A Paz Ficou Para Trás? Aonde A Sociedade A Perdeu? (I)

Há possibilidade de paz no mundo globalizado pela cultura dos comedores de bola? Poderá haver Paz sem educação pertinente a uma percepção atualizada dos atos e fatos da cultura? Impossível. Não houve, há ou haverá Paz nesse mundo globalizado por interesses localizados e, paradoxalmente, globalizados.

A burguesia deseja apenas manter os privilégios de classe. É movida por uma força radical, destrutiva, inconsciente. Fanática do lema ultrajante, destrutivo, “quanto mais dinheiro melhor”. Não importa como ele é gerado. Não importa a que forças obscuras serve. O resto é o resto. O lucro para o burguês está acima de tudo e de todas as coisas. Dos princípios morais, da religião, dos valores pessoais e coletivos, da cultura, da ética.

Em todos os lugares do planeta predomina essa força fundamentalista, burguesa, feroz, pré-histórica, que remonta aos tempos antiguíssimos do “Big-Bang”. A burguesia surgiu hegemônica, da Revolução Francesa. As plebes rudes, ignaras, reivindicaram com sucesso seus direitos. Na realidade reivindicavam os direitos da burguesia ascendente. E já não era sem tempo. A nobreza há muito merecia, segundo não poucos historiadores, o enforcamento e a guilhotina.

Sob o signo da exploração do camponês faminto, nobres e burgueses detinham enormes capitais em investimentos diversos. Dona da metade dos numerários existentes na Europa, a Bolsa de Valores, os bancos e a Caixa de Descontos da França tinham um problema antes da Revolução: a falta de mão de obra da indústria francesa. Existia uma burguesia superenriquecida que movimentava o comércio nos portos de Marselha, Bordéus e Nantes.

Em 14 de junho de 1791 a Lei de Le Chapelier proibia o sindicato dos trabalhadores e as greves. Em 14 de julho houve a tomada da Bastilha que simbolizava a opressão real e servia de depósito de armas. Desde 12 de julho pipocavam os motins nas ruas de Paris provocados pela fome.

A Convenção Nacional estava em mãos dos jacobinos, a pequena e a média burguesias sob a liderança de Robespierre. Em plena vigência o reino do Terror. Após a abolição da monarquia os nobres, batendo os calcanhares nas reais bundas, abandonavam mais que depressa Paris.

A alta burguesia financeira financia a revolução (Reação Termidoriana). Vige o período do Diretório até 1799. A participação popular no movimento revolucionário resume-se na defesa dos interesses (os dos burgueses). A nova Constituição elaborada para garantir os girondinos (a burguesia) livres das ameaças dos jacobinos e do “ancien régime”.

O movimento revolucionário conseguiu ampliar os privilégios sociais das conquistas apregoadas pelos enciclopedistas franceses (Montesquieu, D´Alambert, Diderot, Voltaire, entre outros). Dentre elas, conquistas, os direitos de cidadania das pessoas, da burguesia e da pequena-burguesia.

Ampliou-se historicamente a influência do sistema financeiro-econômico de repodução de bens industrializados e de ativos financeiros gerando fabulosas fortunas do dia para a noite, em especulação e jogos na Bolsa.

Na época não se falava em proletários e muito menos nas multidões do lumpemproletariado (classe de pessoas que não se dedica a nenhuma atividade social supostamente produtiva de riqueza.)

Depressa a burguesia de revolucionária tornou-se logo a representante de uma opressão social gerada pelas multidões de pequenos-burgueses ávidos por um lugar ao sol da burocracia oficial. Leia-se: empregos nas secretarias dos governos, mordomias salariais, DAIs e DASs.

Querem ver um burguês fantasiado de socialista? O presidente analfabeto. Ele protege e paparica todos os políticos corruptos do país sob o argumento de que, se o próprio capeta estender-lhe a mão, ele pega na hora. Aperta pra valer. Principalmente se esse capeta pertencer a uma área de influência partidária do PMDB. Vide tudo que elle fez para manter José Romão Sarney na presidência da Casa Grande Senado.

O comando, comunicação e controle dos ambientes nobres da sociedade passou a estar sob a influência da então ascendente burguesia européia. Inclusive a burguesia européia radicada nos Estados Unidos e investindo alto no então crescente mercado de consumidores americanos. Via Reino Unido, localizado na costa noroeste da Europa continental.

A Revolução Industrial havia acontecido na Inglaterra em meados do século XVIII. Ou seja: os ingleses estavam tomando conta da situação política-econômica e financeira. Em todos os lugares onde pudesse chegar sua frota mercante e seus navios de guerra.

No ocidente, eles viram primeiro que todos os outros países, a oportunidade de criação de riquezas e acumulação de capital via comercialização de produtos manufaturados. O senhor Mercado começava a crescer e a aparecer, onde que que houvesse produtos industrializados para vender. O mundo globalizando-se, transformando-se num imenso camelôdrógomo.

Em todos os lugares (portos) havia mercado consumidor para os produtos manufaturados da Inglaterra. A Revolução inglesa teve início em 1640 e terminou em 1699 com um golpe de Estado. Já nessa época a nobreza e os proprietários de terra (pequenos, médios e grandes latifúndios) exportavam mercadorias para outros países europeus.

Quanto mais aumentavam as exportações, mais intensamente os camponeses iam sendo expulsos das pequenas, médias e grandes propriedades rurais. Estas, atualizavam (mecanizavam) seus sistemas de produção. Tornavam obsoleto o trabalho manual dos camponeses. Estes, sem ter onde cair mortos, migravam para as cidades em busca de um salário nas manufaturas da indústria imperial britânica.

Não é à toa que o Reino Unido foi, durante o século XIX até o primeiro quartel do século XX, a principal potência político-econômica mundial. Na comunidade das nações o Reino Unido estará sempre entre os “top-tens” da liderança político-econômica globalizada pelos interesses do grande capital financeiro. O mesmo que polui fundamentalistamente, com emissões de CO2, clorofluorcarbono, e toda espécie de agentes gasosos venenosos, a atmosfera planetária. Provocando a radicalização da degradação ambiental.

Quer dizer: um século depois da Revolução Inglesa, a Revolução Francesa estava descobrindo a pólvora. Mais radicalmente. A burguesia inglesa, juntamente com a nobreza (os comerciantes ricos e os membros da Corte) voltaram-se contra a força política em decadência dos reis absolutistas, que não mais poderiam obstacular a expansão de seus negócios. Crescentes.

O rei da Escócia, Jaime I, assumiu o trono inglês com a morte de Elizabeth I. Após criar novos impostos e onerar os que já existiam conseguiu irar contra si o Parlamento. Ao reagir contra esses novos impostos, esse mesmo Parlamento foi dissolvido. Ao tentar impor o anglicanismo atingiu em cheio os interesses religiosos de católicos e calvinistas. Se indispôs com tudo e com todos. Não havia camisa-de-força que segurasse Jaime I.

A Câmara dos Lordes e a Câmera dos Comuns foram simplesmente banidas enquanto casas de representação social dos interesses da burguesia ascendente e da nobreza ambiente. Dissolveram-se no “fog” londrino. O sucessor de Jaime I seu filho Carlos I, mais autoritário, intolerante e impopular que seu pai, entrou em guerra contra a França e reabriu o Parlamento, desde que precisava negociar com a burguesia e a nobreza aburguesada, cada vez mais ricas e poderosas. Carlos I precisava de money.

O Parlamento em oposição ao absolutismo real, negociou com Carlos I a subscrição da Petição de Direitos (1628: quanto tempo antes da RF de 1789!). Essa petição proibia o rei de promover novos impostos ou convocar o exército sem a ratificação do Parlamento. Carlos I poderia ter ficado na história como “o rei Doidão”:

Um ano depois de assinar a Petição dissolveu o Parlamento. O Filho de Jaime I tentou outra vez impor o anglicanismo aos irlandeses, escoceses e ingleses. Provocou a sublevação de deputados puritanos e presbiterianos que foram perseguidos, atormentados e punidos pela política arbitrária do rei. Carlos I estava nu e não sabia. A roupa velha do rei, serzida com as agulhas e linhas do absolutismo não mais escondia sua nudez. Ele queria represar a história. Foi tragado por ela.

Os parlamentares presbierianos e puritanos encabeçaram a revolta contra o absolutismo. Reinante. Exigiram a prisão de dois de seus ministros e o Parlamento aprovou uma lei proibindo o monarca de dissolvê-lo. Os irlandeses por sua vez promoveram uma revolta-revolução(1641): queriam simplesmente libertar seu país da dominação inglesa.

O Parlamento reagiu, convocou um exército, mas negou seu comando ao rei. Carlos I, O Doidão, invadiu o Parlamento com sua guarda pessoal e aprisionou seus cinco principais líderes. Os que mais radicalmente lhes fazia oposição. A guerra civil ganhou as ruas embaçadas pelo “fog” londrino.

Do lado de Carlos I ficaram o clero, a aristocracia do norte e do oeste, assim como os representantes administrativos dos monopólios da realeza. Realeza encaçapada na rede dos interesses mais obscuros, politicamente retrógados e incestuosos da Corte. Contra estes lutaram os cabeças redondas em apoio ao Parlamento: a burguesia mercantil e os empresários rurais presbiterianos e puritanos.

Os cabeças redondas sob a liderança de Oliver Cromwell venceram as tropas da monarquia. Carlos I, O Doidão, foi preso, jusgado e condenado à morte. Após decapitado Carlos I em 1649, Cromwell proclamou a República. Capitaneando-a. Cromwell teve de sufocar sucessivas rebeliões internas. Lideradas pelos “niveladores”. Aqueles partidários de uma democracia que investisse nas classe menos favorecidas.

Cromwell invadiu a Irlanda, reprimiu rebeliões contra seu governo e venceu o exército escocês que invadira a Inglaterra. Cromwell unificou Inglaterra, Escócia e Irlanda. Estas, passaram a formar a República da Comunidade Britânica.

As majestades de descendência nobiliárquica que se queriam sentadas eternamente no berço esplêndido de seus tronos, maior parte delas caiu do cavalo. Inclusive a até então “invencível armada” do Czar da Rússia. A nobreza caucasiana esmagada pela Revolução russa de 1917. Revolução que passou a ser liderada por um camponês simplório, Josef Stalin, que substituiu os recursos intelectuais (por não tê-los) para afirmar uma virulência social genocida.

"Estamos cem anos atrasados em relação às nações desenvolvidas. Precisamos ultrapassar esta distância em 10 anos. Ou faremos isto ou seremos esmagados!" Para atingir os objetivos de seu projeto de expansão, Stalin elegeu-se ditador de todas as rússias, e em seu discurso de 1931 entregou-se a esse projeto, enlouquecido pela vontade de poder absoluto, completamente incompatível com os supostos princípios igualitários da Revolução bolchevique.

Em discurso de fevereiro de 1931, Stalin indicou a proeminência de seu projeto de expansão, que resultou numa das mais rancorosas e patogênicas ditaduras de todos os tempos. Em 1938 Stalin assumiu o comando, comunicação e controle do país passando a perseguir, prender e assassinar todos os que sua paranóia demencial classificava como “inimigos do Estado”. Aproximadamente seis milhões de pessoas foram eliminadas pela polícia política do ditador.

Entre 1789 e 2010, lá se vão duzentas e vinte e uma primaveras floridas com as flores sinistras de duas guerras mundiais. Guerras de extermínio. Seguidas pela Guerra-Fria declarada que terminou com a Glasnost, o processo de abertura política de Mikhail Serguéievich Gorbachev e a Perestroika (Reconstrução: abertura econômica). Processos esses iniciados em 1985.

A burguesia, ávida, incansável no objetivo capital de querer sempre mais, promoveu as guerras de extermínio que se multiplicaram às dezenas, centenas, milhares, com seus conflitos localizados, motivadas pela avidez do lucro e a usura dos juros do capital. Só a II Grande Guerra matou aproximadamente sessenta milhões (sessenta milhões) de pessoas. Soldados a serviço do “Reich dos Mil Banqueiros”.

Banqueiros, “elite” financeira e econômica que representa a burguesia e seus mecanismos centrais de concentração de renda ou ativos financeiros. 60.000.000 de cadáveres: é sangue para chuchu. E em apenas um conflito. A burguesia precisa beber sangue como quem bebe suco de laranja ou coca-cola. E uma classe dominante que precisa de sangue para sobreviver, não pode trabalhar pela paz mundial.

O burguês é o nobre dos tempos modernos, ou melhor, neo-pós-modernos. É de uma “nobreza” comparável apenas à nobreza dos monarcas absolutistas europeus para quem o mundo existia apenas para venerá-los. E as pessoas, para trabalhar como escravas para eles. A escravidão foi substituída pelo trabalho remunerado com carteira profissional assinada. Surgiram os sindicatos para defender os interesses dos trabalhadores.

E os burgueses ficaram cada vez mais vorazes no abocanhar a mais-valia: o trabalhador produz muito mais do que o valor pago pelo burguês em seu salário. Na carteira assinada. A escravização apenas mudou de método. Mais de dois séculos depois da RF e a burguesia ampliou de maneira devastadora seus poderes políticos a partir da acumulação absurda de ativos financeiros à custa do trabalho escravo com carteira assinada. À custa da mais-valia.

A força da propaganda de bens de serviço e de mercadorias através das mídias exerce uma espécie de hipnotismo coletivo, globalizado, com uma intensidade de dominação da mente inconsciente do planeta, nivelada em todos os países pelos interesses representativos de uma única classe social: a dos burgueses. E ainda há gente (boa, fina, rica, cheia de relógios “rolex”) que “se acha” e acredita que a sociologia política implícita no signo semântico “burguês” (Saussure) é terminologia de há três décadas, anacronismo de esquerdistas. Fazer o quê?

O cara que “se acha” é um camelô tipo “show-man” de um programa de fim de semana em um dos maiores conglomerados da tv globalizada. Sim, porque se não se puder definir cientificamente essa relativamente reduzida classe social (que explora os recursos naturais do planeta ignorando que essa exploração chegou a um clímax genocida) para efeito de estudá-la e a seus limites, então, como se há de defini-la?

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 23/04/2010
Reeditado em 24/04/2010
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