Leves Fragmentos Solitários - XXIX

Ah! O que seria de nós, se não pudéssemos aproveitar o bom da vida?

E tirar proveito de cada momento, de cada movimento, de todos os sentidos, de todas as palavras.

Era para ser uma saída normal para o almoço. A espera de sempre, o mesmo charme, para ouvir que sempre deixo alguma coisa para fazer. Um xixi de última hora. Outro recadinho. Mais risadas até o elevador chegar. Cigarro na boca, esperando que a porta se abra para o saguão do térreo. Isqueiro na mão, com a incontrolável vontade de fazer brotar uma nova chama. Risadas & conversas dispersas, & aquela chuva. Era para ser uma saída normal para o almoço, mas você tinha que passar no caixa eletrônico. Saímos com a chuva, debaixo do pobre guarda-chuva, salvador com certeza, caminhando calmamente pela calçada, afinal, eu com dois joelhos baleados & você com um salto grande, nunca poderíamos entrar na correria dos outros. Você segurando meu braço ia se deleitando com tantas bobagens que falava, se respingando com a chuva. Guarda-chuva pequeno sempre dá nisso. Atravessamos a rua para alcançar o tal caixa, & você me convida para entrar também. Lógico que entro, sentindo de perto o frescor do seu cabelo, o chamado de seus beijos. Operação financeira executada a toques extras entre suas pernas, sentido todo o calor do seu corpo, sempre pulsante, & outros tantos beijos. Em sobressalto, saímos rindo a caminho do restaurante para mais um almoço. Devaneios sobre outros assuntos na rápida refeição, para saborearmos um café no andar debaixo. Mais um toque em suas mãos, outro cigarro, saboreando cada momento, com uma tempestade explodindo lá fora. Cá dentro, nossas entranhas saltando de tesão, com olhares cúmplices, & a mente viajando para nossa Ilha encantada. Ah! Vamos voltar ao trabalho. Uma ova! Saímos recolhidos num táxi, direto para o Loft. Saímos, para perder toda & qualquer noção da realidade.

Peixão89

Leves Fragmentos – 1999-2000