População, Cidades e Desastres Ambientais

Merece destaque e a nossa melhor atenção a recorrência sucessiva de eventos severos por que a natureza se manifesta, como a exigir uma pausa para reflexão sobre as humanas práticas. Se é verdade que terremotos, tsunamis, enchentes, furacões, ciclones e tempestades sempre ocorreram, é verdade, também, que nos últimos meses grandes desastres vêm se reproduzindo de modo sucessivo e não demonstrando preferências geográficas. Os deslizamentos em Angra dos Reis-RJ, o terremoto em Porto Príncipe, a chuva destruidora no Funchal são bons exemplos que ilustram esta observação.

E não é só à ausência de planejamentos urbanos ou àqueles que, implementados, não levaram em conta a força da natureza, que se deve atribuir a responsabilidade pelas perdas e pela destruição sempre causadas pelos cataclismos naturais; o melhor planejamento pouco mudaria no quadro diante da manifestação de força da natureza, e por uma razão bem simples: qualquer planejamento precisaria contemplar as necessidades de uma população humana que já não é natural. A estranha obsessão que o homem tem de tudo dominar, tudo manipular, a tudo submeter pela imposição da sua inteligência (obsessão que sempre foi estimulada e tida por virtude) também é causa do que vamos sofrendo e assistindo por conta desses desastres naturais que se tornam tragédias, independente da recorrência já referida.

Nossas cidades não são naturais(1) e é justificado que não sejam. Com a finalidade de abrigar e suprir as necessidades de uma população que há muito deixou de ser natural; em nome de um desenvolvimento dito sustentável (como se o século XXI permitisse conciliar nas cidades desenvolvimento com sustentabilidade, apesar de todo o blablablá acadêmico que já referi noutro lugar), elas são construídas desconsiderando a natureza. Impermeabilizam os terrenos, poluem o ar, a água e o solo, em síntese, destroem os ambientes naturais e os elementos de equilíbrio que comportam.

Eis algumas das manchetes de ontem(2) pinçadas aleatoriamente: Ressaca no Leblon-RJ e em São Vicente-SP; deslizamento em Dewata-Java; enchente em Gaza; mau tempo no Cairo-Egito (com mortos e feridos); forte temporal com enxurrada em Belo Horizonte-MG.

A menos que a teoria da Terra Oca(3) seja verdadeira, a menos que a aventura espacial descubra uma nova Terra e permita que a superpopulação humana seja dispersa por aí, e reinicie a experiência do excesso de gente, há que se admitir, sem nenhum crédito à futurologia, que outros desastres se dão recorrentemente e com intervalos cada vez menores entre si; e porque é demasiada a população, seus efeitos serão severos e destrutivos.

(1) A expressão natural não é antônima de construído; seu significado é de em equilíbrio e/ou harmonia com a natureza.

(2) Fonte: UOL (http://noticias.uol.com.br) em 26/02/2010.

(3) Mais informações em http://www.umanovaera.com/terra_oca.htm

Gilmar Barcellos
Enviado por Gilmar Barcellos em 27/02/2010
Reeditado em 02/03/2010
Código do texto: T2110240
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