Literatura e estudos culturais: refletindo com Jonathan Culler

Em seu livro “Teoria literária: uma introdução” (1999), Jonathan Culler, sobretudo quando se objetiva falar sobre “Literatura e estudos culturais” estabelece o seguinte pressuposto: o campo dos estudos culturais à medida que vem sendo desenvolvido tendo como pedra de toque uma inevitável prática de sentidos é tão interdisciplinar e tão difícil de ser definido quanto a própria teoria. É perfeitamente compreensível que a teoria enriquece profundamente o estudo das obras literárias. Entretanto, quando a “teoria” é qualificada como teoria de (algo) acabamos por estabelecer, por sua vez, que o que compreendemos com isso é que esse desenvolvimento não se dá como algo distinto e distanciador, isto é, literatura versos estudos culturais. Segundo o autor ocorre exatamente o contrário disso.

“Teoria é a teoria e estudos culturais é a prática” (Culler, p.48). O que se desenvolve na área de estudos culturais, na verdade, é perfeitamente fundamentado e dependente dos resultados dos debates teóricos significativos sobre identidade e representação. Assim, não é possível concebermos teoria como algo desvinculado da produção e práticas de sentido, quer dizer, do que se entende como estudos culturais e literários.

A relação existente entre literatura e estudos culturais se dá no seguinte ponto: “o projeto dos estudos culturais é compreender o funcionamento cultural” (apud, p.49). Dessa forma, os estudos literários surgem como abrangência desse estudo devidamente responsável pela produção de sentidos. Nesse ponto, a literatura é, segundo Culler, uma prática cultural específica.

Os estudos culturais modernos nasceram de dois pontos específicos e abrangentes. Primeiro desenvolvidos pelo estruturalismo francês dos anos 60 que encarava a literatura como práticas que deveriam ser esmiuçadas, isto é, descritas. Ao descrevê-la o estudioso perceberia sua estrutura e suas “implicações sociais”. O segundo ponto de desenvolvimento desses estudos culturais contemporâneos é marcado pela teoria literária marxista na Grã-Bretanha. A ênfase dessa teoria estava na preocupação em resgatar a cultura operária popular. Para os estudiosos dessa corrente de pensamento era preciso ver a cultura popular como expressão do povo como também dar voz aos marginalizados.

Posto isso, não é necessário haver conflito entre essas duas grandezas, a saber, os estudos culturais e literários. Isso porque os estudos literários não têm como característica de estudo a “concepção do objeto literário” que os estudos culturais devem repudiar. Estes últimos surgiram como preocupações analíticas literárias de outros materiais culturais.

Para Culler a relação entre esses campos de estudo se agrupam em dois pontos bastante amplos: os cânones literários que são obras estudadas nas escolas e universidades e também a forma ou o método de estudo de objetos culturais. Uma coisa não repele a outra. O que acontece é que a teoria revigorou o cânone literário, quer dizer, possibilitou formas distintas de ler as “grandes obras”. Os estudos culturais também marcado por essa teoria tratam os artefatos culturais como textos que, por sua vez, devem ser lidos, mas não como objetos a serem contados sem essa devida preocupação.

Os estudos culturais, por sua vez, aumentam as questões que diz respeito a certas obras literárias. A preocupação aqui reside no fato de que a literatura parece estar num contexto social e, por isso, a sociedade também deve ser analisada como um todo. Assim, acompanhou – sem dever seu início a esse ponto – os cânones literários.

Posto tudo isso, compreendemos que literatura e estudos culturais não devem ser pensados de forma isolada. Antes, um contribui para o desenvolvimento do outro na medida em que literatura e cultura não destoam da preocupação em compreender uma realidade que é abrangente e perceptível.

Referência

CULLER, J. Teoria literária: uma introdução. Trad. Sandra Vasconcelos. São Paulo: Beca Produções Culturais Ltda, 1999.

Leon Cardoso
Enviado por Leon Cardoso em 25/02/2010
Reeditado em 18/09/2020
Código do texto: T2107578
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