Deixas Solitárias - XXX
Agrada-me descobrir, sempre, que o melhor ainda está por vir. Agrada-me perceber que ainda sou detentora de outros mistérios. Agrada-me o brinde inesperado. Embora já tenhamos dito que “superlativos & absolutos” tornaram-se predicados aquém da verdade, é difícil encontrar palavras que possam expressar à altura, os momentos que temos passado. Nada no mundo se compara à ânsia que sinto em estar a sós com você. Porque sei que, naqueles efêmeros instantes, serei a mais feliz das mulheres. Assim que as luzes morrem, protegida do mundo pela sombra de nossa cumplicidade, nasce mais uma vez mais o meu Jardim, resplendoroso em sua minúscula imensidão, fértil pelo bom adubo de seus poemas, aquecido por suas palavras de prazer & repleto de cores, como nunca antes o fora. A Senhora do Jardim agradece, sublimemente apaixonada, & se entrega de modo incondicional, sempre desejosa de mais toques daquele que fala com olhos, o ilustre hóspede, dono de mãos em labaredas, que suga sua carne com sofreguidão & goza com a força de mil homens. Atemporais são os momentos passados no Jardim, manipulada feroz/suavemente até quase a exaustão. A alma passeia no Nirvana - não está só. A Senhora do Jardim sente a falta do hóspede, chora de saudade & o prazer solitário pouco consola. Refugia-se na lembrança & alegra-se por possuir a estante de alabastro - saboreia cada palavra, morde novamente os lábios recordando o prazer recebido, sente sua carne entumescer-se & ficar úmida, clamando em silêncio pela presença do homem. O homem - cabeça de gênio criativo, coração de poeta, mãos de anjo, alma de peregrino apaixonado & olhos de menino. A senhora sabe o perigo constante, sente o fio da navalha pressionando sua própria carne - & tem medo. Medo por ela & por todos os outros, medo de perder aquilo que é tão precioso & ver o Jardim Secreto destruído. Para onde fugiria?
Ela sempre observa a coluna de rigor & respeita os mundos que a cercam. Mas a premência dos sentimentos é tamanha, que o medo é enfrentado & vencido. Seu corpo reclama o toque lascivo do homem que ama com força de mil homens & olha como um menino. É mais que paixão. Ambos sabem disso. A estrada é imprevisível & talvez os caminhos venham a ser muito distantes. Mas essas duas vidas já se cruzaram &, mesmo que o tempo & a distância lutem ferozmente contra, nada mais pode separá-las, pois o hóspede conhece os caminhos que levam até aquele Jardim, ele sabe o que a mulher carrega no coração. A Senhora do Jardim permitiu sua entrada, ela o trouxe pela mão & mostra, quase sem querer, aquilo que carrega no coração. As duas vidas já se alteraram mutuamente, o Jardim Secreto ficou mais cheio de vida & a poesia ficou mais doce. A vida pode separar o homem & a mulher, mas a Ilha nunca perderá seu Jardim, o Jardim Secreto abrigará para sempre a estante de alabastro &, sobretudo, os indizíveis momentos de amor & amizade vividos servirão, sempre, para nos lembrar-nos de quão generosa é a vida para aquele que não têm medo de amar.
Peixão89
Deixas – 1998-2000