O pôr-do-silêncio

O cair da tarde tem sido triste desde que o céu começou a chorar. Eu estou sempre chegando em casa e partindo ao mesmo tempo. Parto das minhas obrigações enfadonhas, cheias de papéis e concretude, chego num universo de calma e muito espírito... mas dói, dói de um jeito que não tem solução.

Esse sempre foi o momento mais especial do dia, era uma imagem perfeita de mim. O conflito entre os últimos raios do sol e o negror da noite irrompendo devagar sobre o firmamento, tudo num prisma aflitivo... de quando se despede, de quando se dorme, de quando se morre.

Minha mãe às vezes liga nessa hora e eu tenho pouca vontade de atender. Porque estou absorto na minha mais suprema falência... no desistir mais íntegro da minha alma e no esquecimento mais profundo da minha história.

E então estão os meus demônios e anjos a co-habitar meu universo...todos caídos... todos confusos. Não sei ser bom nessa hora, não sei ser mal. Sei ser qualquer coisa que dá quando se juntam meus dois mundos no pôr-do-sol.