Deixas Solitárias - VII
E quando é que você vai decidir alguma coisa? Quando não tiver mais ninguém ao seu lado? Talvez aí já seja tarde demais. Talvez, nem precise decidir mais nada. É certo, que sempre somos por demais influenciados por várias constantes que nos cercam, às vezes dentro de certas conveniências para não ficarmos em absoluto ostracismo, para mantermos um determinado status quo, para termos alguém ao lado a compartilhar uma noite fria, ou mesmo momentos de agradável prazer. Essa proximidade com outra pessoa, dentro dessa conveniência nos coloca irremediavelmente, dentro desse conflito de decisão, influência & interferência, mesmo que determinemos parâmetros que devem ser respeitados, como privilégios de privacidade. Mas será que essas pessoas têm o mesmo tipo de raciocínio & o mesmo respeito pela nossa privacidade? Na grande maioria das vezes não, o que acaba acarretando, mesmo que pequenos, conflitos sobre o que é para ser privado & o que é para ser comum.
Outros podem argumentar que a partir do momento que você está dividindo uma casa com outra pessoa, com base num relacionamento afetivo, acaba a sua privacidade, passando a ser uma vida em comum. O que é um erro grave, pois onde você vai colocar a sua individualidade? Dentro do lixo? Debaixo da cama, ou dentro de uma mala no fundo de um móvel qualquer?
Suas idéias devem ser jogadas para fora ou deixadas de lado, para que você passe a viver apenas de forma compartilhada?
Se você pensar assim, acabou como sujeito que pode interferir no processo, pois você nunca mais vai poder tomar uma decisão sem ter que consultar aí, a parte que com certeza, está prevalecendo no relacionamento. Sua vontade passa a ser a do outro & você deixa de ser um agente propagador de idéia, para ser um mero executor daquilo que vierem lhe propor. E quando quiser fazer valer a sua vontade, terá que arcar todas as perdas & danos que suas atitudes irão gerar, pois com certeza, estarão desagradando a grande maioria.
Sempre afirmei que uma das coisas mais difíceis na vida é dizer “não”. Porque a grande maioria das pessoas espera de você somente “sim” para tudo aquilo que estão lhe pedindo. É a convivência politicamente correta. Quando você resolve falar “não”, sem apresentar uma justificativa, ou mesmo apresentando, você é um estraga prazeres, você é um revoltado, você não sabe o que está fazendo, você é egoísta, você é idiota, você é estúpido, você não está regulando bem da cabeça, entre outros disparates. Você está errado. Mas quem está errando? Por que não lhe é dado o direito de errar?
Se você está com uma pessoa, ela lhe trata mal, mas mesmo assim, você insiste em ficar com ela, contrariando qualquer tipo de parâmetro, por que você não pode ficar com essa pessoa? Você vai deixá-la só para satisfazer os anseios daqueles que acham que você está fazendo papel de idiota?
Mas você não quer deixá-la, por isso vai ficar se martirizando por causa disso? E se, num repente, você resolver mandar todos à merda, & mudar radicalmente, deixando todo mundo falando sozinho? É capaz de dizerem que você enlouqueceu de uma vez. Que perdeu completamente o juízo. E qual é a importância da opinião desses outros para você prosseguir vivendo? Só terá importância se você for um eterno dependente da vontade alheia. E esse tem sido o maior erro da grande maioria das pessoas. Ser dependente da influência, da interferência de outros.
Peixão89
Deixas – 1998-2000