O Quintal Ameaçado ou A Terra Não Suporta Tanta Gente

Imagine-se o quintal de uma família. Nele há alguns pés de frutas, uma hortinha, um pequeno bosque e um riacho que fornece a água necessária. Toda a família tirará dele o suficiente e ainda poderá guardar o que não foi consumido. Quanta felicidade!

Como imaginar é excelente exercício, imagine-se ainda o mesmo quintal com as mesmas frutíferas, a mesma horta, o mesmo bosque e o mesmo riacho para atender às necessidades da família já multiplicada e dividida em outras famílias. Percebe-se de imediato que não só não haverá o que guardar, como alguns desses familiares já não terão o suficiente para si.

Tudo bem! Eles podem acabar com o bosque e plantar mais árvores frutíferas. Aproveitam a madeira do bosque para as suas necessidades, e as frutíferas novas tratam-nas com fertilizantes; podem ampliar a horta e usar inseticidas químicos para não terem a competição das lagartas, dos gafanhotos e das outras pragas; eles podem abrir poços... Pronto! Todas as famílias poderão ser atendidas com fartura.

_ Ei! mas onde é que morará toda essa gente, se vamos plantar mais árvores e ampliar a horta, mesmo acabando com o bosque?

Imagine-se os prédios com seus muitos andares; isto não comprometerá o espaço que precisam para produzir alimentos. E passam os anos, todos levando muito a sério o bíblico “crescei e multiplicai-vos”.

Alto lá! Nem a imaginação mais fértil, com todas as atitudes “sustentáveis” que a criatividade lhe apontar, poderá livrar essa gente imaginada da sinuca que está sendo armada, a menos que lhe seja concedido um privilégio: o de poder fazer crescer o quintal.

É verdade que a imaginação é livre e desconhece barreiras. Acontece, porém, que as coisas tomam outro rumo quando saímos do universo das metáforas.

O quintal que se pediu imaginar não é outro senão a Terra. Isto basta para, finalmente, depois dos exercícios de imaginação propostos o autor conseguir dizer o que quer. E tudo lhe fica facilitado, reconhece, uma vez que o tema é eloqüente e encerra em si toda uma carga de convencimento: A Terra há muito que não suporta mais tanta gente!

A abundância e os desperdícios que as grandes cidades ainda permitem aos que nelas vivem têm funcionado como conveniente filtro que cega e impede que se veja os milhões de homens e mulheres de todas as idades que já passam fome, que já não têm água para beber, que há muito não dispõem daquele mínimo que lhes asseguraria a humana dignidade.

O problema não está, portanto, no tamanho da área. Sabendo que o quintal não pode ser aumentado muito além do que a tecnologia permitiu, a razão principal dos problemas está no tamanho da família, que precisa ser reduzido drasticamente. E não há mágicas.

As fomentadas atitudes de sustentabilidades que nada sustentam, a redução das emissões de CO2 e outros gases, esses encontros dos poderosos do mundo que assinam ou não assinam protocolos, nada disso é mais que cortina de fumaça, medida paliativa para esconder a principal mas desconfortável questão: o tamanho da população humana que a Terra já não suporta.

Gilmar Barcellos
Enviado por Gilmar Barcellos em 28/02/2010
Reeditado em 02/03/2010
Código do texto: T2112095
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