Leves Fragmentos Solitários - II
Domingo.
Mais um dia de chuva nesse fevereiro de 2000. Como chove nesse princípio de ano. Lógico, o radinho está ligado, tocando Led Zeppelin, Stairway To Heaven. Estou esperando o almoço, é mais de meio-dia e talvez ainda tenha que ir ao supermercado para comprar alguma coisa. Coisas de domingo. Quase todos os domingos têm sido assim. Meio ócio, meio corrido. Faz tempo que não vou na quadra, rever alguns “amigos”. Faz algum tempo que não falo com o meu compadre Guina, faz tempo que não faço um monte de coisas. Faz tempo que tento escrever coisas novas & reescrever tudo aquilo que tenho do passado. Faz tempo que ela fica meio de lado. Faz tempo. Faz tempo que venho me dedicando a minha ilha, onde encontro mais conforto para os desconfortos do dia-a-dia.
Agora está tocando Queen, Bohemia Rapsody. Uma música linda que me remete para um passado próximo, onde algumas alegrias & bem poucos compromissos faziam a vida um pouco mais simples. Hoje também, continua super simples, porém, estamos carregando uma convivência de muitos anos.
Algumas coisas tornam-se pertinentes, outras impertinentes, causando os sabores diferenciados que toda convivência deve ter. Nem tudo deve ser assim certinho, redondinho, normal, rotineiro. Por que senão fica tudo muito chato. E já existem chatos demais no mundo, para que você tenha até uma vidinha chata & com tudo sempre muito igual.
Guns’N’Roses é a próxima música. Ainda preciso comprar um CD desses caras. Toca uma balada muito legal deles. Mais um cigarro, mais umas batidas no teclado. O almoço está quase pronto. Escuto do quarto, o movimento da cozinha. De novo o telefone tocando. Só espero que não invente de ficar saindo debaixo dessa chuvinha chata que está lá fora.
Ontem assisti aquele filme “Coisas para se fazer em Denver quando se está morto”. Muito legal. Merece um bom texto, mas fiquei meio sem o que dizer. Mas o que marcou, foi o sentido de amizade que o filme, em alguns momentos passa. Ouvindo o papo telefônico, fico aqui imaginando o que tanto esse pessoal tem que falar. Colocando em dia, todos os dias, dia após dia, conversar cotidianas. Fico com severas reservas com esse tipo de conversação. Parece até que as pessoas gostam de ficar cuidando da vida dos outros, via telefone. Que sintam uma necessidade, mais que premente, de manter as relações interpessoais sob controle. Não gosto desse tipo de controle. Não interfiro na vida de ninguém. Também não admito que interfiram na minha. Muito menos ainda, tentando controlar os meus passos. Minha vida é minha, & de mais ninguém.
Acho que hoje estou um pouco amargo. Talvez seja uma ponta de solidão que bateu um pouco mais forte. Talvez seja a impossibilidade de estar com alguém que viesse me satisfazer de forma mais imediata. É, estou sentido a falta de sexo. De mais carinho. De mais atenção.
Depois do almoço, está na cara, estou aqui batucando de novo. Escutando “Easy”, aquela música dos Commodors, mas com outra banda. Isso me leva a um período mais distante. Me leva para o ano de 1978, até um pouco antes, quando rolava esse som em todas as discotecas da época, para você dançar de rosto coladinho.
Peixão89
Leves Fragmentos – 1999-2000