Sentar e Escrever
Li, certa vez, em algum lugar: „o segredo de escrever está na bunda; se não consegue sentar não conseguirá escrever“. Por ora, penso que isto seja verdade, por experiência. Escrever é muito mais uma questão de saber (ou poder) sentar do que, sei lá, ter idéias mirabolantes, acumular experiências, saber observar.
Para escrever (bem) creio ser necessário ter paciência. Para alguém querer publicar os escritos então, uma editora renomada, por exemplo, isto requer, além de paciência, sorte e persistência. Quem não sabe lidar com “nãos” – minha opinião, claro – dificilmente conseguirá se estabelecer como escritor. Pode até ser que tenha um êxito aqui, outro acolá, mas vir a passar a vida inteira escrevendo, me custa crer.
Um escritor também, na minha opinião – friso mais uma vez pelos leitores distraídos ou apressados -, supõe-se que conheça muito bem o seu ofício. Naturalmente isso se aplica a escritores que querem se firmar profissionalmente, construir um nome, uma carreira. Quase todos os escritores que conheço contam terem começado a escrever sobretudo por instinto, por grande necessidade, por ter algo para dizer ou contar.
Comum à maioria deles, até mesmo quando não declarado, percebe-se uma grande seriedade no processo de escrever, na forma de encarar a escrita. Mesmo brincando com palavras, um escritor que se preza não brinca com a escrita, ele a respeita e isto nada tem a ver com regras pré-estabelecidas por filólogos e ou literatos. É algo maior, uma obrigação que se tem com a escrita como deusa, guia das vontades do escritor.
Está bem, falando assim, até se poderia comparar um escritor a um tipo de médium, alguém que se comunica com ou percebe seres metafísicos, espíritos ou idéias. Talvez esse relacionamento do Escritor com Sua Escrita tenha mesmo algo de metafísico, algo muito parecido com o que se chama psicografia, inspiração, o que quer que seja que leva uma pessoa a querer prender idéias a pedaços de papel.
Se bem que no caso da psicografia, me parece, as coisas estejam melhor definidas; quem assina os escritos geralmente é o espírito que os ditou, não o médium que as recebeu e copiou. Bom, não quero aqui entrar em discussões sobre o espiritismo, só quis fazer uma analogia para aclarar meu pensamento. Por enquanto, sinto difícil prover definições no tocante ao fenômeno de escrever. Talvez me falte mais leitura sobre o assunto – certamente há outros que já devam ter pensado sobre isso - quase sempre há, via de regra.
O que coloco neste texto são algumas questões que me vão pela mente neste instante, questões que me movem a escrever e pensar no processo. Sobretudo sei que me falta agora TEMPO, tempo para lapidar palavras em meus textos, chacoalhá-las, virá-las de cabeça para baixo, esticá-las, formar um círculo e fazê-las girar ao meu redor como um bambolê, por exemplo. De vez em quando tenho “distos” em meu relacionamento com elas. Justamente estas extravagâncias são o que me fascina no escrever. Difícil, pelo menos tentei explicar.
Se você está começando agora, como eu – estou há quase dois anos na estrada, digo: formalmente, contando do momento em que decidi me tornar escritora -, não se apegue religiosamente a regras de escritas dos outros. Meu conselho é tentar entendê-las e dominá-las e, dependendo da situação e do objetivo, também respeitá-las, porém definir as suas próprias e ser fiel a elas. Esse é um processo que pode durar toda a vida, e não tem porquê ser contínuo. Literatura é por natureza livre, expressa a essência do espírito humano, não? Talvez por isso mesmo seja difícil defini-la.
Está bem, chega de divagações. Matei minha sede de escrever, sentei um pouco, não ainda o suficiente para sentir a bunda doer, mas a vida fora da escrita me reclama agora, tenho que atender. Até a próxima!
Se tiver questões sobre o tema, compartilhe. Não prometo responder ou reagir imediatamente; tentarei, isto garanto.
Nota:
Meu Português tem sofrido influências de outras línguas - momento de confusão lingüística, se assim posso dizer. Caso perceba algo estranho no meu modo de formular frases etc., agradeço imensamente se me apontar.
Um abraço fraterno :-)
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Dia 08.05.2010, recebi da colega Maria Iaci um email apontando alguns errinhos básicos de Português. Somente hoje (28.05.2010) tive tempo para vir aqui e fazer as correções.
Maria, muito, muito obrigada mesmo pelas leituras freqüêntes e atentas aos meus textos! Muito agradecida pela generosidade e revisão. O mundo precisa de muito mais pessoas assim, como você! Um abraço super fraterno :-)