METAFISICA - Ensaio Filosófico
Segundo KANT (1724/1804, Alemanha): “por Metafísica entendo toda pretensão a um Conhecimento que busque ultrapassar a experiência possível e, por conseguinte a natureza, ou a aparência das coisas tal como nos é dada, para nos fornecer aberturas àquilo pelo qual esta é condicionada; ou para falar de forma mais popular: sobre aquilo que se oculta por trás nas Natureza e a torna possível ...”
Em outros termos: Por Metafísica entendo toda pretensão, ou vontade, de se obter um Conhecimento que ultrapasse os Estudos que são possíveis aos Homens e, conseqüentemente, que também ultrapasse a natureza física, ou a aparência das coisas, que nos chega através dos Sentidos (visão, audição, tato, paladar e olfato) de maneira a conseguir “janelas” que permitam conhecer qual é a “Força, a Energia” que faz a Natureza existir e ser como é.
Segundo SCHOPENHAUER (1788/1860, Alemanha): “a diferença entre física e metafísica repousa, grosso modo, sobre a distinção Kantiana entre fenômeno e a “coisa em si”.
Em outros termos: a diferença entre o físico e o sobrenatural está, grosso modo, definido e estabelecido por KANT quando ele separa O Fenômeno (o corpo físico, material, de uma Essência. Aquilo que pode ser percebido pelos Sentidos [tato, audição, olfato, paladar, visão] Humanos) e a Essência daquele fenômeno.
O termo “Metafísica” vem do titulo dado por ANDRONICO de RODES, por volta do ano 50 a.C., ao conjunto de textos aristotélicos - chamados no original de “TA METÁ TA PHYSIKÁ” – que estavam colocados depois dos textos que versavam sobre a Física. Metafísica significa literalmente: após a Física. Com o tempo, o significado desse nome passou a ser usado para designar tudo aquilo que está além da física, da matéria, que a transcende (ou ultrapassa). A seguir veremos as conceituações mais importantes para o Estudo filosófico:
FILOSOFIA CLÁSSICA e na ESCOLÁSTICA1: a Metafísica é o foco central dos estudos, pois para as análises do que é físico, concreto já existiam as diversas áreas que faziam tais estudos, como, por exemplo, as incipientes biologia, zoologia, fisiologia, a matemática, a geometria, a mecânica, a astronomia (em conjunto com a astrologia) etc.
A função, pois, da Filosofia seria analisar o “quê”, “qual Força ou Energia”, “qual SER” cria e mantém a Natureza física, com o Homem incluso, é claro. Por isso, a Metafísica recebeu o nome de “Filosofia Primeira”, tanto por estudar aquilo que vem antes da matéria, como por tratar das bases e dos princípios (ou regras) das “Filosofias segunda, terceira, quarta ...”, as quais também atendem pela derivação do nome de seus Objetos de Estudos. Desse modo, “bio + logia” é o estudo da vida e dos seres vivos; “astro + logia” é o estudo dos Astros e suas interferências nas vidas humanas e assim sucessivamente. Por ser a “Filosofia Primeira” a Metafísica, como se disse, é a base ou o ponto de partida para qualquer outro estudo e/ou Sistema Filosófico na medida em que trata daquilo que as outras tendências filosóficas supõem existir; como, por exemplo, a “Filosofia da Moral” que estuda o comportamento dos Homens supondo que o Homem – já estudado pela Metafísica – exista de fato e seja capaz de ter atitudes que podem ser consideradas boas os más. Claro que este exemplo pode ser estendido a todas as outras áreas da Filosofia e do Conhecimento, pois na Metafísica estão as análises dos “Princípios ou Regras”, as “Características Primeiras” etc.
Enquanto Doutrina, a Metafísica é a “Teoria do SER (ou Existir)” em geral, sem as características individuais dos membros de uma Espécie ou Classe. Mal comparando, ela estuda as próprias Classes e Espécies e NÃO cada um dos indivíduos que compõe as mesmas. Em suas considerações também estuda o “Divino” ou “Deus”, pois Ele é considerado em várias religiões e/ou Sistemas de Pensamento como o “iniciador (o primeiro motor para Aristóteles) de tudo que existe. A “Causa (ou o Motivo) Primeira”, da qual todo o resto se originou. Além, é claro, de ser um Individuo que está além da física, dono de características e poderes que não podem ser entendidos através das experiências empíricas (aquela que consiste na percepção dos dados ou características do objeto estudado, através do que foi captado pelos Sentidos; ie. audição, visão, tato, olfato, paladar) que o Homem consegue realizar.
Na Escolástica1 observa-se uma distinção ou diferenciação entre a “Metafísica Geral” que examina tudo que há de transcendente, ou além da matéria, na Realidade; ou seja, a Ontologia efetivamente; e a “Metafísica Especial” que trata de alguns aspectos da Realidade e que se subdivide em:
1. Cosmologia – ou “Filosofia Natural” que é o estudo do Mundo e da Essência (do que há por trás) da realidade física, concreta, material.
2. Psicologia Racional – ou o estudo da “Alma ou Espírito”; isto é: o que é a Alma? Por que existe? Quais são suas capacidades? E afins.
3. Teologia Racional ou Natural – que estuda a existência de Deus, quais as provas de Sua existência? Quais os aspectos Dele que podem ser compreendidos pela Razão ou Racionalidade Humana e NÃO apenas segundo as “Verdades” originadas pela fé? Etc.
Na atualidade a Metafísica deixou de ser o foco central da Filosofia. Os estudos sobre o “Conhecimento” passaram a ser tratados como mais importantes que a questão do “SER”. A partir de KANT, busca-se estabelecer como ocorre o processo de aquisição de conhecimentos; e entender esse processo (sua natureza, seus limites) é, de fato, fundamental para que todos os outros Pensamentos, ou Conceitos, Noções, Juízos (ou Julgamentos) possam ser considerados coerentes e corretos. Claro que idéias, conceitos etc. sobre o “SER ou existir” devem também – se não mais que os outros – serem submetidos ao crivo do exame sobre o processo que os criou e só quando forem considerados válidos é que podem ser tidos como uma definição correta sobre esse assunto.
Outro fator que deslocou a Metafísica do palco central, foi o enfoque que atualmente é dado ao Subjetivismo* (ou individualismo, os pontos de vista individuais), pois recordemos que a Metafísica Tradicional se ocupa “apenas” do conjunto de SERES, da espécie ou da classe, e não de cada um dos Indivíduos. E os indivíduos passaram a serem pesquisados com maior intensidade nesses tempos de hoje, haja vista que se especula sobre a capacidade de cada sujeito sentir o Mundo, Deus, Alma etc. de uma forma só sua, tornando inválida qualquer afirmativa que o coloque como parte passiva de um Sistema. De certa forma, reaviva-se o antigo “Humanismo” e o individuo voltou a ser o “centro do mundo”; tanto que os “Existencialistas” afirmam que primeiro vem a Existência e só depois a Essência, o que leva à conclusão que o estudo da matéria precede ao da meta-matéria.
Por fim, há que se considerar também que o próprio KANT afirmava que questões da Metafísica estão muito além da capacidade intelectual do Homem e como, atualmente, percebe-se, salvo as exceções, uma diminuição na mesma não é de se estranhar que os assuntos mais complexos acabem sendo abandonados em beneficio de “verdades” mais acessíveis. Se as questões da Metafísica são taxadas de incognoscíveis (além da capacidade intelectual humana) que fiquem assim. Todos os esforços devem ser concentrados em descobrir fórmulas e soluções para questões práticas, que vão de um novo medicamento contra impotência a um novo creme contra as rugas. É a característica do Homem nesse novo “Humanismo”: cercar-se de superficialidades e se contentar com isso.
Para alguns, entretanto, o contínuo avanço tecnológico tem aberto várias “janelas” para coisas que até o século passado seriam solenemente classificadas de Metafísicas e é pressuposto que cada vez mais se avance no sentido de revelar o “quê” há por trás e além da física, da matéria. Porém, entender o motivo e a finalidade de existirem a Física e a Metafísica será, certamente, mais difícil e seguir o conselho do Sábio alemão talvez seja a única alternativa: reconhecer que há coisas que nunca conheceremos.
Escolástica – (Corrente Filosófica que surgiu a partir da Patrística, a filosofia dos Padres da primitiva Igreja Católica. Seu principal objetivo era conciliar os dogmas da Fé com o Raciocínio ou Razão).