Otimismo e Pessimismo, Ensaio filosófico
OTIMISMO e PESSIMISMO – do Latim “OPTIMUS” e “PESSIMUS” = o melhor, o pior.
Ambos os termos são freqüentes e comuns na linguagem coloquial; na Filosófica servem para nomear dois Sistemas de Pensamento que tiveram como fundadores e/ou adeptos figuras de destaque, tais como LEIBNIZ e SCHOPENHAUER. Na seqüência analisaremos cada qual:
OTIMISMO – é a concepção ou noção segundo a qual a Realidade é “boa” por sua própria natureza. Desse modo, o “Bem” sempre vence o “Mal”. O Otimismo teve entre seus defensores os adeptos do Estoicismo*, Spinoza (1632/1677, Holanda), Leibniz (1646/1716, Alemanha) e vários outros. Leibniz, aliás, é considerado o principal adepto dessa tendência. Otimista, chegou a afirmar que “este Mundo é o melhor dos Mundos possíveis”. O “Mundo criado por Deus” seria o melhor dentre todas as alternativas existentes. Ainda segundo ele: “entre uma infinidade de Mundos possíveis, há o melhor de todos, caso contrário Deus não teria chegado a criá-lo”. Tal crença, totalmente irracional, pois como ele poderia fazer tal comparação se nada sabia dos outros, mereceu uma critica mordaz de Voltaire (1694/1778, França) que em seu livro “Cândido, ou o Otimismo” ironizou as idéias do alemão, a quem rotulava de ingênuo.
De fato, a personalidade de Leibniz era complexa e não pode ser entendida a não ser que se lhe dê um formato variado. Ao Racionalista matemático, que foi um dos descobridores do “Cálculo Infinitesimal (o outro foi Newton, na mesma época)” se junta um homem místico e possuidor de uma fé cega e irracional. Todavia, talvez essa ambigüidade explique o seu apego ao “Otimismo” num contraponto à frieza da realidade numérica. Buscava o que todos buscam: o exercício da “Esperança” em dias melhores. É o Sentimento e não a Racionalidade que pode prever (ou só desejar?) tempos futuros mais amenos.
PESSIMISMO – o oposto do Otimismo. É o título que se dá à atitude e/ou à expectativa repleta de negatividade em relação aos fatos. Sempre aguardando que o pior aconteça e/ou considerando a Realidade como adversa por sua própria natureza e crendo na impossibilidade de se fazer algo que transforme as condições opressivas e as expectativas sombrias.
Tal como seu oposto, o Pessimismo não constitui uma “Escola Filosófica”, porém alguns filósofos, especialmente Schopenhauer (1788/1860, Alemanha) tiveram suas doutrinas rotuladas como “Pessimistas”. Aqui é interessante notar que nem o filósofo alemão, nem qualquer outro que também tenha sido rotulado de Pessimista, teceram qualquer elogio ou apologia ao Pessimismo. Schopenhauer, por exemplo, em sua obra-prima “O Mundo como Vontade e Representação” limitou-se a analisar a Realidade e, nela, o poder do “Desejo”, da “Vontade (de viver)” como a Essência dessa Realidade. Para ele, a “Vontade de viver” ou o “Instinto de Sobrevivência” é o motor que movimenta todos os Seres na sua luta pela sobrevivência própria e de sua espécie. O que fez Schopenhauer foi uma análise ao molde do Ocidente, dessa parte do ideário hindu exposto nas “Upanishads” e noutros textos Sagrados do Hinduísmo*. Analisou racionalmente o Homem e a sua natureza (isto é, seu jeito de ser, suas características) e se o resultado foi ruim não lhe cabe culpa, pois ele não acrescentou nada ao que ocorre efetiva e constantemente. Isso colocado pode-se pensar de modo simplório e atrelar o Pessimismo à Realidade ou ao Realismo, enquanto que o Otimismo fica vinculado à esperança abstrata, sentimental. É claro que é um juízo resumido e dentro do assunto cabem vários níveis e sub-tendências diversas. No entanto, em qualquer tipo de estudo sobre o tema está presente a dúvida sobre a gênese e a natureza dos sentimentos negativos e positivos. Viu-se que o Otimismo está atrelado à Esperança, a qual, para alguns eruditos, não passa de mera ferramenta que a Natureza se utiliza para dar ao Homem as ilusões que lhe impedem de se auto-exterminar, tão logo tome consciência da falta de sentido da vida. Esperança, diga-se, que permeia todo agrupamento humano e que é usada, principalmente, pelas Religiões que não hesitam em estendê-la para o pós morte.
Em relação ao Pessimismo é possível pensar que sua origem está diretamente relacionada com o aumento na Cultura e, conseqüentemente, na Conscientização do individuo; ou seja, quanto mais letrado for, menos propenso será a aceitar crendices estapafúrdias em Seres imaginários, julgamentos divinos e afins. Ao Homem instruído a Realidade se mostra clara e crua e vivê-la – ao contrário da maioria iludida – exige certa estrutura que nem todos têm, resultando, em extremo, no suicídio. É exemplar o que acontece nos Países Nórdicos que no auge da civilização e comodidade enfrentam o problema de suicido em escala muito maior que em Países de terceiro ou quarto Mundo. Se for certo que fatores ambientais podem favorecer essa solução extrema, também não se pode descartar essa outra visão sobre o problema.
Claro que até aqui se falou sobre casos individuais e Homens saudáveis, não se considerando os indivíduos com alguma enfermidade física ou mental que lhe predisponha a estados depressivos, esquizofrênicos, neuróticos; e nem sobre os dependentes químicos, que também se situam nessa faixa de risco que resulta em pessimismo mórbido e suicídio.
Contemporaneamente, a questão do Pessimismo/Otimismo foi tratada pelo pensador OSWALD SPENGLER (1880/1936, Alemanha) que em sua obra “A Decadência do Ocidente”, de 1922, expressa uma idéia “pessimista” em relação à Europa do inicio do século XX; noção a que chegou através da analise da História e do desenvolvimento da Sociedade. Posição, aliás, comum a vários outros Pensadores. Mais recentemente o Existencialismo* canalizou certo Pessimismo na medida em que ao negar peremptoriamente qualquer tipo de Metafísica – com seus deuses e milagres – colocava o Homem face a face com a crueza da Realidade.
Por outro, o Otimismo vive tempos de euforia, embora sendo falso, em grande parte. O modelo econômico e social que vigora na atualidade exige “Vitoriosos” em tempo integral e mostrar-se triste, humano, passou a ser considerado como confissão de culpa por ser “um fracassado”. Desse modo, é obrigatório mostrar-se “Otimista”, mas como nem sempre é possível não se hesita em usar medicamentos e em consumir livros rotulados de “auto-ajuda”, os quais, salvo as honrosas exceções e sem entrar no mérito dos mesmos, geralmente repetem lugares-comuns como se fossem oráculos revelados e capazes de alterar a vida em poucas semanas.
Dentro desse quadro, caminha o Homem limitado pelas suas circunstâncias, como bem disse Gasset y Ortega. Espera-se que no caminho possa encontrar motivos para ser menos pessimista e mais genuinamente otimista.