APRISIONADOS NUMA BOLHA DE OXIGÊNIO
 
 
Certa noite, num bar de Paris, Jean-Paul-Sartre, filósofo existencialista e contumaz notívago, propalou aos amigos de sua mesa a seguinte máxima: “O homem já nasceu condenado para viver em liberdade”. Existencialista, liberal por natureza, Sartre era um ferrenho opositor aos regimes de exceção, as famosas ditaduras de estado que tanto destroçou e condenou pessoas e inteligências, muito embora tenha sido assediado pelos comunistas. De certa forma, Sartre tinha razão, pois para aquela época muito serviu os seus reclames liberais, entretanto hoje se vivendo a era quântica e atômica, quando o homem com suas máquinas sofisticadas, verdadeiras espiãs do espaço descobrem distâncias astronômicas, e assim, ele ficou sabendo perfeitamente aonde se encontra nesse universo circundante.
Com o progresso das viagens espaciais, quando o homem já mandava e continua mandando máquinas inteligentes para bisbilhotar todo o sistema solar e, dessa forma, ele ficou espantado com o que descobriu. Pois o homem não é tão livre como sempre imaginou. Infelizmente, ele se acha aprisionado numa bolha de oxigênio. Essa bolha azul tem em seu interior bem no centro um planeta constituído de rocha, metal e água que, com a sua camada de oxigênio, a conhecida atmosfera, baila graciosamente ao redor da sua estrela, o sol, a uma distância de 150 milhões de quilômetros, no período de trezentos e sessenta e cinco dias e algumas horas, a uma velocidade de 107.000 km por hora, determinando aos terráqueos as quatro estações do ano.
Neste planeta, um torrão de rocha, água e metal, vive aprisionado para sempre o homem, portanto, com o avanço da ciência e da tecnologia espacial, o homem se descobriu prisioneiro em seu próprio habitat. Aprisionado e sem saber o que fazer com a suposta liberdade, o homem, um predador por natureza, deu combate aos seus próprios irmãos e, em ato contínuo, instituiu a guerra. Essa era uma maneira estúpida de impor a sua vontade, nem sempre justa e legal, exercendo a exploração do fraco pelo mais forte e, com isso, exterminando os seus semelhantes, em troca de mais territórios, religião, ouro, alimentos e, atualmente, numa busca tresloucada por mais energia. (petróleo) No interior e na solidão deste planeta, também se criaram sistemas políticos com regimes instituídos que, nada deixaram a dever aos próprios animais, pois o homem desceu ao mais ínfimo degrau da existencialidade, se nivelando aos próprios irracionais. Exemplos: Átila, Santa Inquisição, Adolf Hitler, Joseph Stalin e outros.
Para domesticar esses animais ditos racionais, alguns homens de visão mais humanista ou espiritualista, em tempos idos, criaram ou favoreceram o surgimento das religiões que, com o tempo, algumas sumiram e outras foram oficialmente institucionalizadas. Por muito tempo as religiões dominaram a consciência humana e, de certa forma, também exterminaram aqueles que não comungavam com as suas idéias fundamentalistas. Atualmente essas mesmas religiões passaram a ser chamadas de poder moderador, mesmo assim, escravizam, aprisionam e engessam a consciência humana. Já dizia Bertram Russel que, “É inconveniente acreditar em qualquer proposição, se não existir nenhuma base para que a suponhamos verdadeira”.
Bom, o homem, mesmo estando preso nessa bolha de oxigênio, já ensaiou alguns passos ou, propriamente dito, está ensaiando viagens espaciais que o leva para fora do seu habitat natural, ocorrência essa que, até dezenas de anos atrás era tida como praticamente impossível. O homem, depois de ter vivido todas as guerras, todas as conquistas e todos os desajustes sociais, chegou à conclusão de que se assim continuasse seria iminente a destruição da própria raça humana. A ciência que o levou a esses desatinos, em tempo, agora o está levando a descobrir o imenso oceano cósmico de que faz parte e que nele vive. O homem inteligente sabe que é insignificante diante da magnitude do universo circundante, por isso, ele estuda e pesquisa a origem de tudo, inclusive a dele mesmo, para não depender de mitos, lendas e religiões. Pois, à medida que a ciência avança, diminui o território de Deus, fazendo assim, com que as religiões caminhem com os seus passos medievais para dentro da modernidade. Isso sem o engessamento da humanidade, deixando de utilizar os seus dogmas que são uma censura à intelectualidade. O homem sabe que o universo sempre existiu e sempre existirá, não há propriamente uma criação, mas simplesmente fases evolutivas que se processam no período de bilhões de anos. Diante da dificuldade em entender o processo cósmico, o homem achou mais prático acreditar num criador todo poderoso, e o deslumbramento em épocas passadas fizeram também com que os homens criassem os mitos. O oceano cósmico se expande a uma velocidade incrível, por isso, estamos navegando neste oceano em expansão, em que, talvez humanidades ainda não conhecidas desapareçam, outras nasçam estrelas morrem, galáxias novas se criam e o universo continua vivendo, bailando silenciosamente imerso numa sinfonia sideral eterna.
Este é um pequeno ensaio, que serve apenas para demonstrar que o homem não é tão livre como pensa. É verdade que a inteligência humana não terá limites, e que, com o avanço da ciência com relação à tecnologia espacial, num futuro ainda muito distante, o homem por certo viajará e explorará a própria galáxia em que vive ou irá mais longe ainda. Por enquanto, teremos de nos conformar e preservar o planeta em que vivemos, mas nunca abandonarmos o sonho das viagens intergalácticas.