Leves Fragmentos Solitários - LXXXII

Dizer que não estou muito puto, é falsear a verdade. A minha maior indignação é ficar à margem por nada.

Sei que muitas vezes extrapola em minhas vontades, colocando-as sempre em voga, em detrimento de tudo & de todos. Sei que sou por demais egoísta naquilo que me toca, me toma & coloco como trilha a seguir. Sei que quero sempre muito mais, que o pouco, pouco me contenta, & que amanhã tem que ser melhor que hoje, sempre. Já tomei muita porrada por deixar as coisas seguirem o seu próprio rumo, sem que tivessem uma interferência mais pró-ativa. Sei que sou um coletor de impressões, buscando na mais pura análise, mais que um sentido para toda essa merda que está por aí. Sei também que intervenho conforme minhas conveniências, resguardando para qualquer um, o seu direito de escolher, mesmo que essa escolha não seja de meu inteiro agrado. E ser esse agente, esse agitador de massas & mentes, provocando, possibilitando, promovendo, gerando, criando & fornecendo base para fundamentar minhas escolhas, minhas próprias atitudes, é oneroso aos sentimentos pelas perdas que vão ficando no caminho. Sim, são grandes perdas & nem todo mundo está disposto a arcar com o ônus. Como disse antes, criamos nossos próprios monstros & soltamos pelo mundo. Sim, eles adquirem vida própria, essa é a tônica, senão não haveria sentido para nada. Contudo fico esperando sempre alguma coisa, mesmo sabendo que ficarei para trás, pois a trilha pode ser diferente & o meu caminho é próprio & tudo aquilo que criamos, dificilmente seguirá as mesmas premissas.

Talvez, esteja querendo demais. Mas se não quisermos sempre mais, qual é o sentido também.

Mas a agonia de impotência, de perder o controle sobre algo criado, é uma marca dolorosa por demais. Mesmo sabendo que esse será o caminho que iremos prosseguir. Talvez eu nunca venha aprender, & mesmo que sim, continue a criar, pois isso já está tão intrínseco no formato, que pouco, ou quase nada, melhor, nada mais pode ser feito. Mesmo que fique mais um aprendizado, mesmo que fique mais uma marca, mesmo que fique mais um pouco de agonia, mesmo que tenha que ceder, para mais uma perda.

Gostaria de acreditar que pudesse alterar esse moto-contínuo & ganhar apenas uma vez para sair dessa monótona rotina.

A relação de valores contínua sua modificação, assim como continuo um passo à frente, seguindo o meu caminho. Sei que meu destino é aquela Ilha, meu Porto seguro. Ela está lá, a minha espera &, espero chegar logo. Do que será que ela tem medo?

Talvez o medo seja inteiramente meu, ou mesmo a eterna sensação de que está faltando alguma coisa, ou de que não tenha aquilo que vejo diante dos olhos, ou mesmo imagino que seja ideal & que passe ao largo enquanto estou aqui, preso em minhas fantasias, em minhas alucinações, em meus delírios, com minha criação. Talvez esse meu moto-contínuo seja apenas criar, & recriar, & continuar a criando ad infinitum... Mesmo que tenha toda a eternidade pela frente, carregando esta sina com todas as sua marcas & mágoas.

Peixão89

Leves Fragmentos – 1999-2000

Peixão
Enviado por Peixão em 05/04/2010
Código do texto: T2179293
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