MULHERES SOLITÁRIAS SÃO EREMITAS
Mulheres solitárias são eremitas modernas em potencial.
Alguns de meus irmãos e irmãs monges eremitas, tem a tendência a supervalorizar seu estilo de vida criando uma pseudo ortodoxia para eles e seu modo de vista que antes de apresentar este modelo religioso como algo possível tende a criar aversão a ele de pessoas que o desconheçam.
Uma pessoa eremita cria tantas dificuldades para que outros sigam seu exemplo, sob desculpa de uma ortodoxia, que tem nisso algo meio questionável. Parece que faz de sua vida de eremita um masoquismo.
Discordo totalmente. Ser eremita é algo absolutamente louvável, feliz e muito positivo. Sentimentos de um sofrimento por opção, masoquista, mesmo quando querendo ligar isso com a Paixão de Cristo tem um fundo de doença, de distúrbio.
Na idade média vimos que isso muito acontecia com os contemplativos e seu reflexo vem até nossos dias, quando os consultórios de psicologia e psiquiatria são procurados pelos superiores de diversos mosteiros a fim de socorrer seus monges e monjas. Não generalizo, mas conheço muitos casos de pessoas que tem a solidão mais como forma de sofrimento religioso do que de prazer.
A reclusão voluntária deve ser fruto de uma entrega prazerosa não de fuga. As vezes os conventos tornam-se o alvo dessas pessoas, quando na verdade deveriam ser os consultórios. Conheci vários casos de candidatas e monjas que – se não eram doentes no começo, antes de entrar, acabaram sendo, quando saíram. A vida contemplativa foi um grande mal para elas. Teresa de Lisieux retratou em sua vida no convento uma perseguição sádica de sua madre superiora contra ela.
Mas este artigo pretende atingir a outras pessoas. Àquelas que já são solitárias, já levam em suas casas uma vida “contemplativa”, mas que ainda não se deram conta disto ou precisa que alguém lhes dê essa dignidade que merecem.
Em outras palavras, essas pessoas merecem um “sentido novo” em suas vidas.
Recentemente um pretenso candidato me escreveu. Tinha cerca de vinte anos. Estudos básicos, medianos. Mas evidente que nenhum perfil para ser monge, muito menos eremita. O eremitismo e a vida monástica que apresentamos não pode ser coisa para seminaristas (com raríssimas exceções).
Mas voltando a focar nas pessoas maduras e solitárias, quantas pessoas não seriam realmente capacitadas para a vida de monges e monjas eremitas? Quantas pessoas não vivem (seja qual for a razão) trancadas em suas casas? Quer fruto do abandono, do descaso de familiares, ou atuais vítimas da internet. Quem lhes apresentará outro sentido para suas vidas?
Não estou querendo dizer com isso, que a vida monástica seja transformada em um local onde se concentrem pessoas deprimidas, muito ao contrário, reafirmo que tal vida é feita para pessoas sãs.
O objetivo de minha mensagem é atingir a homens e mulheres, de idade mediana, cerca de 40 ou 50 anos, solteiros, viúvos, que tem profunda fé cristã e desejo de dar um sentindo a suas vidas um pouco vazias, um pouco deprimidas talvez, mas de modo absolutamente possível.
A Igreja católica teve em mente essa parcela do povo de Deus quando admitiu o diaconato permanente para homens casados que por um motivo ou outro não se tornaram padres em sua juventude.
Tenho visto muitos senhores e senhoras que poderiam ser monges de nossa Ordem, na chamada “Ordem dispersa” ou seja, vivem em suas casas, em suas vidas, ainda que solitárias, transformando sua vida solitária em uma vida consagrada a Deus.
Gostaria que este pequeno texto chegasse até eles, para que pudessem, ao menos teoricamente, pensar no assunto.
Mas o que é um monge ou monja eremita de Ordem dispersa?
São exatamente estes homens e mulheres que aludi acima, é necessário que tenham um bom equilíbrio psicossocial, que saibam que sua solidão é algo real, meio inevitável, mas que queiram dar um sentido religioso a ela. Que desejem ser homens e mulheres de oração, que acreditem piamente que suas vidas consagradas são do agrado de Deus e que eles tem um papel importante na Igreja. Aos que puderem, que transformem sua solidão em DIACONIA, que possam visitar doentes, dar-lhes conforto, ou escrever cartas evangelísticas para os que estiverem presos aos leitos da dor ou no cárcere.
É uma forma tornar digna a solidão.
Depois, que venham a nosso mosteiro, ao menos anualmente, para ter contato com os monges, fazer retiros espirituais e sentirem-se unidos a nossa família diocesana. Que conheçam mais do anglicanismo como uma fonte segura de vida cristã. É, neste caso, a Igreja Anglicana quem lhes convida a esta experiência transformadora.
Importante, que tenham sua vida econômica de modo estabilizado. Nem o mosteiro nem a igreja lhes dará escopo econômico. Cada monge e monja vive por sua própria conta, mas usam, seus talentos pessoais para sobreviver. Esses talentos podem ser trabalhos manuais, artesanato, costura, crochê ou tricô, qualquer coisa que possa ser trabalhada pelas mãos do monge e transformadas em objetos e produtos para venda e seu sustento.
Porque não um dia fazermos um bazar para estas pessoas? Pinturas, tecidos, toalhas, livros de poesia, e tanto mais.
Madre Teresa de Calcutá foi a primeira a dar um sentido novo aos doentes e inválidos, transformando-os na Liga de Colaboradores dela. Eram pessoas inválidas, doentes, transformando sua possível dor em oração concreta pelas missionárias.
Portanto, essa idéia não é minha. Estou apenas adaptando-a. Que a Ordem Anglicana de São Bento (OASB) possa ser acolhedora para estas mulheres solitárias de hoje e de homens sozinhos também. Todos tem seu lugar na Igreja.
Irmão Emmanuel Maria, OASB (Revdº Maia+)
Mosteiro e Eremitério do Crucificado
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