Marxismo - Karl Marx

MARXISMO – “... os filósofos sempre se preocuparam em interpretar a Realidade, é preciso agora transformá-la”. Karl Marx.

A palavra Marxismo significa o Pensamento de KARL MARX (1818/1883, Alemanha) e de seu fiel companheiro FRIEDRICH ENGELS (1820/1895, Alemanha) e, também, as várias Doutrinas que derivaram desse Ideário. Desse modo, para evitar confusões é comum o uso de dois nomes para indicar claramente sobre o que se está falando. São eles:

1. Marxismo = nome dado às doutrinas derivadas ou inspiradas no Pensamento da dupla de filósofos.

2. Marxiano = o Pensamento original de Marx.

Neste Ensaio usaremos o termo “Marxista”, seguido (ou não) da extensão que o remete à respectiva doutrina ou Pensador.

Esclarecemos, também, que neste tópico ou Ensaio abordaremos a Filosofia de Marx de forma geral. Os (as) interessados (as) em aprofundar-se no estudo sobre os “Conceitos Chaves” da ideologia poderão consultar os Apêndices nos final desse Dicionário*. Neles estão estudos e explicações detalhadas sobre a “Internacionalização do Proletariado”, a “Mais Valia”, a “Luta de Classes” e todos os demais pontos pertinentes. Além do apêndice sobre Marx, também existem os dedicados a Hegel, Lênin, Trotski e Mao Tsé Tung, que completam a abordagem sobre o assunto.

*Aos (as) leitores (as) pela WEB, esses apêndices encontram-se no Campo “Ensaio”, na Web Site: WWW.recantodasletras.com.br/autores/fabiovillela

Recomendamos, porém, a leitura desse Ensaio em primeiro lugar para que se possa apreciar a vista panorâmica da genial obra de Marx e, depois, sorver com facilidade aqueles pontos que são fundamentais e que estão dissecados nos Apêndices referidos. Queremos, ainda, alertar sobre a ocorrência de repetições de temáticas e de conceitos. São inevitáveis e por isso contamos com a compreensão do (a) leitor (a).

A obra de Marx não se limita ao campo da Filosofia Política. Estende-se em vários rumos, como o da Economia, o da Ciência Política, ou o da História etc. E, saliente-se, a sua influência nesses e noutros domínios em que militou mantém-se intacta ou progressiva em nossos dias. Exemplo prático dessa afirmativa ocorreu recentemente, entre 2008 e 2009, quando a Economia Mundial foi atingida pelas falcatruas ou negligências dos Financistas, mormente nos EUA. Instalada a crise constatou-se que o endeusado “Mercado” ou o “Capitalismo” são incapazes de corrigir os erros e crimes que cometem e o “Estado” teve que agir abrindo os cofres públicos para evitar o pior. Viu-se, então, revigorar o Pensamento Marxista e suas teses voltaram à grade de ensino de várias Universidades pelo Mundo, inclusive nos EUA e na Europa Ocidental. Outro exemplo é que a Ideologia Marxista, embora mutilada, ainda é o Regime de Governo para Bilhões de pessoas na China, Vietnã, Cuba e outros lugares menos citados.

É, pois, com essa importância que o Marxismo – também chamado de “Materialismo Histórico”, ou de “Materialismo Dialético”, ou de “Socialismo Cientifico (o titulo preferido de Engels)” – tem atravessado esse Tempo.

A filosofia de Marx parte de sua avaliação negativa sobre o Sistema Filosófico de Hegel (ver apêndice) e sobre o “Racionalismo”. Considerava que essas tendências, dentre outras, não atingiam a “Verdadeira” origem das idéias; ou seja, do modo de pensar, agir, sentir. Origem que para ele estava associada diretamente às condições materiais da Sociedade. À sua Economia, ao seu modo de acumular e de distribuir as riquezas produzidas. Quanto melhores essas Condições ou Situações, melhores são os Sistemas Intelectuais, Morais e Políticos. Obvio que o inverso é verdadeiro. Assim, boas condições materiais produzem boas abstrações e essas, por sua vez, propiciam um contínuo progresso nas condições de vida dos Homens que vivem nessa Sociedade. Um verdadeiro “Círculo Virtuoso ou Positivo”.

Não são raros os comentários acerca dessa constatação, quando se diz que Marx apenas observou o obvio. Não deixam de ter lógica, como são lógicas as contraposições: por que se teve que esperar, então, o seu florescimento para que tais Situações fossem estudadas? Se são tão obvias, por que ninguém nunca as modificou? É, talvez, aqui o ponto onde melhor se pode observar a genialidade do filósofo: descobriu o evidente. Evidente, claro, depois dele.

Para Marx e Engels, como já mencionado, a Filosofia até então só tentou explicar o Mundo, pois as Teses, as Antíteses, as Idéias, os Sistemas Teóricos etc. ficavam no plano abstrato, ou mental, ou intelectual, ou “espiritual”, sem considerar que todas essas abstrações, ao cabo, são produzidas e abrigadas por um corpo físico, concreto. Daí, aliás, surgiu a célebre máxima de Marx: “vamos colocar o Homem de Hegel de cabeça para baixo”; ou seja, com essa ironia, anunciou que suas Propostas visavam mais “os pés” dos Homens, ou a sua situação ou condição material, a sua concretude. Com ele e com Engels, o Estudo Privilegiado deixaria de ser a “cabeça”, ou as abstrações mentais ou “espirituais”.

Seria preciso, portanto, analisar (para depois mudar) as Condições ou Situações Materiais da Sociedade. Como ocorriam o acúmulo e a distribuição das riquezas, qual a relação que havia entre os grupos ou “Classes” que formavam aquela Comunidade. Como aconteciam os relacionamentos entre os donos dos “Meios de Produção ou de Capital (fábricas, ferramentas, terras, dinheiro etc.)” com aqueles que só tinham a “Força de Trabalho” para vender; isto é, o Proletário. Seria, pois, necessário estudar o Capitalismo* a fim de mostrar sua natureza (seu jeito de ser) malévola por se apoiar na exploração do Homem por outro Homem. Entender como acontecia e, principalmente, como terminar com essa “semi-escravidão” imposta pela Burguesia ao Proletariado.

Aqui começa sua diferença efetiva com outros Filósofos, pois seu Pensamento não se limitou ao estudo teórico, mas buscou estabelecer normas reais, factíveis, para que cada individuo adquirisse certo comportamento político que o faria um agente da insurreição, a qual visava, no fim, a instauração da Revolução que destruiria o que restasse do (autofágico) Capitalismo e ergueria o Socialismo ou o Comunismo tornando sua comunidade uma Sociedade “Sem Classes”. Sociedade que liberta das amarras das antigas convenções sociais e/ou das crendices e superstições religiosas avançaria ao ponto de se autogovernar, tornando o “Estado” inútil e fadado ao desaparecimento.

A Teoria de Marx e Engels inspirou várias correntes ou “subteorias” que, grosso modo, podem ser divididas em:

1. Políticas

2. Teóricas

É certo que sempre existiu um entrelaçamento entre ambas e é quase impossível dizer que uma seja só Política e outra só Teórica, mas mesmo com essa dificuldade é possível traçar o quadro a seguir:

CORRENTES POLÍTICAS –

a. Marxismo-Leninismo, ou Leninismo*; ou Marxismo Ortodoxo, ou Materialismo* Dialético ou Histórico. É a tendência que se tornou a Doutrina Oficial na ex União Soviética, após a Revolução de 1917.

b. Trotskismo – de Trotski (ver apêndice) que defendia a tese da “Revolução Permanente”.

c. Stalinismo – de Stalin (ver apêndice), o sucessor de Lênin no Comando do Governo Soviético. Em oposição ao Trotskismo enfatizava a doutrina do “Socialismo em um País”.

d. Maoísmo – de Mao Tsé Tung (ver apêndice) que chegou ao Poder na Revolução Chinesa de 1947.

CORRENTES TEÓRICAS:

a. KARL KAUTSKY (1854/1938, Alemanha) que foi um dos principais seguidores de Marx e que defendia um Marxismo Revolucionário contra os chamados “Revisionistas (aqueles que propunham “Revisar” as condições, sem a extinção total do Regime anterior. Propunham, pois, revisões dentro do contexto já estabelecido. Reformas superficiais, sem o poder de alterar a essência do mau governo que seria substituído).

b. GEORG LUKÁCS (1885/1971, Hungria), um dos “Revisionistas” citados no item anterior, que propunha que Marx fosse interpretado de modo a valorizar as raízes “Hegelianas” do mesmo. Isto é, o quanto Marx foi influenciado pela Filosofia de Hegel.

c. KARL KORSCH (1889/1961, Alemanha), também “Revisionista” e enfático defensor da base filosófica que, segundo ele, existe na Teoria Social e Política de Marx.

d. AUSTRO-Marxismo – de MAX ADLER (1873/1937) e outros. Tendência que acrescentava noções e idéias de Kant (1724/1804, Alemanha) ao modo como interpretavam a obra de Marx.

e. ERNST BLOCH (1885/1977, Alemanha) que acrescentou o Marxismo, enquanto sistema, ao Idealismo* alemão.

f. ANTONIO GRAMSCI (1891/1937, Itália) que fundou o Partido Comunista Italiano e desenvolveu uma Filosofia da “Práxis”; isto é: o termo “práxis” vem do grego e significa, em sentido geral, prática, ação, atividade. No Marxismo de Gramsci é a tentativa de estabelecer, seguindo a ótica Socialista, um conjunto de ações humanas que propiciem à criação das condições ou situações concretas que são indispensáveis para a existência da própria Sociedade (Socialista).

g. LOUIS ALTHUSSER (1918/1990, França) que interpretou o ideário de Marx sob a ótica do Estruturalismo*.

h. JEAN PAUL SARTRE (1905/1980, França) que enfatizou a similaridade do “Materialismo Marxista” com a tese do Existencialismo*, ressaltando que em ambos a Existência concreta, material vincula-se diretamente à matéria.

i. ESCOLA DE FRANKFURT – com os filósofos: ADORNO, HORKHEIMER, BENJAMIM e, depois, MARCUSE e HABERMAS. Aqui a análise central recai sobre a Sociedade Industrial, sobre o Capitalismo avançado e sua produção Cultural que, segundo ADORNO, principalmente, está em acelerada degeneração em virtude da substituição da “Arte” pelo “Entretenimento”.

É claro que aqui não se esgotam as sub tendências existentes, mas acreditamos serem as que expusemos as mais significantes. Em comum, além, claro, da ideologia Marxista, essas Correntes tem o conflito entre si. Todas em oposição a todas e cada qual afirmando pertencer-lhe a linha de Pensamentos que mais se aproxima do original marxista. Algumas enfatizam o aspecto Econômico, outras o Político, outras a Análise Histórica e, por fim, aquelas que enfatizam o “caráter filosófico” da Doutrina. Enquanto algumas destacam a influência que Hegel teria tido sobre Marx, outras destacam a independência do último em relação ao primeiro e a “visão revolucionaria” do Marxismo. São, ao cabo, alternativas que a riqueza intelectual do Marxismo permite. A vastidão e a abrangência do Pensamento marxista ensejam essas divisões e óticas, o que, em último, reforçam a importância do mesmo.

Recorte – recomendamos aos (às) interessados (a) em aprofundar seus estudos sobre os filósofos que até aqui foram citados, que acessam o Blog abaixo, cujo titular (Estudante da Unicamp, São Paulo, Brasil) é especializado nessas personalidades do Pensamento político e social.

HTTP://blusamarela.blogspot.com

Aos debates citados acima e que continuam a existir, acrescenta-se o questionamento sobre a atualidade da Doutrina de Marx; isto é, se Marx continua válido nos dias atuais, ou se as mudanças no Capitalismo, imprevistas por elas, e conseqüentemente na Sociedade, fizeram de suas teses algo de valor apenas histórico. Uma valiosa relíquia sem significado prático nos dias atuais.

Recorte - não cabe ao autor deste Ensaio assumir a defesa de nenhuma das opiniões, mas devo registrar minha experiência pessoal: textos anteriores a este, de minha autoria, que versavam sobre a matéria atingiram uma cifra inesperada de leitores. Se tal interesse tem viés prático ou se é mera curiosidade histórica não sei dizer, mas pude comprovar que Marx, enquanto personagem, é atualíssimo. Quanto às suas Teses deixo ao critério dos (as) leitores (a).

Por fim, registramos o termo “Neo Marxistas” que é utilizado por várias Correntes que defendem a validade do Marxismo, desde que seja adaptado para as condições atuais.