Vida e Morte
(Ato único)
A cena passa-se adjacente a uma taverna noturna. Ao fim desta mesma rua em um aposento já abandonado, duas Damas confabulam.
A Vida está sentada em uma cadeira de madeira, observando o céu soturno e sombrio, com um instrumento de cordas em mãos.
A Morte inebriando em pé com um livro em mão olhando para a taverna, alterada. São 4 horas e o vento sussurra em todos os ouvidos perdidos no decorrer de cada caminho.
Vida:
Olhe que forma possui a natureza, que linhas perfeitas. Em cada partícula de seu ser jaz a beleza... Se pudesse ela murmurar sem o sopro de suas folhagens, entoar-nos-ia “e por perde-me é que me vão lembrando, por desfolhar-me é que não tenho fim.”
Ó lua, que recobre tal céu, brilhando com tais estrelas, és tão tenra e feliz, seu semblante conforta corações dissipados e acolhe almas retalhadas, não pensas assim irmã?
Morte:
Quem?! Eu?! Estais de gracejo? Palavras lindas, ainda são palavras, não passam de palavras... Sabes tu que a mesma lua, deste mesmo instante, luzir sobre os que nascem apagando o luzir daqueles que morrem... Fico eu com a glória sórdida de levá-los ao abismo, em que todos caminham sem o saber, e tu com a glória tampouco sórdida de seres a melhor, a dádiva, o tudo... Dos lábios mais puros, sai às palavras mais imundas... Não pensas nisto?
Vida:
De novo tu com esta confabulação... Queres acabar o nosso momento assim... Sabes que temos uma vez a cada mudança...
Morte:
E quem se importa?