz de chegar à Verdade sobre qualquer coisa. Essa proposição foi encampada pelos Sofistas (c.470 a.C.) que a batizaram de “Duvida Universal”.
2.Tudo aquilo que o Homem julga como “Verdade” não passa de simples convenção ou acordo, ou apenas hábito. Séculos depois, o filósofo empirista HUME (1711/1776, Escócia) retomou essa tese quando desacreditou em seu “Ceticismo Moderno” da própria Lei da Causalidade (Causa e Efeito), que para ele não podia ser considerada Verdadeira e/ou Válida posto que nada garante que o mesmo “Efeito” de uma “Causa (ou motivo)” ocorra, como já ocorreu. O que se tem é o mero hábito de observar que um Efeito acontece por uma Causa, mas nada assegura que tal se repetirá; por exemplo: durante uma vida de cem anos um Homem vê que a chuva vem depois do relâmpago, mas nada assegura que no dia seguinte ao de sua morte uma chuva aconteça depois de um relâmpago, porém para aquele Homem todo relâmpago precedia uma chuva; e isso acontece em razão do Ser Humano acreditar que "Sempre", "Eterno" é do tamanho de sua vida. Por isso Hume afirmava que: “convêm que substituamos toda certeza pela probabilidade”.
3.Deve-se sempre distinguir (ou diferenciar) os Fenômenos (aquilo que é perceptível através dos Sentidos: tato, visão, audição, paladar, olfato) e as “Causas Incognoscíveis”; isto é, os “motivos” que fazem algo (os fenômenos) acontecer, dos quais nada se sabe sobre tais “Motivos”, pois estão além da capacidade intelectual do Homem. Tome-se o seguinte exemplo: sinto o sabor de uma fruta, mas não consigo compreender o porquê de ter essa sensação; qual é o relacionamento que existe entre a natureza (o que é, as característica daquela fruta) e a Sensação que meu paladar capta. Deve, pois, o Homem contentar-se em compreender todo possível sobre aquela fruta, mas esquecer o porquê gosto da mesma e o porquê dela existir.
4.Tendo, portanto, o Ser Humano conseguido focalizar seus esforços apenas naquilo que pode compreender e se abstendo de ter e de emitir julgamentos é certo que chegará ao estado de completa Indiferença (ou Ataraxia, em grego; ou Nirvana, no original hindu) em que nada mais o afetará, seja bom ou ruim. Alcançará a “Paz de Espirito”, que para Pirro é a “verdadeira felicidade”.
O Pirronismo, como se viu, é um Doutrina fortemente influenciada pelo Pensamento Hindu e alguns eruditos o classificam apenas como uma Adaptação daquele e não um Sistema Filosófico na literalidade do termo. Contudo, o Pirronismo chegou à Modernidade através do Ceticismo de Hume; e as suas propostas de: buscar a “paz interior (ataraxia), a partir da recusa de emitir, e mesmo de possuir, qualquer juízo ou julgamento (époche) e pela aceitação da incapacidade intelectual de compreender as Essências e as Certezas encontraram eco em nossos dias cuja alienação mental privilegia apenas as Sensações em detrimento da Racionalidade.