Leves Fragmentos Solitários - XII
É engraçado, depois de passar momentos mais do que agradáveis, de ficar na plenitude mais que absoluta do prazer, tenhamos sempre que providenciar a volta ao juízo. Sinto-me até desagradável de ficar sempre lembrando disso, como se fosse uma imposição minha, contra toda a vontade do mundo que temos de ficar ali, parados, abraçados, juntinhos, sentindo um, a respiração do outro, trocando pequenas carícias, muitos beijos, tentando recuperar o fôlego que acabamos de perder, buscando um pouco de força & de paz, em meio a toda loucura que estamos vivendo. Com certeza, é a mais pura sacanagem que estamos praticando, buscando um algo mais que nos falta. Será que nos falta alguma coisa? Sim, acredito. Nos falta aventura, muita aventura, nos falta sempre um algo mais, que buscamos em cada instante, nos falta compreensão, que sempre achamos que temos pouca. Nos falta espaço, mais espaço. Somos ambiciosos, sim, somos. Nunca estamos conformados com o que temos. Não menosprezamos nada. Tudo aquilo que foi alcançado é por demais importante, mas queremos mais, muito mais, sempre mais. Nosso objeto de desejo é a busca pelo não-conformismo, nunca nos conformamos. A Patinha diz sempre que tem que aproveitar todos os momentos em que está viva, para viver com toda a intensidade que esta pode lhe proporcionar. E se tiver que descansar em algum momento, terá, depois de aproveitar bem a vida, toda a eternidade para descansar. Acredito que esse é o melhor caminho. Já passei muito tempo olhando a vida passar, & deixando algumas pequenas coisas de lado. Hoje sou como um predador. Tudo que passa à minha frente tem importância. Cada assunto, cada movimento, cada olhar, os carinhos da Patinha, toda a sua paixão, o seu tesão, livros, música, shows, filmes, diversão, pratos variados, muita risada, & o que é mais importante, sem esquentar a cabeça com absolutamente nada. Tudo é festa. Levando a vida na boa, curtindo a vida adoidado, como no filme, fazendo tudo que dá na “telha”, & me divertindo. Acredito que para a Patinha, também sou uma diversão. Não no sentido pejorativo da coisa. Diversão. Podemos cometer abusos, até é possível, mas quem já não cometeu abusos com a nossa boa vontade. Temos milhares de exemplos particulares desses abusos. Quantas vezes não fomos surpreendidos com vontades de outros, com quem compartilhamos a vida, ou mesmo o trabalho, & que se aproveitaram de nossa boa vontade. Fico sempre pensando se estou agindo errado. Certo, na verdade também não. Mas onde está o erro?
Gostar de alguém, amar essa pessoa, se sentir bem com ela, ter tesão por ela, passar momentos agradáveis, seja em uma conversa no ponto de ônibus, não é pedir demais. Caso contrário, a quem estaríamos enganando, se não a nós mesmos. Deixando de lado uma experiência única. Só se fossemos imbecis.
Peixão89
Leves Fragmentos – 1999-2000