HISTÓRIA DA BAHIA - Até a Proclamação da República
HISTÓRIA DA BAHIA
Bahia - Terra Mater
Em Porto Seguro, a 22 de abril de 1500, o português Pedro Álvares Cabral, Almirante valoroso da esquadra lusa, daria o toque inicial da nossa história. O Brasil, descoberto na Bahia propositadamente ou por acaso, ao gosto dos estudiosos, mas que foi português, na qualidade de colônia por mais de três séculos.
E a Bahia, capital da colônia, durante dois séculos e meio sediou a Governadoria Geral. Fundada a cidade de Salvador, em 1549 pelo 1º Governador Geral - Tomé de Souza vários aspectos da vida econômica foram sendo implantados em todo o seu território, mediante mão-de-obra escrava e indígena. Louve-se para tanto a ação dos Bandeirantes e as Entradas que deram condições práticas de extensão e colonização ao imenso território baiano, com área de 506.026 Km².
D. João III, escolheu a capitania da Baía de Todos os Santos, para instalar a sede do governo-geral, " conhecidas já as grandes possibilidades da Bahia, a fertilidade da terra, os seus bons ares, maravilhosas águas e abundância de mantimentos".
Por Alvará de 7 de janeiro de 1549, determinou o monarca: "mandar fazer uma fortaleza e povoação grande e forte na Baya de Todos os Santos por ser yso o mais conveniente lugar que há nas ditas terras do Brasil para daly se dar favor e ajuda nas outras povoações e se ministrar justiça e prover nas cousas que cumprem a meu serviço e aos negócios de minha fazenda e a bem das partes..."
PRIMEIRO GOVERNADOR GERAL
A 1º de fevereiro de 1549, partiu de Lisboa grande frota de três naus — Salvador, Conceição e Ajuda — duas caravelas — Rainha e Leoa — e o bergantim São Roque, transportando cerca de 1.000 pessoas, inclusive três das figuras mais importantes da nossa colonização: Tomé de Souza, o 1º Governador-Geral, o padre Manoel da Nóbrega, superior dos Jesuítas e Garcia d'Avila, que foi feitor e almoxarife da Cidade.
Chegando ao seu destino, Tomé de Souza, depois de entrar em entendimentos com Diogo Álvares Correia - "Caramuru", Paulo Dias Adôrmo e outros moradores para o alojamento provisório de toda a gente, desembarcou no dia 31 de março.
A CIDADE
A cidade, nos primeiros meses de fundada, tinha de comprimento 140 braças portuguesas (equivalentes a 308 metros), por 106 braças (233 metros) de largura, tendo como limites, ao norte, a parte da Praça Municipal, ao sul, o local correspondente ao segundo pilar do edifício da antiga Secretaria de Agricultura (porta de Santa Luzia).
A SUCESSÃO
DUARTE DA COSTA foi o sucessor de Tomé de Souza no governo-geral, tendo chegado a Salvador em 31 de julho de 1553. A sua administração sofreu as conseqüências das intrigas, queixas e desmandos de uma sociedade nascente, sujeita a forma de vida de uma região inculta.
No governo de Duarte da Costa tomou impulso a catequese, sobressaindo a figura de Nóbrega, alma enérgica e forte, que pugnava por um ideal elevado e que, afrontando perigos e ódios, oferece severa resistência aos abusos e aos crimes da inculta sociedade local.
Duarte da Costa promoveu a construção do Colégio, de onde sairiam os grandes vultos da Colônia, erguida em terreno próprio, no mesmo local onde estão hoje a Faculdade de Medicina e a Catedral da Sé. Desde 1549 tinham os Jesuítas construído casa e ermida no monte Calvário, no local hoje denominado Carmo onde, sob as vistas do irmão Vicente Rodrigues e de Simão Gonçalves, se educavam moços órfãos vindos de Lisboa e bom número de meninos, filhos dos índios e mestiços da terra, transferindo-se em 1551, para o Terreiro de Jesus.
Em 1556 organizaram os Jesuítas um "curso de letras", graduando a sua primeira turma de bacharéis, cada um recebendo o título de "Mestre em Artes", em 1575.
Um lutuoso acontecimento encheu de consternação a Colônia no ano de 1556. A nau "Nossa Senhora da Ajuda" naufraga nas costas sergipanas, perecendo nas mãos dos selvagens caetés, que eram canibais, D. Pero Fernandes Sardinha, o primeiro bispo do Brasil e seus companheiros de viagem.
Antes mesmo da chegada do seu sucessor, Duarte da Costa deixa a Bahia em 1557, sendo substituído por Mem de Sá, homem notabilizado por avultados serviços de guerra e administração, diplomado em jurisprudência, que veio "precedido de lisonjeira fama adquirida no Desembargo do Paço e no Conselho del-Rei". Trazia como principal objetivo da sua administração a expulsão dos franceses do Rio de Janeiro, o que conseguiu, embora tenha gasto boa parte do seu longo governo (1557-1572), fecundo e de acertadas obras.
MEM DE SÁ era amigo dos Jesuítas e, com isso, deu muito lucro a Colônia, pois no seu governo se verificou acentuado progresso da catequese.
Nesse período, a cidade foi renovada, sendo reformados e ampliados a Casa da Câmara e o Palácio do Governador, construídas as primeiras enfermarias da Casa de Misericórdia, erguido o corpo de alvenaria da Sé Catedral e edificada, às custas do governador, a Igreja do Mosteiro de Jesus (atual Catedral Basílica). Construiu em Pirajá um engenho público, para moer cana dos lavradores pobres. A cidade cresceu com a atitude austera do governante, "os negócios públicos se moralizaram e os costumes refreados por uma fiscalização intensa e constante moderaram a licenciosidade que tanto escandalizara os jesuítas e indignara o bispo".
De Mem de Sá e de Nóbrega se diz: "na ação e zelos foram os verdadeiros fundadores do Brasil." A administração de Mem de Sá terminou com a sua morte na Bahia, sepultado no templo dos jesuítas, podendo-se ainda hoje encontrar a sua lápide na Catedral Brasílica numa sepultura rasa.
DUAS CAPITAIS
A coroa portuguesa tomou, em 1573, a decisão de dar ao Brasil dois governos; o do Norte, com sede em Salvador, foi confiado a Luís de Brito, e o do Sul, sediado no Rio de Janeiro, a Antônio Salema. Esta medida, visando à conquista do Norte e à organização definitiva do Sul, traduz a vacilante política do Reino na administração da sua extensa Colônia; em 1578, foi novamente unificada a administração sob um só governo, confiado a Diogo Lourenço da Veiga, reconduzida a sede para Salvador.
PIRATAS INGLESES E FRANCESES
Em 21 de abril de 1587, a cidade do Salvador foi bombardeada por piratas ingleses, sob o comando de Lestes e Withrington, cujo desembarque não se realizou graças a um temporal que desarvorou as naus.
Em 1612, a cidade era novamente ameaçada pelos corsários franceses de De La Touche, celebrizando-se na defesa o capitão Baltazar de Araújo e Sousa, o Bângala que, à frente dos homens que dispunha, foi oferecer-lhes combate com o seu navio, livrando a cidade do assalto.
INVASÕES HOLANDESAS
Uma esquadra flamenga comandada pelo almirante Leynssen na ante-véspera do Natal do ano de 1599, irrompeu no porto transformou a baía de Todos os Santos em grande campo de batalha, pondo à prova as defesas fundadas nos princípios estratégicos dos mestres portugueses que repeliram e impediram o desembarque do agressor. "Durante 55 dias, em que a cidade viveu em sobressalto, os holandeses afundaram e queimaram os navios lusos no porto e pilharam o recôncavo, assaltando engenhos, destruindo alambiques e incendiando casas."
Diante de tão graves acontecimentos, sentindo a necessidade urgente de fortificar a cidade, o governador Francisco Nunes Marinho mandou edificar os fortes do morro de São Paulo, de Santa Maria e de São Diogo e concluiu a construção da fortaleza de Santo Antônio, sendo os três últimos no Porto da Barra.
A 14 de abril de 1624 foram os holandeses avistados à altura da foz do São Francisco; a 9 de maio, pelas 9 horas da manhã, transpondo a barra, faziam calar com os seus canhões o forte da Ponta do Padrão, em cujas proximidades desembarcaram 1.250 homens, enquanto o grosso da esquadra rumava para o porto da cidade. O remanescente do exército espanhol desertou inteiramente desmoralizado. A cidade caiu sem reagir, sendo saqueada pela tropa que se regalou com a fartura de alfaias, jóias e mercadorias, além da prata amoedada "em tão grande quantidade que os soldados não se davam ao trabalho de contar moedas, repartindo-as sob medida, na base de uma copa de seus chapéus para cada um."
Preso o governador, que não acompanhara o bispo na retirada, trataram os invasores de fortificar a cidade, onde se estabeleceram, sediando o seu governo na Casa da Câmara; as igrejas foram depredadas e transformadas em depósitos, celeiros, adegas ou paióis e a Sé foi destinada ao culto anglicano, os altares quebrados e as imagens destruídas.
REAÇÃO
Em 22 de março de 1625, chega, sob o comando de D. Fradique de Toledo Osório, uma esquadra de 52 navios de guerra, além de urcas, patachos e outros barcos, com um exército de 12.563 homens. Bloqueada a esquadra holandesa, desembarcaram as tropas restauradoras e apertaram o cerco. A 30 de abril, foi assinada a capitulação dos holandeses no Convento do Carmo, sendo a cidade inteiramente reocupada no dia seguinte.
Em 25 de abril de 1640 os holandeses voltaram a ameaçar a Bahia. Era de pânico a situação da cidade diante do desastre sofrido pela esquadra comandada pelo Conde da Torre, composta de 86 naus, que tendo partido para atacar os holandeses em Pernambuco, foi totalmente desbaratada, salvando-se apenas um bergantim em que retornou o comandante derrotado. Logo a seguir, aporta a esquadra Lichtbardt, que trazendo ordens expressas de Nassau para levar tudo a ferro e fogo, em represália pelos danos causados pelas tropas de Luis Barbalho nas regiões ocupadas pelos holandeses, em 25 de abril de 1640 atacou a cidade e incendiou e destruiu 27 engenhos além de povoações e casas particulares no recôncavo.
Novo assalto sofreu a cidade em 1647 por uma armada de 2.500 homens, sob o comando de Sigismundo Van Sckoppe, que desembarcou em fevereiro na ilha de Itaparica, fronteira a Cidade de Salvador, onde resistiu às guerrilhas e às expedições mandadas da cidade, só se retirando em dezembro de 1647, à aproximação da frota de reforço mandada de Lisboa.
Nova invasão foi tentada pelos holandeses comandadas por Paul Wan Carrden, a 20 de junho de 1654. Tendo investido contra o arraial do Rio Vermelho e sendo repelidos, bombardearam a cidade intensamente durante quarenta dias, quando propuseram retirar-se mediante resgate, ao que respondeu o governador Diogo Botelho, desafiando-os a virem "buscar na praça mais rica do mundo, pelas armas, o almejado tributo."
É quando findam as tréguas entre Espanha e Holanda e logo chegam notícias à Bahia de uma grande esquadra flamenga — 26 naus —, que se aprestava para vir atacar a Colônia "tendo como comandante Jacob Willekens e Pieter Heyn, sob a chefia militar de João Wan Dorth, conhecedor da costa e da cidade do Salvador, onde estivera preso."
O governo Diogo de Mendonça Furtado, que andava em luta com o bispo D. Marcos Teixeira, acelerou as obras de defesa da cidade: "fortes e trincheiras, esperas e redutos foram de pronto armados com guarnições dobradas para reforço do potencial defensivo; pregões transmitiam à população resoluções da Câmara e do Governador, proibindo a retirada dos seus haveres e assegurando plena garantia a tudo e a todos."
Salvador perdera o aspecto silencioso, transformada num movimentado centro de atividades guerreiras. Nada menos de 3.000 homens se concentravam nos campos próximos do centro urbano e novos contingentes chegavam constantemente dos engenhos do recôncavo e das aldeias indígenas. Estes preparativos foram perturbados pela atuação do bispo que, aproveitando-se do descontentamento provocado pela expectativa de um ataque que não chegava, aconselhou aos chefes militares do recôncavo a retornarem ao seu labor, o que realmente ocorreu.
Fala-se da facilitação das invasões holandesas na Bahia, pelos portugueses de origem judáica. Vale salientar que os holandeses viviam de pilhagem e pirataria, mas em Pernambuco, há uma certa reverência ao Conde Maurício de Nassau que comandou por muitos anos a ocupação do território pernambucano, deixando marcas indeléveis da cultura holandesa, principalmente em Recife e Olinda.
Na Bahia, os holandeses foram definitivamente rechaçados, graças a importância da capital do governo geral. E os sinais que ficaram fazem lembrar apenas pilhagens, morte e destruição.
VIDA ARTÍSTICA
A vida intelectual da cidade era marcada com a presença de representantes da melhor literatura portuguesa, entre os quais se salienta o maior poeta do século no Brasil. Gregório de Matos e Guerra, o Boca do Inferno, que fustigava com as suas sátiras os costumes da época, sem respeitar os clérigos e as autoridades da Colônia, o que lhe valeu a prisão e o desterro para Angola, conseguindo voltar para o Brasil; impedido, porém de voltar para a Bahia, viveu no Recife, onde morreu em 1669.
Comemorativo da passagem da família real, mais tarde transferido para a atual Praça da Aclamação, fronteira ao Palácio do mesmo nome; fundou-se o primeiro jornal — "Idade de Ouro" —em 1811; organizou-se uma biblioteca pública; o Teatro São João, iniciando em 1806, pelo Conde da Ponte, foi inaugurado a 13 de maio de 1812 pelo Conde dos Arcos, embora não de todo terminadas as obras, subindo à cena o melodrama "A escocesa", ficando a capital dotada da melhor casa de espetáculos do país, na época.
REVOLUÇÃO DOS ALFAIATES
OU CONJURAÇÃO BAIANA
Cipriano Barata, foi o homem mais importante da conjura que ocorreu pelos mesmos ideais da revolução francesa, em plena revolução industrial, no ano de 1798. A conspiração baiana passou a história com o nome de Conjuração dos Alfaiates, dada a participação de Manoel Faustino e João de Deus Nascimento, alfaiates, que foram martirizados por enforcamento, em novembro de 1799. Lucas Dantas de Amorim Torres era soldado. Havia fugido para Itabaianinha tendo sido preso antes de alcançar aquela cidade. Foi preso e sentenciado à forca, tendo sido enforcado nos moldes da época; segundo o Frei Carmelita que foi seu confessor, foram suas ultimas palavras: "No céu encontrou a misericórdia que, por desvalido, não acharia aqui entre os homens". Cipriano Barata era cirurgião e gostava de falar em francês, repetindo frases de Voltaire e comungava idéias de Calvino e Rousseau. Teve seus bens confiscados pela corôa. Na prisão, cortou-se com um estilete, mas acabou perdoado, pois negou seu envolvimento com a revolução. Luiz Gonzaga das Virgens e Veiga, soldado, foi condenado, mas morreu de ataque do coração.
A Revolução dos Alfaiates decorreu em conseqüência dos descontentamentos da população baiana para com o monopólio português e contra os privilégios comerciais concedidos à Inglaterra. Houve saques a açougues e armazéns sob a liderança de membros da associação secreta Cavaleiros da Luz, localizada no bairro da Barra, formada por elementos de diversas camadas sociais, inclusive escravos, predominando pessoas da classe média que discutiam textos e idéias da Revolução Francesa. Em 12 de agosto de 1798 a associação fez farta distribuição de panfletos na capital baiana conclamando o povo à luta e reivindicando igualdade, um dos slogans da revolução francesa (égalité, fraternité et liberté). Os principais líderes entre os conspiradores foram presos e enforcados, a exemplo dos alfaiates Manuel Faustino e João de Deus Nascimento.
A Revolução dos Alfaiates ocorreu 6 anos após a Inconfidência Mineira e teve papel preponderante nas lutas dos brasileiros visando a independência do Brasil.
A História do Brasil dá conotação maior à Inconfidência Mineira, mas a Revolu-
ção dos Alfaiates tem igual valor, se convenientemente avaliadas as circunstâncias em que foram martirizados tantos brasileiros, enquanto em Minas, apenas Tiradentes foi enforcado e esquartejado. A História Pátria precisa resgatar os heróis da Bahia, para respeito dos próprios historiadores.
D. JOÃO VI NA BAHIA
A corte portuguesa chegou a Salvador, a 22 de janeiro de 1808, fugindo à invasão dos exércitos de Napoleão Bonaparte.
O Príncipe Regente permaneceu trinta e quatro dias na Bahia, a receber calorosas demonstrações de carinho e apreço, incluindo-se insistente convite da Câmara e do povo para fixar em Salvador a sede do governo.
Durante a sua estada na Bahia D. João VI assinou a carta de 28 de janeiro de 1808 que declarava abertos os portos do Brasil às nações amigas, resolução inspirada por José da Silva Lisboa, secretário da Mesa de Inspeção e futuro Visconde de Cairu.
O CONDE DOS ARCOS
D. Marcos de Noronha e Brito, 8º Conde dos Arcos (1810-1818), fez uma boa administração; criou a Junta do Comércio, atual Associação Comercial, para a qual edificou um palácio, ainda hoje, uma das principais peças arquitetônicas da cidade; construiu, ainda o Passeio Público, onde ergueu um obelisco em mármore português.
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL NA BAHIA
Mesmo após o Grito do Ypiranga, em São Paulo, quando o príncipe regente, D. Pedro de Alcântara eternizou a frase "independência ou morte", a 7 de setembro de 1822, a Bahia continuou sob domínio da corôa portuguesa, mesmo contra a vontade dos baianos que iniciaram o movimento libertário em Santo Amaro, e em Cachoeira, começando a guerra entre o Recôncavo, liderado pela cidade de Cachoeira e Salvador, dominada pelos portugueses. Cachoeira era a cidade mais importante, depois de Salvador e até hoje conserva o seu parque arquitetônico, resultante da grande produção de açúcar e fumo que a tornou tão prospera.
Era a capital econômica e o ponto de transbordo entre Salvador e toda a província. Além de Santo Amaro e Cachoeira, participaram da resistência as vilas de Maragogipe, São Francisco do Conde, Jaguaripe e Pedra Branca. Entre as principais figuras envolvidas nesta luta, pontificam o padre José Marcelino de Carvalho, o advogado Antonio Pereira Rebouças, o major José Joaquim d'Almeida e Arnizau, o coronel José Garcia Pacheco de Moura Pimentel, o tambor-mor da tropa - Manoel Soledade.
O Imperador D. Pedro I mandara para a Bahia o general Pedro Labatut, comandando uma esquadra para, juntamente com as forças locais, sediadas em Cachoeira, capital dos brasileiros rebelados contra a corôa portuguesa, combater as forças de Madeira de Melo, que dominavam a cidade do Salvador. Divergências entre os cachoeiranos e Labatut terminaram em sua prisão, assumindo o comando das forças brasileiras, o coronel José Joaquim de Lima e Silva. Em 1849, totalmente reabilitado, já no posto de Marechal de Campo, Labatut voltou a integrar-se à galeria de heróis da nossa independência. As forças pro independência foram engrossando, recebendo apoio de várias vilas interioranas, a exemplo de Inhambupe, Abrantes, Itapicuru, Valença, Água Fria, Jacobina, Maraú, Rio de Contas, Camamu, Santarem e Cairu que se juntaram à 1ª Junta Interina, Conciliatória e de Defesa, constituída em Cachoeira, tendo como presidente Francisco Elesbão Pires de Carvalho, representante de Santo Amaro, e secretário, Francisco Gomes Brandão Montezuma, de Cachoeira.
2 de Julho de 1823
A 2 de julho de 1823, o Exército Libertador entra triunfalmente em Salvador, consolidando a nossa independência. As principais batalhas travadas entre os baianos e portugueses foram as de Pirajá, Cabrito, Cachoeira, Santo Amaro, Itaparica e Funil. A invasão do Convento da Lapa com a morte da abadessa soror Joana Angélica que tentou impedir a entrada dos soldados portugueses, foi um dos fatos mais contundentes que marcaram os conflitos entre nativos e dominadores na Bahia. Registre-se a grande ajuda dos índios à causa da independência. Sem falar que o casamento da índia Catarina Paraguaçu com Diogo Álvares Correia - o caramuru, deu início a miscigenação de raças no Brasil. Um monumento de 25,86 m. de autoria do escultor italiano Carlo Nicole, encomendado pelo governador Manoel Vitorino Pereira, além das representações do índio e da índia (Catarina), entre outras inscrições, contém em latim: "Sic illa ad arcam reversa est" - Assim ela voltou para a arca - Consta ainda a data provável da fundação de Salvador, 6 de agosto de 1549 e 2 de julho de 1823, data da independência da província da Bahia. "Aos heróis da Independência, a Pátria agradece". Este monumento é um dos mais belos acervos históricos do Brasil e encontra-se no centro da Praça Dois de Julho, popularmente referida como Campo Grande; significa um marco de grandeza, na síntese dos ideais de independência dos baianos.
A SABINADA
LUTA PELA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
A Sabinada ocorreu na Bahia durante a Regência, nomeada em homenagem ao seu líder Sabino Vieira. Originou-se de crise econômica da província, expressando o protesto das camadas populares de Salvador contra a carestia de vida e o rígido centralismo monárquico, inspirada na Guerra dos Farrapos. A 7 de novembro de 1837, com a sublevação do Forte de São Pedro, os rebeldes expulsaram o presidente da Província, Francisco de Sousa Paraíso, proclamaram a República Bahiense e designaram João Carneiro da Silva Rego para presidi-la. Pugnaram por um regime republicano autônomo com relação ao Governo central até a maioridade do príncipe herdeiro que viria a ser Dom Pedro II. A rebelião, circunscrita a Salvador, teve a oposição armada dos senhores de engenho do Recôncavo Baiano, que fizeram de Cachoeira a capital provisória da província. Com o reforço das tropas legalistas, sob o comando do Marechal-de-Campo Alexandre Gomes de Argolo Ferrão e do Brigadeiro João Crisóstomo Calado, os "sabinos" - receberam rigoroso cerco, com centenas de baixas. A 13 de março de 1838, as forças legalistas iniciaram o ataque final, concluído dia 15 com a capitulação do último reduto dos rebeldes, que contabilizaram mais de mil mortos e cerca de dois mil feridos. Seus líderes foram condenados à morte ou às galés perpétuas, sentenças estas, comutadas para degredo em território nacional.
PROVÍNCIA DA BAHIA E SEUS PRESIDENTES
O Brasil-lmpério (1824/1889 criou 20 províncias, sendo 4 no Sul, 3 do Norte, 3 no Leste, 2 no Centro Oeste e 8 no Nordeste. Estas províncias duraram até 1889, transformadas em Estados, quando o Brasil recebeu a denominação de República dos Estados Unidos do Brasil, hoje República Federativa do Brasil. As províncias eram governadas por um mandatário que tinha o cargo de presidente.
PRESIDENTES DA PROVÍNCIA
A província da Bahia teve 52 presidentes, a saber:
1824/1825 - Francisco Vicente Viana
1825/1827 - João Severiano Maciel da Costa ( Marquês de Queluz )
1827/1830 -Nuno Eugênio de Lóssio Seilbitz (Visconde de Camamu)
1830/1831 - Luis Paulo de Araújo Bastos
1831/1832 - Honorato José de Barros Paim
1832/1834 - Joaquim José Pinheiro de Vasconcelos
1834/1836 - Francisco de Souza Martins
1836/1837 - Francisco de Souza Paraíso
1837/1838 - Antônio Pereira Barreto Pedroso
1838/1840 - Tomás Xavier Garcia de Almeida
1840/1841 - Paulo José de Melo Azevedo e Brito
1841/1844 - Joaquim José Pinheiro de Vasconcelos
1844/1846 - Francisco José de S. Soares d'Andréia
1846/1847 - Antônio Inácio de Azevedo
1847/1848 - João José de Moura Magalhães
1848/1850 - Joaquim José Pinheiro de Vasconcelos
1850/1851 - João Duarte Lisboa Serra
1851/1852 - Francisco Gonçalves Martins
1852/1855 - João Maurício Vanderlei
1855/1856 - Álvaro Tibério de Moncorvo Lima
1856/1858 - João Lins Cansansão de Sinimbu
1858/1859 - Francisco Xavier Pais Barreto
1859/1860 - Herculano Ferreira Pena
1860/1861 - Antônio da Costa Pinto
1861/1862 - Joaquim Antão Fernandes Leão
1862/1864 - Antônio Coelho de Sá e Albuquerque
1864 (02/03 a 30/11) - Antônio Joaquim da Silva Gomes
1864/1865 - Luís Antônio Barbosa de Almeida
1865/1866 - Manuel Pinto de Sousa Dantas
1866/1867 - Ambrósio Leitão da Cunha
1867/1868 - José Bonifácio Nascentes de Azambuja
1868/1871 - Barão de São Lourenço
1871/1872 - João Antônio de Araújo Freitas Henrique
1872/1873 - Joaquim Pires Machado Portela
1873/1874 - Antônio Cândido da Cruz Machado
1874/1875 - Venâncio José de Oliveira Lisboa
1875/1877 - Luis Antônio da Silva Nunes
1877/1878 - Henrique Pereira de Lucena
1878/1879 - Barão Homem de Melo
1879/1881 - Antônio de Araújo Aragão Bulcão
1881/1882 - João Lustosa Sá Cunha Paranaguá
1882/1884 - Pedro Luis Pereira de Sousa
1884 (14/04 a 09/09) - João Rodrigues Chaves
1884 (10/09 a 31/12) - Espiridião Elói de Barros Pimentel
1885 (01/01 a 25/10) - José Luis de Almeida Couto
1885/1886 - Teodoro Machado Freire Pereira da Silva
1886/1888 - João Capistrano Bandeira de Melo
1888/1889 -Manuel de Nascimento Machado Portela
1889 ( 09/03 a 13/06) - Antônio Luis Afonso de Carvalho
1889 (14/06 a 14/11) - José Luis de Almeida Couto