O Medo do Silêncio ( Celismando Sodré -Mandinho)
O MEDO DO SILÊNCIO
(Celismando Sodré-Mandinho)
Estamos perdendo um dos mais sagrados direitos do ser humano, o direito ao silêncio, este bálsamo que nos permitiu, através de profundas e caladas reflexões produtivas, não só a evolução tecnológica através de grandes idéias e invenções com a resolução de problemas práticos, como também as incríveis mergulhos para dentro do nosso ego, trazendo autoconhecimento, equilíbrio psicológico, emocional e viagens fantásticas para fora, em direção às estrelas, ao infinito do universo e da natureza, fertilizando a nossa imaginação para as artes e para a criação.
Quem nunca precisou de um momento de silêncio para refletir diante dos problemas, acontecimentos da vida que exigiam uma parada obrigatória para análise de todas as situações possíveis, além da avaliação das conseqüências dos nossos próprios atos. Para tomar decisões que afetam a nós, aos outros e ao próprio ambiente que nos cercam. É nestes momentos que precisamos urgentemente do silêncio, para que possamos vislumbrar todas as implicações das nossas intervenções na realidade que nos cerca.
Vivemos no mundo do barulho, principalmente nos grandes centros urbanos atribulados numa correria desenfreada, em que as pessoas parecem estar com os “nervos a flor da pele”, procurando por algo perdido, a procura de um norte que os orientem, o nervosismo e o estresse reina provocando discussões gratuitas, xingamentos e reações violentes, um mundo marcado por comportamentos traumáticos e até psicopatas. Não seria a falta de silêncio, além das exigências da vida moderna, uma das causas destes acontecimento preocupantes?
Chegamos a um ponto em que a quietude e a tranqüilidade são vistos como comportamentos que precisam ser evitados, é necessário correr; corra fulano, corra! Acelere beltrano, acelere! Corra... para não ser atropelado pela roda viva do mundo! Onde depressa, corra, corra! Para que? Não sei, onde se vai chegar? Todo mundo sabe, já que a morte é o destino de todos. Junto com essa obsessão pela pressa, vem o barulho, a agonia e a inquietação de um mundo formado por pessoas que caminham para a loucura, para a histeria coletiva.
O silêncio é o refúgio da consciência, como fizemos muito mal a nós mesmo, aos nossos próximos e ao meio ambiente que nos cercam, como os relacionamentos sociais parecem cada vez mais difíceis e os distúrbios psicológicos estão cada vez mais presentes, parece que usamos o barulho como subterfúgio, para esquecer, para nos entorpecer diante da visão enfumaçada e cinza da nossa sede de consumo, pelo prazer exagerado do desfrute de tudo que esta na natureza, sem medir as conseqüências, daí a nossa histeria coletiva, nossa necessidade de se drogar com o barulho para afugentar o remorso, para fugira da consciência silenciosa que cobra. É mais cômodo agir assim do que ter que admitir que se tudo continuar como está, os sobreviventes do futuro, se houver, dirão: “é... conseguimos destruir tudo, ou quase tudo, atingimos nosso objetivo!!”.
Assim caminha a humanidade... para a destruição das espetaculares condições de vida na terra, para a loucura dos grandes espetáculos barulhentos que bem poderiam se chamar “O MASSACRE DA AUDIÇÃO”, para fuga do silêncio, silêncio este que ativa nossa consciência e cobra todas as nossas ações individuais e conjuntas, o que parece ser o nosso tormento.
MEU AMIGO SILÊNCIO
( Celismando Sodré – Mandinho)
Meu amigo silêncio
Este calado professor,
Estranho companheiro
Inabalável, invisível,
Procura-me na dor
E anda ao meu lado
Por lugares inabitados,
Revelando-me muito
Com diálogos mudos
Onde nada é mais proveitoso.
Como metade do meu ser,
Insistente ele segue-me,
Tranqüilo, fascinante,
Paciente me entende.
Nada dele eu sei...
Porque é assim,
Como outra metade de mim
Que eu sempre escondo.