Uma Viagem no Tempo (Celismando Sodré Farias -Mandinho)
UMA VIAGEM NO TEMPO
(Celismando Sodré Farias-Mandinho)
Se fosse possível viajar em um túnel do tempo até a Grécia Antiga, com suas colônias e suas Cidades-Estados, à época do seu esplendor cultural, onde e quando viveram os grandes filósofos, que ao mesmo tempo era tão tumultuada e cheia de disputas e conflitos, seria uma Odisséia semelhante a de Ulisses, que teve que passar por tanta provação na sua volta de Tróia para seu reino em Ítaca, como esta descrito na Odisséia de Homero, uma experiência fascinante para a vida de qualquer pessoa interessada em como se deu a evolução do pensamento humano e da cultura ocidental.
Primeiramente, dar uma espiada em Esparta, uma cidade guerreira e fechada, com sua hierarquia social e militar rígida, que formava valentes soldados a serem preparados para a defesa, e ver o grande Rei Leônidas com seus trezentos soldados a combaterem o exército persa do rei Xerxes, que queria invadi-la e teve que enfrentar uma resistência heróica no desfiladeiro das Termópilas. Com seu exército infinitamente superior, esse rei viu os espartanos lutarem bravamente até não resistir mais.
Em Olímpia, ver como eram realizadas aquelas competições esportivas maravilhosas que deram origem as olimpíadas modernas, tão respeitadas e valorizadas na época, que as guerras e os conflitos chegavam a ser suspensos durante o tempo em que eram realizadas. Os heróis vencedores eram recebidos com honras e glórias pelo povo de suas respectivas cidades.
Chegar a Tróia, onde segundo Homero ocorreu um dos mais polêmicos conflitos do mundo antigo, causado por uma mulher que foi raptada e disputada por dois reis guerreiros apaixonados, que a disputaram até o limite de suas forças, causando morte, dor e sofrimento para milhares, como esta descrito na Ilíada também de Homero. Teria sido verdade a história de uma das maiores armadilhas de guerra de todos os tempos, o presente não recusado e os soldados dentro de um enorme cavalo de pau a sair e surpreender o inimigo?.
Observar como eram os ensinamentos do mestre Aristóteles, contratado pelo rei da Macedônia que conquistou a Grécia, Felipe II, para ensinar o herdeiro ao trono sobre política e filosofia, contribuindo com a formação do seu filho, o jovem Alexandre, que não era, ainda, ”o grande” e chegou ao poder com apenas vinte anos de idade, criando um império imenso, fundou tantas cidades e dentre elas Alexandria, que entraria para história com um nome em sua homenagem. Ele criou o maior império daqueles tempos belicosos e gloriosos, espalhando a cultura helênica pelo mundo, contaminado pelos ensinamentos e pelas idéias do mestre Aristóteles sobre a filosofia grega.
Em Alexandria, fazer uma visita a maior biblioteca da antiguidade, construída naquela cidade e que chegou a ter cerca de quatrocentos mil volumes, outros falam em até oitocentos mil, seus livros manuscritos continha quase todo o conhecimento cultural e científico acumulados até então, por isso que sua destruição no século VII depois de Cristo, representa um dos maiores crimes culturais da história da humanidade, foi aí que um geógrafo e matemático chamado ERASTÓSTENES, que chegou a ser seu diretor, já convicto da esfericidade da terra e com a ajuda do conhecimento que ali já existia, calculou com uma impressionante precisão a circunferência da terra.
Este calculista de grande perspicácia, Erastóstenes, ao ler em um papiro descobriu que ao meio dia de solstício de verão na cidade de Siena ( Egito ), os raios solares incidiam no fundo de um poço de forma perpendicular, sem sombra, ele resolveu medir no mesmo dia e horário exato em Alexandria, usando uma estaca, o ângulo formado entre os raios solares que ali não eram perpendiculares, o que projetou uma sombra de sete graus. Como ele sabia que a distancia entre as duas cidades era de cinco mil estádios ( cerca de 900 Km ) ele deduziu que a circunferência da terra era igual a essa distancia ( 900 Km) mutiplicada pelos 360 graus da circunferência e dividida pelos sete graus. Calculado hoje com métodos mais precisos, a diferença é bem pequena. Fez tal proeza há mais de 2.300 anos atrás, utilizando apenas a mente e uma estaca, sem o auxilio das modernas tecnologias que existe na atualidade.
No Museu de Alexandria, apreciar Euclídes lançar as bases da Geometria, fundamentada nos estudos de Pitágoras, ver Arquimedes contribuir através dos seus cálculos com a evolução da Matemática, construindo também, incríveis máquinas de guerras para defender sua querida Siracusa (sua cidade natal) da invasão romana por vários anos, e Aristarco mirar seus olhos para o espaço numa curiosidade tamanha para entender o cosmo e impulsionar a Astronomia daquele tempo. Apreciar a forma como Ptolomeu construiu seu modelo de universo com a terra no centro, aceito por vários séculos até a inteligência e o senso de observação de Copérnico e Galileu romper com esse paradigma.
Visitar as principais Cidades-Estados gregas, onde a vida fervilhava, cada uma com sua autonomia, suas leis e seus governos próprios: Tebas, Odessa, Corinto, Mileto, onde teria vivido Tales o primeiro filósofo, Delfos onde as pessoas iam consultar seu famoso Oráculo e tantas outras e depois parar naquela que foi o símbolo da democracia, cidade de um grande desenvolvimento artístico, cultural e intelectual, a espetacular ATENAS.
ATENAS... a própria menção do seu nome já desperta curiosidade. Por que razão esta cidade se tornou tão especial para a filosofia e por que razão o espírito investigativo alçou vôos tão altos pelos céus do conhecimento nessas paisagens, que espécie de toque mágico teria incendiados os neurônios dos filósofos e pensadores que viveram nessa cidade?. Mesmo depois de tantas explicações, como o fato de ter sido uma cidade aberta à troca de idéias, ponto estratégico e centro comercial privilegiado, onde teria ocorrido um rico intercâmbio comercial, palco da primeira experiência democrática da antiguidade, local de encontro de diversos povos com suas visões de mundo diferenciadas, mesmo assim esta pergunta ainda ecoa pelo ar: por que foi lá e não em outro lugar?
Ao continuar nossa inusitada viagem pelo tempo, em direção ao passado, seria interessante assistir a todo processo de julgamento e condenação a morte por envenenamento do filósofo Sócrates, a agonia dos seus discípulos diante da possibilidade de perder o mestre, tentando convencê-lo a fugir diante de tamanha injustiça para não tomar o fatal cálice cicuta, um veneno mortal que lentamente provocaria a paralização de suas funções vitais até a morte, o mesmo irredutível aceitando o seu trágico destino, acontecimento que levou Platão a afirmar que tal injustiça foi “ a primeira morte da filosofia”.
Presenciar a época das reformas implantadas em Atenas por Clístenes que consolidou a democracia, aperfeiçoada depois por Péricles que modernizou a cidade, construindo templos e teatros e estimulou a arte e a literatura, foi no governo dele que a civilização clássica grega atingiu seu apogeu. Ver o Partenon na Acrópole onde vários arquitetos trabalharam se destacando o maior deles, FÍDIAS.
Porque não dar uma olhada no que estaria fazendo o velho Hipócrates, certamente medicando os seus pacientes com os poucos recursos da época, com dignidade, respeito, responsabilidade e ética, ele que escreveu o mais belo juramento profissional da história, tão belo e profundo que é válido até hoje, para os que exercem a medicina, mesmo sabendo que muitos médicos não o cumprem mais, preferindo a ganância e a hipocrisia.
Não custaria também dar uma espiada na famosa Batalha de Maratona, entre os Atenienses e os Persas, observar como eles se confrontaram com uma ferocidade tamanha, acompanhando se foi verdade ou lenda a história que contam que o soldado Pheidippides, eufórico, realmente correu da planície de maratona até Atenas, numa distancia de aproximadamente quarenta quilômetros, para relatar aos seus compatriotas a vitória dos gregos de Atenas sobre os persas, chegando tão estafado e ofegante de cansaço, que depois de dizer “vencemos!! “ esgotado, caiu morto na assembléia.
Em uma das maiores e mais famosas batalhas navais da antiguidade, a de Salamina, ver os Atenienses, com menor quantidade de navios, derrotar os persas usando estratégias de combate com extrema inteligência, relatada tão detalhadamente por Heródoto “o pai da História”, que relatou tantos acontecimentos reais misturados com lendas. Ouvir, também o outro grande historiador grego Tucídides a escrever de forma detalhada, realista e imparcial, como convêm a um verdadeiro historiador, sobre a Guerra do Peloponeso, o maior conflito entre as duas principais cidades gregas: Atenas e Esparta, pelo controle hegemônica das outras cidades da Grécia.
Sentar nas arquibancadas do grande Anfiteatro de Epidauro, um dos maiores monumentos culturais do seu tempo, que ainda esta lá no peloponeso, dizem ter uma acústica tão perfeita, que o som de um alfinete jogado no chão do palco, podia ser ouvido nas bancadas mais distantes da platéia, lá no alto. Assistir as peças trágicas de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes ou as comédias de Aristófanes, apreciando a maneira como esses autores revolucionaram a forma de fazer teatro, peças essas que são encenadas com sucesso desde aquele tempo até os dias atuais.
Se não é possível fazer essa viagem em um túnel do tempo de forma real, pode-se fazer através das leituras sobre a história da Grécia Antiga, pesquisar sobre as profundas idéias e doutrinas dos filósofos e pensadores, as invenções e as descobertas dos cientistas desta incrível civilização que moldou o mundo, as obras clássicas de Homero e Hesíodo, estudar o caráter fantástico de sua riquíssima mitologia, utilizando também a imaginação e a investigação, só depende de cada um. Portanto, embarque nessa viagem e tenha bons conhecimentos
Do Novo Livro do Autor : Fragmentos Filosóficos e Outra Histórias