Sobre o Adultério

Para vocês de mente arcaica recomendo que respirem fundo antes de ler este texto, pois encontrarão aqui idéias que muito fogem do senso comum. Antes de eu começar sugiro que respirem três vezes o mais fundo que consigam e dilatem suas mentes o máximo que conseguirem... Pois bem, comecemos:

Certo dia eu falando com uma amiga minha sobre o amor e sobre a fidelidade conjugal cheguei a algumas conclusões que de pronto falei a ela, disse, eu, que não concordo com a visão egoística que temos do amor e que exigir a fidelidade conjugal é um ato de suma hipocrisia, visto a forma com que os pais educam seus filhos e a forma que a sociedade os abraça. Dou graças a Deus que as mulheres, pelo menos algumas, estão despertando para isso também, rompendo as algemas da vil submissão insensata e tomando as rédeas de suas vidas, em praticamente todos os âmbitos, por mais que alguns destes grilhões sejam difíceis de remover.

Para melhor ilustrar o que fora dito pensemos na seguinte situação: um homem Y, com seus 30 anos casa-se com um mulher X com mesma idade, passam-se uns anos e eles tem um filho que fica anos de sua vida ouvindo de AMBOS "filho, namore muito, tenha quantas mulheres você quiser, por que ficar somente com uma é burrice" e outras idéias que ser fiel é coisa de manicaca (homem que só faz o que a mulher quer), que ele é homem e pode ter tais comportamentos e tudo o mais, que se ele não fizer isto será mal visto pela sociedade, que de pronto o irá olhar com olhos desconfiados.

Passa-se um tempo e certo dia X descobre que seu esposo tem um caso com a secretária e fica estremamente decepcionada pensando: "como ele pode ter feito isso comigo?" "como esse cachorro pode me enganar por tanto tempo, e logo com aquela mulher?" Mas X no ápice de seu desespero esquece-se, ou finge, que seu esposo teve a mesma educação que estão dando a seu filho, que não vale a pena ser fiel e que homem tem mais mesmo que ter várias namoradas, assim como um macho dominante num bando de símios.

É nesse contexto esdrúxulo que isto acontece, e o que mais acho engraçado é quando um homem foge a regra é logo tachado de mil coisas, o chamam de mole, algumas vezes até pela mulher que chega a comentar "meu marido não faz nada, é muito mole, na dele" podendo dar graças a Deus que ela casou-se com um espécime raro finda por o debochar. Como resultado disto cria-se mais um paradoxo humano, que teima em dizer ser um ser regido pelas retidões do ato, sem parar para pensar que tudo que é reto é artificial, na natureza não existem linhas retas.

No fim o velho véu é tecido com suas linhas que nos impedem de ver a verdade, que nos cega e impede que o brilho que se oculta seja contemplado por nossos olhos. O adultério a muito já é realidade em nossa sociedade, mas teima-se em querer ocultá-lo, é um tema que ainda se tem vergonha de ser tratado, enquanto a meu ver o mais salutar é destruir este véu e encararmos isto como algo normal e natural, quem sabe assim todos vivam seus relacionamentos em pratos limpos, destruindo assim a necessidade de mentir que gera um paulatino desgaste que finda sendo como traça a corroer os relacionamentos.

Talvés nos comportemos assim por ser mais cômodo e/ou por vermos o outro como um bem, algo que deve ser apenas nosso e aí de quem olhar para este bem... contudo, isto já é tema para outro ensaio...

Uma coisa que ainda estranho é que muitas mulheres, ao saber disto, mesmo dizendo que não, continuam com a medieva idéia de esperar o príncipe encantado, a esperar o momento certo para ter tais experiências, que ela deve ser apenas de um, que tais comportamentos são errados, como se o certo e o errado fossem conceitos (a grosso modo) objetivos. No fim cria-se o homem para ser o lobo e a mulher para ser o indefeso cordeiro que o máximo que faz é dizer um não, negando muitas vezes o que realmente quer, matando seus desejos mais ardentes pelo mero motivo de ela ser guiada por valores que já deveriam ter sido enterrados e esquecidos bem antes das grandes navegações.

Enquanto isto perdurar teremos uma constante leva de homens que não ligam para nada, a não ser para a instantânea satisfação de suas vontades mais erógenas e uma leva de mulheres, que mesmo já tendo se libertado de muitas amarras passadas, continuam com os mesmos valores e empecilhos que as impendem de provar e degustar de tudo que a vida tem a oforecer.

Por fim afirmo que não trago nenhuma idéia nova, todos já sabem sobre o que foi dito acima, apenas muitos (as) cerram os olhos e fingem não ver. Somos seres criados para sentir o frescor da liberdade acariciando nossa fronte e não para ser algemados e trancafiados no alçapão dos valores que nós mesmo criamos e no fim findamos sendo escravizados por eles. Queimemos o Véu de Maya e enxerguemos a realidade que se encontra por trás dele, por mais doloroso e impactante que seja.